❯❯ Acessar versão original

Tesouro do galeão San José será recuperado, diz governo da Colômbia

Tesouro do galeão San José será recuperado, diz governo da Colômbia

2024 pode se tornar um ano memorável para a arqueologia submarina. O governo colombiano anunciou planos para resgatar o tesouro do galeão San José, afundado pela marinha britânica em 1708. Esse naufrágio, conhecido como o Santo Graal dos naufrágios devido ao seu valor estimado em US$ 17 bilhões, supostamente carrega 200 toneladas de ouro, prata e joias. Em 2015, a marinha colombiana localizou o galeão com a ajuda do Woods Hole Oceanographic Institution (WHOI).  Desde então, criou-se um imbróglio internacional sobre a posse do tesouro. Espanha, dona do navio, Colômbia, e um grupo indígena boliviano da nação Qhara Qhara, reivindicam direitos devido à exploração de seus ancestrais pelos espanhóis. 

Foto publicada pelo El Colombiano com a seguinte legenda: Numa missão realizada em 2022 em que foram capturados vários vídeos, foi possível ver alguns dos objetos que a estrutura ainda preserva. FOTO: Colprensa

Onde está o galeão San José?

Ao perceber a confusão, o governo colombiano disparou ofensiva legal com decreto presidencial. Em 2013, a Colômbia aprovou uma  lei proclamando que todos naufrágios em suas águas fazem parte do patrimônio nacional. O  governo estima que existam 1.200 naufrágios.

Representação do galeão San José. Imagem, www.lmneuquen.com.

A descoberta do San José em 2015, após a aprovação da lei, elimina dúvidas sobre sua posse pela Colômbia. O galeão jaz a 600 metros de profundidade. A WHOI observa que pouca vida marinha se desenvolveu ao redor do naufrágio em 300 anos, devido à profundidade. Isso deixou canhões e outros artefatos visíveis. O naufrágio ocorreu perto da costa de Cartagena, mas a localização exata permanece um segredo de estado.

A recuperação da valiosa carga

Segundo o El Colombiano, o governo anunciou que em abril terá início a extração de “valor incalculável” de objetos que fazem parte do tesouro do San José, submerso há três séculos no Mar do Caribe.

A mesma fonte informa que a recuperação do naufrágio custará mais de 4,5 milhões de dólares. Um robô, capaz de alcançar 600 metros de profundidade, realizará o trabalho. A extração do galeão ocorre em meio a um litígio que envolve o governo da Espanha, um povo indígena boliviano, e a Colômbia.

PUBLICIDADE

Entre abril e maio, explorarão materiais na superfície do leito marinho. Essa exploração mostrará como os materiais reagem ao sair da água. Assim,  ajudará a planejar a recuperação dos demais itens.

O San José naufragou nas águas próximas a Cartagena, na época  ponto-chave do comércio entre a América e a Espanha, após zarpar de Portobelo, no Panamá, repleto de joias, pedras preciosas, ouro, prata e canhões.

O El Colombiano finaliza informando que o governo de Gustavo Petro, no poder desde 2022, busca retirar os destroços do oceano com recursos próprios para contribuir com a ciência e a cultura, independentemente das polêmicas relacionadas à distribuição de riquezas.

‘O naufrágio mais mediático do século XXI’

Segundo uma edição em espanhol da Deutsche Welle, apesar de acontecer há três séculos,  é o naufrágio mais mediático do século XXI. Descoberto em 2015, o galeão San José tem sido objeto de desejo de caçadores de tesouros de todo o mundo, e continua sendo debatido se a valiosa carga do navio pertence à Espanha, à Colômbia ou aos indígenas bolivianos, que argumentam que as riquezas foram tiradas de suas terras, naquela época colonizadas por espanhóis.

Por enquanto, o galeão permanece submerso nas profundezas do Mar do Caribe. Há poucos dias, o presidente, Iván Duque, juntamente com oficiais da Marinha Nacional da Colômbia, mostraram imagens espetaculares de seus tesouros e de outros dois naufrágios encontrados perto do navio disputado.

A imagem do Ministério da Defesa da Colombia mostra parte do tesouro do galeão San José.

A Deutsche Welle conversou com Juan Guillermo Martín Rincón, doutor em Patrimônio Histórico e Natural e especialista em arqueologia pela Universidade do Norte, sobre o  mergulho feito por uma empresa de caça aos tesouros submarinos e suas reivindicações agora.

“Vimos detalhes de moedas e barras de ouro que estão na superfície. Entretanto, esses elementos não são vistos no mosaico apresentado em 2016 por caçadores de tesouros. Não faz sentido que naquele ano não se tenha visto nada, ou muito pouco, da carga do San José, como alguns potes e porcelanas chinesas. Acontece que agora se pode ver mais dos destroços. Isso significa que certamente houve uma intervenção na operação  que a empresa de caça ao tesouro realizou em 2016. Essa empresa reivindica agora pouco mais de 6 milhões de dólares por ter encontrado o galeão, mas infringiu a lei com essa alegada intervenção.”

Conheça a Sea Search Armada que reclama direitos sobre o naufrágio

Segundo a Ocean Treasures, uma empresa de salvamento com sede nos EUA afirma que a República da Colômbia lhe deve entre 4  e 17 bilhões de dólares por violar um contrato que lhe concedia o direito de resgatar o galeão San Jose.

Jack Harbeston, diretor-gerente da empresa de salvamento comercial Sea Search Armada, registrada nas Ilhas Cayman, assumiu durante duas décadas uma luta legal para reivindicar metade das riquezas do navio afundado.

PUBLICIDADE

“Se eu soubesse que ia demorar tanto tempo, eu não teria me envolvido”, disse Harbeston, 75, que mora em Bellevue, Washington. Harbeston afirma que ele e um grupo de 100 investidores dos EUA – entre eles o falecido ator Michael Landon e o falecido conselheiro da Casa Branca de Nixon, John Ehrlichman – investiram mais de US$ 12 milhões desde que um acordo foi assinado com a Colômbia em 1979, dando à Sea Search direitos exclusivos para procurar o San Jose e 50% do que eles encontrarem.

Enquanto isso, a CBS NEWS  informa que o caso está em andamento no Tribunal Permanente de Arbitragem da ONU entre a Colômbia e a empresa de salvamento Sea Search Armada, com sede nos EUA.

A história do San José

O site lmneuquen conta a história do navio. Segundo relatos da época, o San José  tinha três conveses, comprimento de 45 metros, boca de 14 metros e para sua defesa estava armado com 64 canhões. Em março de 1706, deixou o porto de Cádiz com destino a Cartagena das Índias. Demorou um mês para fazer a viagem e estava acompanhado pelo San Joaquín, o navio almirante, e 10 navios cargueiros.

A ideia era que ele fosse até Portobelo buscar sua carga de ouro e prata, mas por questões administrativas e logísticas seu retorno foi adiado por dois anos. Somente em fevereiro de 1708 seu capitão, o conde e general José Fernández de Santillán, decidiu partir. Por recomendação do rei Filipe V, fê-lo acompanhado por uma forte frota de proteção.

Naquela época, a Espanha estava no meio de uma guerra de sucessão e os navios ingleses, que queriam manter as suas colônias, assediaram os navios de Filipe V. Perante o risco de um ataque inglês, o capitão Fernández partiu protegido por 16 navios, incluindo fortes navios militares como o San Joaquín (com 64 canhões) e o Santa Cruz (44 canhões).

Os ingleses, que tinham uma rede de espiões na zona, emboscaram-nos e esperaram por eles a cerca de 50 km da costa. A intenção era ficar com o tesouro do San José, algo que no final não conseguiram. A batalha durou várias horas e o San José finalmente afundou devido a uma explosão interna. A maior parte de seus 600 tripulantes morreu e o tesouro acabou nas profundezas do mar.

Assista para saber mais

Sair da versão mobile