Série Microplásticos nos oceanos, artigo da UFPR – Universidade federal do Paraná
No primeiro texto dessa série especial apresentamos os pellets, microplásticos produzidos propositalmente com tamanho menor do que 5 mm. Aqui queremos mostrar brevemente os caminhos percorridos pelos microplásticos para chegar às praias e aos oceanos a partir da casa das pessoas e da indústria. Este é o segundo artigo da Série Microplásticos nos oceanos, da Universidade Federal do Paraná, de Yan Weber Mesquita, Renata Hanae Nagai e Mateus Faria Mengatto.
A pegada humana de plástico no Oceano
Anualmente, cerca de 4% dos resíduos plásticos gerados em todo o mundo acabam no oceano. Isso equivale a pelo menos 8 milhões de toneladas de plástico.
O plástico faz parte da vida moderna. E está em toda parte, nas nossas casas, escritórios, escolas, supermercados – e no oceano. O painel de resultados de mutirão limpeza de praias do Brasil, do Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar, mostra que os principais tipos de lixo coletados nas praias do Brasil, entre 2018 e 2020, são em forma de plástico.
Ilhas de plástico e os giros oceânicos
As ilhas de plástico flutuante são encontradas no meio dos giros oceânicos. Elas impressionam pelo tamanho e quantidade de lixo (A maior destas manchas de lixo fica no Pacífico, mas não é a única). A presença dessas concentrações de plásticos na superfície foi identificada pela primeira vez no início dos anos 1970, no Oceano Pacífico. Hoje é estimada em 79 mil toneladas de detritos e 1,8 trilhão de partículas – sendo 94% delas microplásticos.
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Hoje, a pegada humana de plástico pode ser vista desde as águas superficiais até nos sedimentos das áreas mais profundas do oceano. É o que mostra o estudo publicado na revista Marine Policy. Desde 1983, os plásticos – dos quais 92% vêm de produtos descartáveis – são onipresentes nas regiões mais profundas do oceano, inclusive na fossa das Marianas, o lugar mais profundo do mundo (10.898 m de profundidade).
Mas não são apenas os plásticos de tamanho grande que se acumulam no mar profundo, cientistas também encontraram zonas de acúmulo de microplástico no fundo do mar profundo, verdadeiras ilhas de microplástico no assoalho oceânico.
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Quais são os caminhos percorridos pelos microplásticos de sua origem até o Oceano?
Os microplásticos chegam até o oceano por diversos caminhos que tem relação com a origem dessas partículas. O oceano começa no ralo das nossas casas e esse é um dos principais pontos de entrada dos microplásticos para o meio ambiente. Nós utilizamos e descartamos microplásticos diariamente, muitas vezes sem intenção.
Você sabia que existem microesferas feitas de plásticos em cosméticos e pastas dentais? E que as nossas roupas podem soltar fibras sintéticas quando são lavadas?
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Esses microplásticos acabam indo literalmente pelo ralo e são levados pelo esgoto doméstico. Hoje, ainda não existem métodos de tratamento de esgoto eficazes para a retirada de microplásticos e, assim, essas partículas acabam indo para os rios, chegam aos estuários e alcançam o oceano.
As águas pluviais
As águas pluviais que chegam aos rios também carregam plásticos e microplásticos. Eles vêm do uso diário de itens feitos de plástico como, por exemplo, embalagens e copos descartáveis, ou pneus de carros e bicicletas.
Um projeto português
Tais itens podem se fragmentar em pedaços cada vez menores de forma física, por meio da ação de atrito e impacto, ou química, com a degradação associada à interação química com a luz solar e a água. Com isso em mente, um projeto português realizou intervenções em bueiros do município de Cascais.
Mas as nossas atividades em terra não são as únicas fontes de microplásticos para o oceano. As atividades que desenvolvemos na água do mar também produzem e liberam microplásticos diretamente no oceano.
Os petrechos de pesca
Os petrechos de pesca (redes e boias) esquecidos ou abandonados no oceano podem ser uma fonte de microplásticos, eles podem sofrer fragmentação com a ação das ondas, e degradação por meio da interação com o sol e a água do mar.
Ainda, os pellets, aqueles que foram encontrados na praia pela Renata e pelo Pepê (primeiro texto da série sobre microplásticos nos oceanos), podem ser liberados diretamente no oceano, com o descarte acidental durante seu transporte por navios ou operações portuárias.
Do continente até o oceano
Durante a jornada dos microplásticos do continente até o oceano, muitas partículas podem ficar no meio do caminho, ou seja, nem todos vão parar flutuando no mar. Rios e estuários podem acumular microplástico nas margens e nos sedimentos de fundo.
Além disso, ainda na região litorânea, ondas, ventos e marés controlam o movimento dos microplásticos, que podem levá-los para as areias das praias.
Quanto e onde o oceano está acumulando de microplástico?
Apesar do crescente número de dados observacionais nas últimas décadas e o melhor entendimento dos cientistas sobre os caminhos percorridos pelos plásticos flutuantes maiores, que tem como base modelos numéricos Lagrangianos. O que acontece com os plásticos, uma vez no oceano, ainda não é totalmente compreendido, principalmente para as frações de menor tamanho – os microplásticos.
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Série Microplásticos nos oceanos: um novo estudo
O recém publicado estudo da Scientific Reports mostra que o destino dos microplásticos no oceano é menos previsível, em parte porque essas partículas interagem com a biota marinha.
A absorção biológica pode moldar significativamente o inventário e as distribuições globais de microplásticos nas águas do oceano.
Particularmente, por meio da incorporação dos microplásticos em pelotas fecais e na neve marinha que afundam na coluna d’água, favorecendo sua deposição nos sedimentos do fundo do oceano.
A distribuição dos microplásticos
Uma vez no fundo do mar, a distribuição dos microplásticos parece ser controlada pelos padrões da circulação termohalina, segundo trabalho publicado na revista Science por Ian Kane e colaboradores (2020). O que acaba por criar verdadeiros hotspots de acúmulo de microplásticos no oceano profundo.
No entanto, os autores alertam que “essas correntes também fornecem oxigênio e nutrientes para os organismos bentônicos que habitam essas regiões profundas, o que sugere que os hotspots de biodiversidade em águas profundas também são provavelmente hotspots microplásticos”.
Mas se eles estão nos sedimentos marinhos você sabia que os microplásticos estão também nos organismos marinhos que você come? O terceiro artigo desta série vai tratar deste assunto.
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