América do Sul torna-se alvo da pesca ilegal chinesa
A China, país que não respeita regras democráticas, nem tratados internacionais que julga prejudiciais. Entre eles, os tratados internacionais sobre a pesca. Curiosamente, o país é o maior produtor mundial de pescado. Em fóruns internacionais sobre a pesca já se tornou rotina apontar a China pela expansão predatória dos mares do planeta. Não à toa. Em 2020, diz a FAO, a produção de pesca e aquicultura atingiu um recorde histórico de 214 milhões de toneladas, no valor de cerca de 424 bilhões de dólares. É muito dinheiro. América do Sul torna-se alvo da pesca chinesa.
A pesca no mundo: alguns dados
Antes de mais nada, é oportuno que o leitor tenha em mente alguns dados sobre a pesca mundial. Além do valor extraordinário atingido em 2020, há outros que merecem reflexão.
Por exemplo, globalmente, informa a FAO, os alimentos aquáticos fornecem cerca de 17% da proteína animal, chegando a mais de 50% em vários países da Ásia e da África. O setor emprega cerca de 58,5 milhões de pessoas somente na produção primária – aproximadamente 21% mulheres.
Ambos são do mais importante relatório mundial da atividade, o The State of World Fisheries and Aquaculture publicado desde 1995 pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, ou seja, a FAO. Com eles fica clara a importância da pesca para a economia de um país além da segurança alimentar.
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Segundo a mesma fonte, A produção global de animais aquáticos foi estimada em 178 milhões de toneladas em 2020, uma ligeira queda em relação ao recorde histórico de 179 milhões em 2018. A pesca de captura contribuiu com 90 milhões de toneladas (51%) e a aquicultura com 88 milhões de toneladas (49%).
Da produção total de animais aquáticos, mais de 157 milhões de toneladas (89%) é para o consumo humano. Já, as restantes 20 milhões de toneladas, para usos não alimentares, principalmente para produzir farinha e óleo de peixe (16 milhões de toneladas ou 81%).
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A pesca de captura no mundo por cada país
Como se pode ver, a China lidera a pesca por captura no mundo com 15% do total, bem como a aquicultura. Agora, de posse destes dados, fica mais fácil entender os motivos que levaram a China a mirar os cardumes da América do Sul. A propósito, a frota chinesa já pescava no litoral argentino ao menos desde 2013.
A China, e “a pesca em águas distantes”
É mais que óbvio que a ONU e, consequentemente, a FAO, sabem que parte da pesca chinesa vem de ‘águas distantes’, ou seja, águas internacionais e/ou de outros países. Além disso, os relatórios da FAO são feitos com base nas informações de cada país membro. Portanto, há que se dar um desconto para algumas das informações fornecidas.
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Grécia proibirá pesca arrasto de fundo em áreas marinhas protegidasPesca sem controle no Brasil diminui populações de recifes de coraisMarinha do Chile destaca submarino para vigiar pesca ilegalO relatório reconhece estes pontos e os coloca entre aspas. Vejamos o que diz este último: Das 11,8 milhões de toneladas relatadas pela China em 2020, um total de 2,3 milhões de toneladas veio sob “pesca em águas distantes”. A própria organização reconhece que faltam dados do país sobre a “pesca em águas distantes.”
E por que faltam dados chineses? Porque eles, se reportados, mostrariam que a China avança constantemente sobre Zonas Econômicas Exclusivas que não pertencem a ela, e sequer poupa santuários marinhos mundiais como Galápagos, para citar apenas um exemplo.
Pesca chinesa em santuários marinhos
Galápagos, celebrizada por Darwin em sua histórica viagem do Beagle, é uma reserva marinha protegida. Mesmo assim, de tempos em tempos enormes navios pesqueiros da China são pegos em flagrante detonando os cardumes. Em 2016, por exemplo, a Armada Argentina afundou um pesqueiro chinês em suas águas.
As tentativas chinesas de entrar na América do Sul
O país não tem vergonha de se expor. Em 2013 iniciou conversas com o governo do Uruguai visando um terminal de pesca. Não deu certo. Então, mais recentemente, em janeiro de 2021, a China teve o desplante de oferecer ao governo do Rio Grande a construção de um polo pesqueiro para seus navios.
Informações da frota de pesca chinesa em 2022
Chegamos, agora, ao ponto em que queríamos. Ou seja, alertar que neste exato momento não seria surpresa se parte da frota estivesse em águas brasileiras, detonando os cardumes de atum. Ou em qualquer outro lugar dos mares da América do Sul, como informa a denúncia que segue.
Segundo o www.manilatimes.net em setembro de 2022, ‘como se a China comunista já não estivesse fazendo o suficiente para degradar a qualidade de vida do resto do mundo para seu próprio ganho, notícias recentes da América do Sul e Central reforçam ainda mais a impressão de que sua voracidade não tem limites.’
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‘Em uma reportagem do Inter-Press Service (IPS) no mês de agosto (2022), 631 navios de pesca de bandeira chinesa teriam entrado em águas peruanas e equatorianas até agora este ano. Nos últimos dois anos, a pesca chinesa nas águas territoriais ou nas zonas econômicas exclusivas (ZEE) dos países sul-americanos disparou. O número de navios deste ano já supera os 584 registrados em todo o ano de 2021, o que, por sua vez, foi um aumento acentuado dos 350 navios em 2020.’
Como se vê, ano a ano, cresce a quantidade de navios chineses pescando em ‘águas distantes’. A denúncia é confirmada por matéria do New York Times, assinada por David Leonhardt, e publicada em setembro com o título China’s Huge Appetite for Fish, ou seja,…
‘O enorme apetite da China por peixe’
‘Um único país foi responsável por cerca de 80% da pesca nas águas internacionais ao largo da Argentina, Equador e Peru este ano. E não é um país sul-americano. É a China.’
‘Nos últimos anos, centenas de navios de pesca chineses começaram a operar quase 24 horas por dia, sete dias por semana, na costa da América do Sul. Os navios se movem com as estações do ano, do Equador ao Peru e à Argentina. A China se concentrou nessas águas distantes depois de esgotar os estoques de peixes mais próximos de suas próprias costas.’
Estes são os dois primeiros parágrafos da matéria. Desse modo, confirmam uma vez mais tudo o que já se sabe sobre a predação da vida marinha por parte do gigante asiático.
David Leonhardt, igualmente suspeita das notificações da China à FAO: ‘Alguns especialistas também estão preocupados com o fato de a China estar subnotificando a quantidade de peixes que captura: padrões de movimentos suspeitos sugerem que alguns navios podem estar desligando seus transponders para esconder algumas capturas.’
Pesca chinesa nos litorais da África e Antártica
Leonhardt vai além e diz que ‘Essas questões se aplicam a mais do que apenas as águas da América do Sul. Steven Lee Myers, o principal repórter do projeto e ex-chefe da sucursal de Pequim do The Times, me disse que a China também expandiu sua pesca nas costas da África e dos países do Pacífico Sul, bem como na Antártida.’
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Portanto, primeiro o país esgotou suas próprias reservas. Em seguida, a dos países vizinhos como alerta a matéria do www.manilatimes.net: ‘Os vizinhos da China no Sudeste Asiático, particularmente as Filipinas, já estão familiarizados com a ganância da Ameaça Vermelha quando se trata de recursos marinhos…’
Em seguida, virou-se para os litorais da África, Antártica, e América do Sul. Aqui, nestas plagas, o prejuízo é enorme como mostram os números da www.manilatimes.net: ‘pescadores no Peru soaram o alarme sobre a pesca excessiva chinesa de lula gigante, que é o segundo maior recurso marinho do país depois das anchovas. A pesca de lula normalmente fornece cerca de US$ 800 milhões em receita e milhares de empregos para os peruanos, mas a indústria está prestes a ser exterminada pela concorrência indesejada dos chineses.’
E por que a comunidade internacional não age?
Alguém poderia fazer a pergunta acima. Se todos sabem, por que não agir? Contudo, para quem estuda a questão a resposta é fácil, difícil é evitá-la, como confirma o www.manilatimes.net:
‘Outros peixes que estão sendo colhidos pelos chineses em grandes quantidades incluem várias espécies de atum, pescada, camarões, lulas e tubarões.’
‘A pesca de tubarões é banida uniformemente em toda a América Central e do Sul, mas a enorme demanda por ela na China – particularmente em Hong Kong, aparentemente – induz os navios chineses a ignorar as proibições, ocultando a captura ilegal transferindo-a entre navios para fugir dos diferentes países, patrulhas navais ou da guarda costeira.’
Por último, saiba que a frota pesqueira da China é estimada em nada menos que 17.000 embarcações.
Então, como fiscalizar 70% do planeta Terra, e evitar a transferência de pescado para outros navios? Esta, a pergunta que não quer calar.
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