Vendaval em Punta Arenas antes da partida para a Antártica
Aconteceu dia 11 de janeiro de 12013, enquanto preparávamos o equipamento para levar até a Ilha Rei George, local do naufrágio. Foi um dia de muita ação. Pela manhã tivemos uma reunião a bordo do Felinto Perry, com a presença do Comandante Luiz Felipe e seus oficiais, eu, Plinio, e “don” Francisco Ayarza, da empresa Nautilus, encarregado de resgatar o Mar Sem Fim.
Mais uma vez foi discutida a “faina” que seria feita ao chegarmos à Antártica. “Don” Francisco, como dizem os chilenos, repassou a sua parte. Havia a preocupação do Comandante Luiz Felipe sobre quem seria o responsável pela certificação das condições do Mar Sem Fim ser rebocado através do pior pedaço de mar que existe: o estreito de Drake, cerca de 500 milhas que separam o finalzinho da América do Sul do continente antártico.
Outra questão da pauta era definir a empresa que rebocaria o Marzão. Fechei com a Ultratug, que usou um rebocador de 90 pés (31 metros), de 130 toneladas, com dois motores caterpilar de 3.500 hps cada.
Duro foi decidir quem daria a certificação pro Mar Sem Fim navegar. “Don” Francisco insistia que não era com ele. Sua parte seria trazer o barco à tona, e ajudar a consertá-lo para a travessia. A companhia de rebocadores também se recusou alegando que sua tarefa seria apenas trazer o barco de volta para Punta Arenas…
Na verdade havia um certo medo de que o barco naufragasse durante a travessia. De quem seria a culpa? Decidiu-se pela contratação de um renomado engenheiro naval de Punta Arenas que iria de avião para a ilha Rei George vistoriar o barco antes da travessia.
Demorou mas chegamos a uma conclusão que agradou a todos.
Dia de de vendaval em Punta Arenas
Em seguida eu e Plinio fomos até o escritório de don Francisco. Uma jóia. Me fez lembrar os livros de aventuras do repórter Tintim: quadros náuticos na parede, escafandros antigos, objetos recuperados de naufrágios, um show. Curiosamente, don Francisco lembra muito a figura do comandante Haddock, quem leu sabe, o inseparável amigo do intrépido Tintim.
Diário de bordo do resgate do mar sem fim
Neste dia escrevi:
No momento estamos a espera de uma melhora do tempo que anda brabo por aqui. Hoje houve um vendaval em Punta Arenas. Poucas vezes vi algo assim: 60 nós de sudoeste, com rajadas de até 70 nós ( cerca de 120 quilômetros por hora)!!
Está difícil andar na rua tamanha a força do vento. Ora ele te joga pra frente, ora pra trás, sempre com uma força tremenda que me lembrou os dias que antecederam o naufrágio em abril de 2012.
E finalizei:
Estamos programados para sair na segunda- feira, dia 14 de janeiro. Espero que até lá as condições de tempo estejam melhores. Até breve.