Água cinza de navios, mais uma ‘contribuição’ à poluição dos oceanos
Antes de mais nada, vamos à definição. Afinal, de que se trata quando fala-se em ‘água cinza’? E sobre ‘água negra’, você já ouviu falar? No caso dos navios usa-se a mesma definição que em terra. Ou seja água(s) cinza(s) é o efluente proveniente de chuveiros, máquinas de lavar utensílios, pias e banheiros em geral, além das cozinhas e ralos. Já a água(s) negra(s) refere-se àquelas provenientes das privadas. Seja como for, este é mais um aspecto que deixa a desejar no que se refere ao transporte marítimo mundial. Antes de prosseguir, este site lembra que neste mundo superpopuloso todos já sabem o imenso problema provocado pela poluição, seja terrestre, aquática, ou marinha. Como o nosso foco são os oceanos, procuramos trazer as informações relativas aos mares, pouco relevados pela mídia nacional. Assim, percebemos que ainda não tínhamos comentado sobre mais este aspecto do transporte marítimo. Vamos a ele?
O imenso problema mundial da poluição
Não sabemos exatamente quando se começou a falar neste problema. Com certeza em algum momento do século passado, quando ficou evidente o crescimento exponencial da população mundial. Este, provavelmente, não era um problema no século 19, muito menos nos anteriores. O gráfico abaixo contribui para a reflexão.
O site da ONU diz que ‘Em 1950, cinco anos após a fundação das Nações Unidas, a população mundial era estimada em cerca de 2,6 bilhões de pessoas. Atingiu 5 bilhões em 1987 e 6 bilhões em 1999′. Hoje somos 7.8 bilhões’. Estimativas sugerem que seremos 10 bilhões até o final do século. Numa antes, nos 4.5 bilhões de anos da Terra, uma espécie foi tão predominante.
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Em primeiro lugar, queríamos dividir as informações acima simplesmente porque ajudam a compreender o que vem abaixo. O que cada leitor fará com as referências que seguem, não é conosco. Esperamos ao menos que ajude a conscientizar as pessoas sobre nossas ações e, ou, omissões.
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Água cinza de navios
Antes de tudo, é ótimo saber que atualmente grande parte das pessoas já sabe dos problemas da poluição. Contudo, ainda falta muito para conhecer a origem dela nos oceanos. Um dos problemas vem dos próprios usuários. Neste sentido, é importante conhecer mais sobre a água cinza de navios.
Segundo o WWF ‘A poluição industrial crônica e as mudanças climáticas estão transformando nossos oceanos e ajudando a impulsionar a crise global de biodiversidade que nos ameaça. Entre as muitas fontes de poluição oceânica, nenhuma é tão prevalente – ou tão solucionável – quanto a “água cinza” dos navios’.
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O lobby da indústria naval
Contudo, como já comentamos, o lobby da indústria naval (avaliada em US$ 3 trilhões) leia-se a Organização Marítima Internacional (IMO), é tão poderoso que mesmo esta agência da ONU que deveria regular a indústria naval boicota a própria organização que lançou a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, ou seja, esta que vivemos.
E se o descarte da água negra é regulada e controlada, o mesmo não acontece com a ‘cinza’. Voltamos ao WWF: ‘A água cinza de navios comerciais – incluindo navios de cruzeiro, de longe o maior contribuinte – tem o potencial de ser tão prejudicial ao meio ambiente para as águas superficiais quanto o esgoto doméstico não tratado. Soluções mais eficazes, como Sistemas Avançados de Tratamento de Águas Residuais e monitoramento de conformidade, existem atualmente, mas não foram implementadas devido à estagnação regulatória’.
Estagnação regulatória neste caso é sinônimo de inação da IMO. Não regula porque não quer, faz vista grossa em mais um embate com a própria ONU.
WWF, ‘De acordo com um estudo recente produzido pela Vard Marine Inc. para a WWF, os navios de carga produzem 125 litros de água cinzenta por dia por pessoa, enquanto isso, os navios de cruzeiro produzem mais que o dobro’.
‘Em 2017 foram despejados 1,5 bilhão de litros de água cinza apenas na Colúmbia Britânica’
Em primeiro lugar saiba que a Colúmbia Britânica nada mais é que apenas uma província do Canadá banhada pelo Pacífico Norte, e próxima das água prístinas (?) do Mar de Bering. Então, hora de prosseguir com o WWF.
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‘Em 2017, estima-se que os navios tenham despejado 1,5 bilhão de litros de água cinza na costa da Colúmbia Britânica – 90% de navios de cruzeiro’.
‘A água cinza está repleta de microrganismos provenientes dos alimentos e do corpo humano. A Agência de Proteção Ambiental dos EUA descobriu em alguns casos que ela tem concentrações mais altas de coliformes fecais do que o esgoto doméstico, por sua vez associado aos patógenos que causam salmonela, febre tifoide, cólera e disenteria’.
O que está sendo feito sobre isso?
A pergunta acima é da Ocean Conservancy, que responde: ‘essencialmente nada. Embora a lei internacional regule até certo ponto as descargas de esgoto, não há lei internacional para regular as águas cinzas’.
Então, o que isso significa para o ambiente marinho?
Nova pergunta da Ocean Conservancy que novamente explica: ‘Assim como o esgoto, as descargas de águas cinzas no ambiente marinho podem levar ao esgotamento de oxigênio, espalhar bactérias e vírus patogênicos e aumentar os níveis de nutrientes no ecossistema circundante. Níveis mais altos de nutrientes podem levar à proliferação de algas tóxicas e zonas mortas que podem causar distúrbios prejudiciais em todas as cadeias alimentares’.
80 mil navios pelos oceanos
A Bimco, maior organização de associação direta do mundo para armadores, afretadores, corretores de navios e agentes, estima que em 2021 existiam 74.505 navios de carga nos mares do planeta.
Já o www.cruisemummy.co.uk, que produz estatísticas de navios de cruzeiro, informa que em 2022 há 323 navios embalando turistas mares afora.
O lado positivo e negativo da indústria marítima mundial
‘Em 2019, a indústria global de cruzeiros recebeu 29,7 milhões de passageiros (imagine a quantidade de água cinza deste povo todo), criou empregos para 1.8 milhão de pessoas em todo o mundo e contribuiu com mais de US$ 154 bilhões para a economia global, informa o www.cruisemummy.co.uk.
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Do mesmo modo, informa o econofact.org Os navios transportam mais de 80% do volume do comércio mundial e cerca de 70% do valor comercial’. Sob o mesmo ponto de vista, a IMO fala em 90% do comércio. Em outras palavras falamos da espinha dorsal do comércio global.
Por último, os empregos gerados apenas no transporte marítimo são estimados em 1.647.500 marítimos (some a água cinza produzida por estes também). Destes, 774.000 são oficiais enquanto isso, 873.500 são subalternos, segundo o www.ics-shipping.org. Além disso, frisamos, trata-se de uma indústria avaliada pela revista Forbes em nada menos que US$ 3 trilhões.
Conclusão: ambas são indispensáveis para o bem-estar mundial. Mas a nós também parece que ambas poderiam perfeitamente se adaptar aos tempos em que vivemos. Vamos recordar que muitos navios de passageiros jogam deliberadamente seu lixo no mar.
E, para além disso, um só dos grandes navios de passageiros emite tanto CO2 na atmosfera quanto 83 mil automóveis. Então, não é chegada a hora de regulamentar de vez a indústria?
Nesse meio tempo, terminou em em 26 de agosto de 2022 a reunião da ONU em Nova Iorque que ‘procurava um acordo internacional para proteger a biodiversidade marinha’. Sob o mesmo ponto de vista, questionamos, por quê raios continua omissa na regulamentação da indústria naval?
Assista a animação e saiba mais sobre a poluição dos navios de cruzeiros