Alto índice de degradação em restingas de Pontal do Paraná
Um estudo da Universidade Federal do Paraná – UFPR – mapeou, com o uso de drones, a vegetação de restingas em Pontal do Paraná, identificando que 36,5% das áreas estão degradadas em 32 praias devido a construções irregulares e à supressão de vegetação nativa. A pesquisa destaca a importância da restinga para a biodiversidade e proteção costeira. Os dados obtidos podem embasar políticas públicas e planos de manejo para a conservação dessas áreas.

De novo a especulação no litoral
Antes de mais nada, vamos colocar os ‘pingos nos is’. Este site sempre apontou dois grandes flagelos no litoral. O primeiro é a especulação imobiliária, que escolhe a dedo as áreas que destrói — justamente os ecossistemas que protegem as praias, como mangues, restingas e dunas. O segundo é a quase inexistente fiscalização, mesmo com leis que garantem a preservação dessas áreas. Bastaria uma fiscalização mínima para frear esse descalabro.
Além disso, os especuladores sabem explorar uma fraqueza nacional: a obsessão pela casa pé na areia. A “vista para o mar” virou quase uma pandemia entre os frequentadores do litoral. Poucos param para pensar que não dá para todo mundo ter esse privilégio. Enquanto isso, o litoral perde sua paisagem natural e, pior, desaparecem os ecossistemas que protegem as praias — ainda mais vitais num cenário de aquecimento global descontrolado.
Praias de Marissol, Grajaú, Leblon e Ipanema, em Pontal do Paraná
As praias de Marissol, Grajaú, Leblon e Ipanema, em Pontal do Paraná, são as que apresentam maior porcentagem de degradação na vegetação de restinga do município, segundo estudo da Universidade Federal do Paraná e publicado na Revista Ocean and Coastal Research.
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“A vegetação da restinga apresenta alterações visíveis como caminhos artificiais para a praia, introdução de espécies exóticas para paisagismo, corte e poda da vegetação, instalação de chuveiros para banhistas, depósitos de resíduos sólidos (que podem contaminar o solo e a água), construções e barracas de pescadores e vendedores. Essas intervenções humanas podem levar espécies endêmicas à extinção”, aponta o artigo.
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Para o professor de Engenharia Ambiental e Sanitária da UFPR e principal autor do estudo, Cesar Silva, “Durante o monitoramento, observamos que, em menos de um ano de sobrevoo, alguns locais que estavam conservados já apresentavam degradação causada por construções irregulares na restinga, o que sugere que o poder público tem dificuldades para conter esse tipo de atividade”.
Silva também destaca que, durante o período de monitoramento, foram observadas podas clandestinas e aplicações de veneno na vegetação. “Existe uma ausência de conscientização sobre a importância da restinga por parte dos moradores e, especialmente, dos veranistas, que jogam lixo e poluem a vegetação”.
‘Impacto das construções irregulares pode ultrapassar o campo ambiental’
O engenheiro ambiental e sanitário Alan D’Oliveira Correa, que também participou da pesquisa, alerta que o impacto das construções irregulares pode ultrapassar o campo ambiental. “Essa é uma área com forte presença de comunidades pesqueiras tradicionais, mas também há muitas edificações ocupadas por pessoas que não vivem do mar. Isso contribui diretamente para a degradação da restinga, comprometendo não só o meio ambiente, mas os modos de vida tradicionais”.
Caracterizada por formações vegetais em zonas arenosas de planícies costeiras, a restinga é considerada uma Área de Preservação Permanente (APP), embora seja frequentemente impactada pela ocupação humana. Essa deterioração pode afetar ecossistemas terrestres e marinhos, já que a vegetação abriga espécies endêmicas da fauna e da flora e serve como refúgio e ambiente de reprodução para animais como corujas, aves marinhas e tartarugas.
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