Manguezais: importância, ameaças e o abandono histórico no Brasil
Poucos ecossistemas reúnem tantas funções vitais quanto o manguezal. Presentes ao longo da costa brasileira, do Amapá até Santa Catarina, os mangues protegem o litoral, garantem alimento, servem como berçário para centenas de espécies e ainda ajudam a combater as mudanças climáticas. Mesmo assim, seguem entre os ambientes mais negligenciados do país. O mangue, ou suas copas, sequestram dióxido de carbono, CO2, quatro vezes mais que que a mesma porção de floresta tropical.
O que são manguezais
Manguezais se formam em áreas de transição entre os rios e o mar, onde a água doce se mistura com a água salgada. É um ecossistema altamente produtivo, com flora e fauna adaptadas à salinidade, à instabilidade do solo e ao regime de marés. Os mangues não são pântanos nem brejos: são florestas alagáveis com papel essencial no equilíbrio ecológico da zona costeira.
Por que os mangues são tão importantes
Os manguezais atuam como:
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Berçários naturais: abrigam filhotes de peixes, moluscos e crustáceos, inclusive espécies de interesse comercial, como caranguejos e camarões.
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Proteção costeira: amortecem a força das marés e das ressacas, reduzindo a erosão e os impactos de tempestades e ciclones.
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Filtragem da água: retêm sedimentos e poluentes que escoam dos rios para o mar.
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Fixação de carbono: acumulam grandes quantidades de carbono no solo, funcionando como barreiras naturais contra o aquecimento global.
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Suporte a comunidades tradicionais: muitas famílias vivem da pesca artesanal nos mangues, com práticas que mantêm viva uma relação ancestral com o território.
A cobertura de manguezal no Brasil
Segundo dados do IBGE e estudos do ICMBio, o Brasil tem a segunda maior extensão contínua de manguezais do planeta. Estima-se que os mangues ocupem cerca de 13 mil km² do território nacional, com maior concentração nas regiões Norte e Nordeste. A maior parte está nos estuários de grandes rios, como Amazonas, São Francisco e Paraíba do Sul.
Apesar disso, não há uma política nacional específica de proteção aos manguezais. O Código Florestal considera os mangues como Área de Preservação Permanente, mas a realidade está longe do que a lei prevê.
Descaso e omissão do poder público
Especialistas que ouvimos foram unânimes: o Brasil nunca tratou os manguezais como prioridade. A fiscalização é rara. O licenciamento ambiental permite absurdos. E o orçamento para a gestão costeira segue encolhendo.
A destruição dos mangues avança de forma silenciosa, facilitada pela especulação imobiliária, pelo avanço de marinas, portos e construções irregulares em áreas de marinha. O próprio Ministério do Meio Ambiente pouco menciona os mangues em seus discursos e metas.
Casos emblemáticos de destruição
Reportagens do Mar Sem Fim revelaram manguezais destruídos em Ubatuba, para dar lugar a condomínios; em Santos, contaminados por espécies invasoras; e em trechos do Nordeste, dizimados por empreendimentos turísticos e a carcinicultura. Em todos os casos, as autoridades locais se omitiram ou colaboraram.
Conclusão: proteger os mangues é proteger o futuro
Ao permitir que os manguezais desapareçam, o Brasil não apenas compromete a biodiversidade. Compromete também a segurança das cidades costeiras, a vida de comunidades tradicionais e a própria capacidade de adaptação climática.
É urgente criar uma política pública de proteção efetiva aos manguezais, com fiscalização, recuperação de áreas degradadas e planejamento costeiro sério.
As raízes do mangue
Segundo a NOAA “As raízes também diminuem o movimento das águas das marés, fazendo com que os sedimentos se depositem na água construindo um fundo lamacento.”
“As florestas de mangue estabilizam a costa, reduzindo a erosão causada por tempestades, correntes, ondas e marés. O intrincado sistema radicular dos manguezais também torna essas florestas atraentes para peixes e outros organismos que procuram comida e abrigo de predadores.”
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Notícia recente: perda de 20% dos manguezais em 15 anos
O Estadão trouxe matéria com o seguinte título: “Manguezais perdem 20% de sua área em 15 anos.” Diz o texto de Giovana Girardi:
“O trabalho, conhecido como MapBiomas (Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil), revela que os manguezais, perderam, entre 2001 até 2016, 20% de sua área em parte por causa da expansão urbana.”
A proteção da linha da costa pelo manguezal
Ficou provado, depois do tsunami que aconteceu na Indonésia em 2004, que as áreas onde havia mangues foram menos danificadas. Por quê? Porque os manguezais agem como uma barreira, diminuindo a força das águas que invadiram a parte continental. Mais um serviço prestado: a contenção da erosão natural que ocorre em regiões costeiras.
Assista ao vídeo que mostra a beleza do manguezal
Você sabia que a oceanografia é a mais recente disciplina científica?