Você conhece a cidade subaquática de Port Royal, Jamaica?
‘Port Royal se enquadra na categoria de “locais catastróficos”, ambientes que são devastados por algum desastre natural e em ato de destruição, preservados in situ. Depois de apenas 37 anos de existência, a movimentada cidade literalmente afundou no porto em questão de minutos, permanecendo perfeitamente preservada como estava no dia do terremoto’. Assim o site de patrimônios mundiais da UNESCO descreve a cidade jamaicana tragada por um tsunami. O desastre aconteceu em 7 de junho de 1692, às 11hs40′. Três choques violentos, cada um mais forte que o anterior, rasgaram a terra, seguidos por um maremoto gigante. Duas mil pessoas morreram imediatamente e outras 3.000 morreram de ferimentos e doenças pouco depois.
Valor Universal Excepcional, segundo a UNESCO
No auge de sua história, Port Royal representou o epicentro do comércio mercantil britânico no século XVII. Tinha características típicas de uma cidade portuária colonial inglesa, mas se destacava por sua riqueza de consumo sem precedentes, as festas dos bucaneiros e uma classe média próspera.
Em 1692, a magnífica cidade foi abalada por um terremoto gigante, seguido por um tsunami que a engoliu em questão de minutos. Tudo que restou foi um registro detalhado e permanente no fundo do mar. É por isso que a UNESCO defende a atribuição do título de Patrimônio Mundial da Humanidade para Port Royal.
Assentamento inglês economicamente mais significativo nas Américas
O site oficial de Port Royal informa que Boston, Massachusetts, e Port Royal, Jamaica, eram as duas maiores cidades sob controle inglês nas Américas no final do século XVII.
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Contudo, os espanhóis foram os primeiros a chegarem vindos com Cristóvão Colombo em 1494. A importância principal da ilha para os espanhóis se devia à sua localização próxima de rotas comerciais e à sua conveniência como porto para reparo de navios e limpeza de cascos. Os espanhóis mantiveram o controle da ilha por cerca de 146 anos, até que ela foi conquistada pelos britânicos em 1655.
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Piratas e corsários
(Os trechos deste subtítulo são do site www.medium.com).
Em 1657, o governador do assentamento, Edward D’Oley, encontrou uma solução única para suas preocupações com a defesa. Ele convidou um grupo de corsários chamados Brethren of the Coast para tornar Port Royal seu porto de origem e ajudar a proteger o tesouro que contribuiu para torná-la a colônia mais rica do império britânico.
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O resto do saque podia ser gasto pelos próprios corsários. Em 1689, quase metade da população da cidade estava envolvida no comércio de corsários, e os resultados foram ainda mais surpreendentes do que se poderia imaginar.
Diz-se que cerca de 25% da cidade eram bordéis ou bares. Na sua história da Jamaica, Charles Leslie escreveu sobre o que aconteceu com piratas ricos como estes:
O vinho e as mulheres esgotaram a sua riqueza a tal ponto que […] alguns foram reduzidos à mendicância. Sabe-se que gastavam 2 ou 3.000 moedas de ouro em uma noite; e um deu 500 para uma prostituta só para vê-la nua. Compravam um barril de vinho, colocavam na rua e obrigavam todos que passavam a beber.
“A cidade mais rica, devassa, e perversa do mundo”
Com o perdão do bordão, Port Royal era um covil de piratas. Os legendários Barba Negra e Calico Jack eram dois de seus habitantes, daí vem ‘a cidade mais perversa do mundo’.
E, em razão da devassidão, muitos à época acreditaram que a catástrofe seria uma punição de Deus.
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No entanto, hoje em dia, considera-se a cidade submersa um dos sítios arqueológicos subaquáticos mais importantes do hemisfério ocidental. A área é um tesouro histórico onde os estudos prosseguem por várias instituições. Ela faz parte de um seleto grupo de sítios que inclui Pompéia e Herculano na Itália.
Esse grupo compartilha um destino comum: um desastre ou evento natural que fez o “tempo congelar”. Por isso, são locais excelentes para estudos arqueológicos e históricos.
Em 1907, outro terremoto devastou grande parte do que ainda existia de Port Royal, e hoje a cidade é apenas uma lembrança do que já foi.
Assista ao vídeo, Underwater Pirate Tavern | National Geographic