Ameaças ao litoral da região metropolitana do Recife
A região metropolitana do Recife tem uma população de 3,69 milhões de pessoas (IBGE, CENSO 2010) que inclui quatorze municípios. Porém, devido à sua peculiar geografia com baixa topografia, aliada ao crescimento desordenado e alta demografia, é uma das cidades costeiras mais ameaçadas pela subida do nível do mar. Em primeiro lugar, o IPCC de agosto de 2021 considera que a Veneza Brasileira ocupa o 16º lugar entre as cidades mais ameaçadas do mundo. Já um estudo do Climate Central mostra que Recife está entre os seis locais brasileiros mais ameaçados pelo fenômeno. Por todos estes motivos, em especial a má ocupação do solo próximo ao mar, mostramos recentemente que a orla de Recife aos poucos se dissolve. Apesar disto, o que sobra de mata nativa próxima à costa é desmatada sem dó.
Absurdos patrocinados pela prefeitura em Maria Farinha, Paulista, PE
Maria Farinha é um dos bairros do município de Paulista que faz parte da região metropolitana do Recife. Recentemente, mostramos os disparates que acontecem no local há muitos anos mas, agora, são patrocinados sobretudo pelo prefeito, Yves Ribeiro (MDB).
O post Muro na praia Maria Farinha, PE, vai parar na Justiça provocou sensação. Afinal, mostramos alguns dos absurdos fomentados pelo prefeito entre eles, por exemplo, a construção de um muro em cima da praia para tentar conter a erosão, assim como o fechamento da entrada da praia de Paulista por um hotel… de propriedade do vice-prefeito.
Além disso, explodem os licenciamentos de obras claramente especulativas. Definitivamente, elas não trazem nenhum benefício aos habitantes mas, unicamente, aos seus donos. Agora, o que restou de mata nativa em Maria Farinha está na mira da prefeitura.
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Como é sabido em toda a parte, uma das poucas coisas que segura a erosão é, principalmente, a mata nativa próxima à orla. E em Maria Farinha há um resto dela conhecido como Mata da Poty, que pertence ao Grupo Votorantim.
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O Nome ‘Poty’ pega carona no nome da fábrica de cimento da empresa.
Importante remanescente de mata atlântica
Acima de tudo, a mata da Votorantim ocupa uma área com mais de 2 mil hectares. Da mesma forma, ‘é um importante remanescente de mata atlântica, cuja posição geográfica entre o leito do Rio Timbó, e o oceano atlântico, oferece diferentes cenários geológicos de suma importância para manutenção dos biomas locais’, assim a descreveu o ambientalista Fernando Macedo.
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Macedo, que edita o Salve Maria Farinha, diz que a área corre grande risco. Coqueiros centenários da orla começaram a ser derrubados em 2012 de forma bem discreta. “Eles chegavam, derrubavam os coqueiros, e já faziam a limpa na área. Não deixavam absolutamente nada.”
Grupo Votorantim e novo empreendimento em Paulista, PE
Agora sabe-se o motivo destes cortes, antes discretos. Segundo o Diário de Pernambuco de abril de 2022, o Grupo Votorantim anunciou um grande empreendimento em Paulista. Trata-se de um novo complexo que vai reunir ambiente comercial, residencial, cultural e gastronômico em mais de 400 mil m² de construção.
Como resultado deste empreendimento, a mata nativa leia-se a ‘protegida’ mata atlântica, vai para o saco. É incrível a desfaçatez do prefeito que justifica: “A Prefeitura de Paulista não tem medido esforços para fazer com que Maria Farinha se torne um canteiro de obras. Vamos impulsionar a região e valorizar o Litoral Norte.”
O mesmo jornal publicou recentemente que, pelo mesmo motivo, construções açodadas próximas à orla, ‘dos 220 quilômetros quadrados de território do Recife, 5,34 são de área de mangue. Isto é, apenas 2,4% da superfície do centro urbano.’
Do mesmo modo, o que sobrou de mata nativa em Paulista deve em breve tornar-se um novo…
Bairro residencial de classe A e B para mais de 100 mil pessoas
É o que diz Fernando Macedo. Entre os 2 mil hectares de mata nativa há uma variedade de ecossistemas como manguezais que segundo Fernando ‘já sofrem ameaças de destruição por parte de grandes empreendimentos instalados nas proximidades.’
Além dos mangues há salgados, onde habitam crustáceos como o guaiamum, e o ‘chama maré (Uca sp); floresta ombrófila aberta (vegetação de transição entre a Floresta Amazônica e as áreas extra-amazônicas); campos abertos; e alagados em geral.
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Ou seja, como demonstra a variedade de ambientes, trata-se de uma área de grande biodiversidade vegetal e animal, sem falar na proteção das águas do rio Timbó, uma das grandes virtudes da Mata Atlântica.
Mas, infelizmente, para os ignorantes de plantão que nos desgovernam, a biodiversidade, nosso maior ativo, não é importante. O que de fato importa ‘é fazer com que Maria Farinha se torne um canteiro de obras’.
Sob o mesmo ponto de vista, atrasado e ignorante, os problemas que este novo adensamento para cidades que já não contam com a infraestrutura necessária como saneamento básico, coleta e tratamento de lixo, qualidade da água, por exemplo, podem esperar.
Por último, o problema da falta absoluta de infraestrutura fica, definitivamente, adiada para o futuro. Assim têm sido tratados os ativos ambientais do Brasil.
Em outras palavras, os próximos gestores que cuidem deles enquanto seguimos céleres para transformar nosso litoral numa Cancún qualquer.