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Conheça Niihau, a ilha proibida do Havaí

Conheça Niihau, a ilha proibida do Havaí

Um dos 50 estados norte-americanos o Havaí  é, antes de mais nada, um sonho de consumo para muitos. Em outras palavras, um  arquipélago tropical ‘paradisíaco’ bem no meio do Pacífico. Não à toa, o carro-chefe da economia é o turismo. Com 20 mil quilômetros quadrados, e 132 ilhas, só em 2019 o estado recebeu cerca de 10 milhões de turistas que  gastaram US$ 17,75 bilhões, segundo o www.hawaiitourismauthority.org. Entre suas muitas atrações estão as praias, algumas com ondas monumentais; uma vegetação espetacular, vulcões ainda ativos,  exuberantes vales repletos de cachoeiras, sem falar do povo original, os míticos polinésios. O berço do surf desde sempre encantou os Europeus que por lá chegavam. Mas, você já ouviu falar da ilha proibida, ou seja, Niihau?

Niihau
A Ilha proibida. Imagem, www.tourist-destinations.com.

Uma cápsula do tempo ainda hoje

Niihau tem muitos ‘apelidos’, ao mesmo tempo ‘Ilha Proibida’, ou ‘Cápsula do Tempo’. Por quê? Porque de fato ela pode ser as duas coisas ao mesmo tempo.

Uma história fascinante que começou ainda em 1864 quando a viúva de um capitão escocês, Francis Sinclair, de nome Elizabeth McHutchison Sinclair comprou a ilha do rei havaiano Kamehameha V, por US$ 10.000 em ouro. Desde então a pequena Niihau, a apenas 27 quilômetros da costa de Kauai, está fechada ao público.

Elizabeth saíra da Nova Zelândia com seus filhos para se estabelecer no Havaí. Segundo New York Times, ela pretendia estabelecer um rancho em Niihau e a viu como um lar ideal para sua família. Contudo, antes de fechar a venda Kamehameha fez um único pedido.

Niihau em 1885. Imagem, FRANCIS SINCLAIR (1833–1916).

A dinastia estava no fim. Desde a ‘descoberta’ pelos europeus, através do navegador James Cook em 1778,  muitos já haviam morrido em guerras tribais, e doenças trazidas do Velho Continente. Kamehameha sabia que o povo original  minguava aos poucos. E sensibilizou a viúva.

James Cook no Havaí. Ilustração, Google.

“Niihau é seu. Mas pode chegar o dia em que os havaianos não serão tão fortes no Havaí como agora. Quando esse dia chegar, por favor, faça o que puder para ajudá-los.”

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Assim começou a história moderna da ‘Ilha Proibida’ que, por incrível que pareça, perdura até este início do século 21. O rei havaiano foi profético. Vinte e nove anos depois, em 1893, a monarquia foi derrubada pelo governo americano e a  anexação das ilhas levou à supressão da cultura tradicional havaiana.

Os descendentes da viúva neozelandesa

Histórias improváveis também acontecem. A de Niihau é apenas mais uma prova de que as incertezas históricas não são tão raras assim. Desse modo, os descendentes de nossa viúva impuseram a política de não visitação desde 1930.

Em 1982 o New York Times publicou matéria sobre Niihau onde dizia que ‘Cerca de 600 polinésios com uma fração de ascendência japonesa vivem na ilha de 18 milhas de comprimento no estilo havaiano do século 19, falando a língua nativa na vida cotidiana. Eles não têm eletricidade, água corrente, bebidas alcoólicas ou armas de fogo. Não há cadeia, nem policiais, e o ministro congregacional, que é um deles, é o árbitro das disputas.’

Imagem, www.yelp.com.

Mesmo com apenas 600 nativos, Kamehameha V ficaria feliz em saber que seu pleito foi respeitado. Contudo, um ano depois, o NYT publicou outra matéria que mostrava que o turismo finalmente iria começar em Niihau, ainda que de forma bastante controlada:

“Um plano para iniciar passeios de helicóptero para o que os havaianos chamam de “ilha proibida” está sendo contestado por aqueles que temem que os voos destruam o último enclave de cultura nativa do estado.”

O jornal explicou que Bruce Robinson, tataraneto da Sra. Sinclair, percebeu a necessidade de ter um helicóptero  para emergências médicas e tarefas do rancho da família. Porém, ‘Bruce disse que só poderia comprar o helicóptero se  compensasse o custo oferecendo de 80 a 100 voos turísticos por mês.’

Assim o turismo, mesmo que incipiente, começou na ilha havaiana.

2002, última matéria do New York Times sobre Niihau

De acordo com nossa pesquisa, a derradeira matéria do Times sobre Niihau é de 2002. O texto de abertura explicava o motivo:

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“Helen Matthew Robinson, a matriarca da família que em 1864 comprou a ilha havaiana de Niihau e depois guardou tão zelosamente sua privacidade que é a única das ilhas onde o havaiano ainda é falado como língua cotidiana, morreu em 31 de julho em sua casa em Makaweli, na ilha de Kauai. Ela tinha 91 anos.”

Imagem, www.yelp.com.

Entretanto, em 2002 restavam apenas 200 havaianos: “Os cerca de 200 moradores coletam delicadas conchas para fazer colares vendidos por milhares de dólares. Os ilhéus também trabalham na fazenda de ovelhas e gado dos Robinsons em troca de salários, moradia, alimentação, bem como educação para seus filhos.”

‘Retrocesso ao passado’

“Sua vida diária parece um retrocesso ao passado havaiano. Não há eletricidade ou encanamento interno – a chuva é coletada em baldes. Não há estradas pavimentadas e as conversas são conduzidas na cadenciada língua nativa, embora Robinson tenha dito que mais palavras em inglês estavam surgindo.”

São por estes motivos que a ilha também é conhecida como ‘cápsula do tempo.’ E o New York Times fez justiça aos esforços desta singular família: “Desde o início, a Sra. Sinclair e seus herdeiros buscaram proteger a cultura indígena. Eles também permaneceram próximos à família real e se opuseram à derrubada americana em 1893, após o que o governo provisório proibiu o uso da língua havaiana.”

Imagem, www.yelp.com.

A matéria termina mostrando que, apesar da morte da então matriarca, o procedimento persistiria: “Keith Robinson disse que ele e seu irmão, Bruce, não tinham intenção de mudar nada na ilha, muito menos vendê-la. A Sra. Robinson também deixa sete netos.”

“Em 1983, ela escreveu uma carta a um pesquisador na qual escolheu uma palavra para descrever sua visão de Niihau: “isolamento”. Não está no dicionário, mas seu significado era aparente.”

Como visitar Niihau hoje?

Segundo o abcnews (2010), ‘A ilha é um habitat intocado e crítico para espécies altamente ameaçadas e um dos destinos de viagem mais cobiçados do mundo.’

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Em vermelho, no meio do imenso Pacífico, o Havaí.

E os descendentes da viúva ainda mantêm o compromisso assumido ao comprarem o pedaço do paraíso: “Minha bisavó comprou a ilha da monarquia e praticamente não mudou desde aquela data”, diz Bruce Robinson, dono atual com seu irmão, Keith. “Tentamos manter o pedido do rei quando foi entregue. Mantemos a ilha para o povo e continuamos a trabalhar como ele fez.”

Mick Jagger foi barrado no baile

Antes de mais nada, mesmo os bacanas têm vez: “Nem mesmo as estrelas do rock recebem tratamento especial. Mick Jagger ligou recentemente pedindo permissão para pousar alguns de seus helicópteros em Niihau. Robinson disse que não. A realeza e os super-ricos fazem o pedido e obtêm a mesma resposta.”

Que quiser conhecê-la tem que obedecer as regras: “Vários anos atrás, os Robinsons começaram a oferecer um raro vislumbre deste lugar extraordinário, realizando passeios de helicóptero a partir da costa oeste de Kauai. Os visitantes fazem check-in no escritório da Niihau Helicopters na pequena cidade de Kaumakani, não muito longe da cidade de Waimea.”

“Após uma pesagem e instruções de segurança, a piloto Dana Rosendal os leva para a praia Nanina, na costa norte da ilha, e os deixa sozinhos por três horas e meia para explorar, mergulhar ou apenas contemplar a extraordinária solidão do que uma vez era o Havaí.”

A ‘cápsula do tempo’ em vermelho.

“Os passeios são apenas para as pessoas verem uma ilha havaiana intocada”, continua Robinson. “Nós não vamos levá-las para a aldeia ou colocar os moradores em uma situação de aquário. Nós nem sequer sobrevoamos a aldeia. Não é isso que fazemos. Respeitamos a privacidade deles, respeitamos seu desejo de viverem intocados pelo mundo exterior e pretendemos preservar isso.”

Aperte o cinto de segurança, e boa viagem!

Assista ao vídeo e conheça mais Niihau

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