Sul da Bahia, campeão em desmatamento da Mata Atlântica
Sul da Bahia, campeão em desmatamento da Mata Atlântica: o Mar Sem Fim vem alertando sobre isso faz muito tempo. Mas, como sempre, no ambientalismo brasileiro é cada um por si. Em junho de 2015 este site publicou matéria sobre isso. E não foi apenas uma, mas várias. A primeira delas ainda em 2006. Agora o atlas da SOS Mata Atlântica registra o fato consumado.
Sul da Bahia, campeão em desmatamento da Mata Atlântica e Atlas do Desmatamento
Saiu na Folha de S. Paulo em 29 de Maio, 2017: “os dados são do mapeamento florestal da SOS Mata Atlântica e do Inpe. Devido ao desmatamento no sul do Estado, a Bahia foi a campeã nacional de desmatamento da vegetação atlântica entre 2015 e 2016”. Ou seja, Sul da Bahia, campeão em desmatamento da Mata Atlântica.
Matéria mostra o que o Mar Sem Fim alertou
Segundo a Folha, “no Estado, caíram 12.288 hectares de vegetação, um crescimento de 207% em relação à análise anterior, de 2014-2015. Três cidades do sul da Bahia –Santa Cruz de Cabrália, Belmonte e Porto Seguro – são responsáveis por metade desse total”. A matéria diz que “o índice preocupa os especialistas da SOS Mata Atlântica. Há dez anos não havia uma derrubada do bioma nessas proporções”.
‘Há dez anos não havia uma derrubada do bioma nessas proporções’
Em junho de 2015 o Mar Sem Fim publicou no diário de bordo o que vem abaixo.
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No texto nós nos referíamos exatamente ao sul da Bahia:
“Impressionante: só se vê plantações de eucalipto, pastos, e um ou outro tufo de Mata Atlântica. É um disparate o que as empresas Veracel, e Fíbria (Grupo Votorantim), têm feito. Não sobrou praticamente nada da espetacular mata original. Mais impressionante ainda é o conformismo baiano. Poucas vezes vejo denúncias deste descalabro na imprensa. Mas o pior é a cara de pau de uma delas, no caso a Fíbria, cujo site apregoa em sua Missão, Visão e Valores a famigerada e maltratada expressão ‘forma sustentável’, sei…”:
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Eita, Sul da Bahia, campeão em desmatamento da Mata Atlântica…
Em fevereiro de 2005 o Mar Sem fim alertou pela primeira vez!
Em 2005 publicamos pela primeira vez o que acontecia no litoral da Bahia e sua exuberante Mata Atlântica:
…Hoje pegamos nosso carro e saímos em direção a Mangue Seco, na fronteira com Sergipe. No caminho pudemos ver grandes áreas cobertas com Eucaliptos e Pinus, para o pólo de Camaçari, onde antes havia Mata Atlântica…
Mais: denúncias sobre a ocupação desordenada que detona ecossistemas e arrasa a paisagem
…Com a chegada da estrada, que assim como tudo que acontece no litoral do Nordeste leva um nome que sugere grande preocupação com o meio ambiente, no caso “Linha Verde”, as portas para a ocupação foram escancaradas. De lá para cá cresceu o turismo de massa, com dezenas de ônibus lotados vindos de Salvador quase todo dia, e a entrada maciça dos famigerados resorts, começando pelo de Sauípe, seguido por vários outros que se instalaram na Praia do Forte, e ao longo da estrada, como o espanhol Iberostar…
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entre as novas casas e pousadas da Praia do Forte é inexistente. Um show da especulação imobiliária. Foto de 2006
“Pense em algo excêntrico, inusitado, um absurdo qualquer : ele já aconteceu na Bahia ”
A frase é de Otávio Mangabeira, governador da Bahia nos anos 50, e foi citada pelo Mar Sem Fim na mesma matéria. Em seguida, dissemos sobre ‘a febre dos resorts’:
…Bem, os malefícios não são apenas os da destruição da beleza cênica milenar, com as imensas construções em cimento às vezes na praia, outras vezes um pouco recuadas, tomando o lugar da exuberante paisagem natural…Há também imensos lixões a céu aberto, para estocagem do lixo produzido pelos milhares de hóspedes…e o turismo de massa com a construção de vários Resorts num mesmo ponto da costa, transformaram esta bela parte do litoral baiano em mais um cortiço de classe média-alta…
A desfiguração da Praia do Forte
Na mesma matéria de 2006 dizia o Mar Sem Fim sobre a especulação imobiliária que desfigurou o local, expulsando os nativos para Açuzinho, no interior da Praia do Forte:
…Depois das entrevistas, fomos até Açuzinho, para ver as condições de moradia e urbanização. O que vi foi uma favela. Esgotos a céu aberto, lixo pelo chão, casas com aqueles “puxadinhos” tão conhecidos dos brasileiros, ruas sem calçamento, um terror…
Mais uma vez, ficamos sozinhos na denúncia. Nenhuma ONG se manifestou!
Sul da Bahia, campeão em desmatamento da Mata Atlântica. Canavieiras: Mar Sem Fim fez denúncia em 2006
Em outro diário de bordo desta expedição denunciamos:
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…A outra vantagem é que Canavieiras fica em meio a um lagamar, cercada por mangues e rios, e este ecossistema também não é o preferido dos turistas. Mesmo assim empreendedores e especuladores estão chegando…
E mais:
Aproveitei e fiz uma passagem chamando a atenção para o fato de que, até agora, só nós, do Projeto Mar Sem Fim, temos denunciado o estrago causado pela carcinicultura. As grandes ONGs do Rio e São Paulo estão como o Lula : “ Não vêm nada. Não sabem de nada ”. É incrível ! Mesmo ONGs que foram criadas para lutar pelo que resta de Mata Atlântica não se manifestam. Fiz uma passagem onde eu dizia: “ Fique atento: estão tirando o verde de nossas matas…. para colocar no lugar camarões. Nós pagamos a conta e os empresários e políticos cada vez enriquecem mais ” .
Belmonte: mais destruição e desmatamento denunciados em 2006
Na sua foz o Jequitinhonha está morto
O turismo que estava chegando…
o turismo de massa está chegando. Dois resorts cinco estrelas, de portugueses, começam a se instalar. Como sempre em áreas em que não poderiam, dentro da APA Santo Antonio, que tem plano de zoneamento, e em restingas, que até a resolução de 22 de fevereiro, do Conama, eram APPs, onde não se podia ocupar
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Poluição causada pelos reflorestadores:
…Por fim o Jequitinhonha ainda tem a fábrica da Veracel, um consórcio entre Votorantim, Aracruz, e uma empresa sueca, que tem uma fábrica para beneficiar eucalipto…. Para o branqueamento da celulose eles usam cloro, que não se desfaz facilmente e ainda se junta a outros materiais provocando reações em cadeia…Enquanto isto a pesca diminui todo dia, a mariscagem fica mais difícil, e os empregos mais raros ainda…
Sobre a falácia dos empregos gerados…
…A Veracel é moderna, utiliza tecnologia de ponta quando uma só máquina é capaz de cortar, serrar, e deixar a árvore na medida certa. Os trabalhadores daqui só têm emprego temporário, na época do plantio, ou nos períodos de corte. E, neste caso, em número bem reduzido…
Denúncias sobre as falésias ocupadas em Porto Seguro e Trancoso no mesmo ano de 2006
…No caminho pudemos ver as falésias, tão bem descritas por Caminha, com seus topos bastante ocupados. Até a resolução do Conama, de 22 de fevereiro, isto era proibido…Sinais evidentes de erosão estavam à mostra….O Código Florestal proibia (ocupação de falésias e desmatamento) para evitar que a vegetação fosse desbastada. Porque quando isto acontece, no período das chuvas a erosão começa. E despeja lama morro abaixo. Mas mesmo assim as falésias foram ocupadas…
Sul da Bahia, desmatamento da Mata Atlântica: sobre o desmatamento na região de Trancoso
O mesmo diário de bordo dizia:
…Saímos logo cedo, pegando a estrada nova, asfaltada, que leva a Trancoso…No caminho parei no acostamento várias vezes, para gravarmos a mudança da paisagem. Antes era tudo cercado da mais linda Mata Atlântica que já conheci…Hoje há tufos de Mata Atlântica apenas. Parte considerável dela virou pasto para o gado, ou cedeu o espaço para a agricultura, além da monocultura do Eucalipto. Já são cerca de 300 mil hectares de eucaliptos na região, que são transformados em celulose. As plantações chegam até a beira do mar em alguns trechos do sul da Bahia, o que é proibido pelas leis ambientais…
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Mais uma vez ficamos sozinhos. Nada, ninguém se manifestou. As grandes ONGs ficaram caladas. As pequenas, da Bahia, ajudaram o Mar Sem fim mostrando as baixarias. Publicamos mais:
…Em um trecho determinado, fotografei e fiz uma passagem de uma área recém detonada, para virar pasto, onde podia se ver uma imensa quantidade de troncos calcinados, chamando a atenção para a fantástica biodiversidade que havia na região…
Trancoso: descrição do Mar Sem Fim em 2006
…É justamente no centro histórico de Trancoso que se encontram os picos da especulação imobiliária, com o metro quadrado mais caro do sul da Bahia. Um pequeno casebre em condições precárias, com dez metros de frente, chega a valer 300 mil reais…
Mais:
Atrair o turismo para movimentar a economia, gerar empregos, e aumentar a renda da comunidade é uma ótima e possível solução para o litoral. Mas trazê-lo para enfear a exuberante paisagem, patrimônio de todos os brasileiros, além de pouco contribuir para a economia local, acelerando a poluição e agravando tensões sociais me parece um desperdício inconseqüente pelo qual ainda vamos nos arrepender.
O último relatório da SOS Mata Atlântica, publicado em 25/5/2019 mostra que ” o desmatamento da Mata Atlântica entre 2017/18 caiu em 9,3% em relação ao período anterior.” E acrescenta, “apesar da melhora cinco estados ainda mantém dados inaceitáveis, são eles Minas Gerais, Paraná, Piauí, Bahia e Santa Catarina.”
Triste fim do local de escala e estaleiro da era das naus
É muito triste ver no que está se transformando a floresta que tanto encantou os nautas portugueses. A pujança transformou esta região da Bahia na mais importante escala, e estaleiro, das naus da Carreira da Índia. Óbvio que, passados mais de 500 anos, ela não poderia estar nas mesmas condições, mas também não precisava tornar-se o ‘favelão’ que estamos vendo. Resta divulgar, na esperança de alertar a sociedade sobre mais um crime ambiental que vem acontecendo na surdina. Entra na grande média quando sai o relatório. Depois sai. A sociedade não protesta o suficiente, e o desmate prossegue. Até acabar. Pense nisso, e faça sua parte.