Ricardo Salles, incendiário, toca fogo em Brasília
Não bastam apenas a Amazônia e o Pantanal, ou o descaso com a zona costeira. Humilhar e agredir verbalmente seus próprios comandados do Ibama e ICMBio faz parte do estilo. Não basta criar atritos internacionais com aqueles que doaram bilhões de reais aos cofres públicos para amenizar as queimadas. E, finalmente, não basta indispor o País com a comunidade internacional quase ‘melando’ a COP 25. Ele quer mais. O post de opinião de hoje é dedicado ao ‘Midas ao contrário’, onde põe a mão pega fogo: Ricardo Salles, incendiário, toca fogo em Brasília.
Ricardo Salles, incendiário, toca fogo em Brasília
Ele vai entrar para a história como o pior ministro do Meio Ambiente desde a redemocratização. Será que a cloroquina dá tanto barato? A ‘gestão’ de Salles será lembrada por dois aspectos. Um deles, ideológico e mal informado, é destruir e desmontar uma obra coletiva que começou lá atrás, ao tempo dos militares.
O outro é o ‘estilo administrativo’, que envergonharia um gerente de padaria da esquina. Nada contra as padarias da esquina, por sinal, adoro elas; a comparação aproveita a expressão popular para demonstrar a mediocridade administrativa do ‘casado com o agronegócio’, importante segmento da economia que ele insiste em prejudicar.
Usina de crises
A expressão já foi usada para descrever o amigo dos milicianos cuja família paga contas e compra ativos com dinheiro em espécie, um obstinado vício que ainda vai dar o que falar se a Polícia Federal prosseguir suas investigações.
Mas também veste bem o ignorante ambiental. Este, aliás, é outro vício do capitão cloroquina. Com seu dedo podre, escolhe cuidadosamente as peças chaves para ministérios chaves. Assim foi na Educação, nas Relações Exteriores, no Meio Ambiente, e na Saúde depois que dois profissionais não aceitaram imposições ‘burrológicas’ durante a maior pandemia do século.
O Brasil já tem problemas demais. Mas Salles quer mais. O rapaz, que só veio a conhecer a Amazônia depois de ser ungido ao cargo, aprontou de novo.
Queimadas nos biomas nacionais: Ibama sai ou Ibama fica?
Depois do fiasco de 2019, quando as chamas nacionais arderam até no exterior, o ano foi embora cabisbaixo e soturno. Que venha 2020! Por que sempre temos a esperança de um ano melhor?
2020 veio cheio de panca. Mas dois meses antes de ir embora ainda mais cabisbaixo e soturno, já conseguiu ser pior para os biomas nacionais e a imagem externa de que o chanceler se orgulha, 89.604 focos até 23 de outubro, ante 89.176 nos 12 meses de 2019 segundo o INPE.
Stanislaw Ponte Preta foi certeiro ao criar o Samba do Crioulo Doido, ‘o bode que deu vou te contar’, o Brasil virou pária por obra de um, e gáudio de outro.
É que Ricardo Salles ainda não se deu conta das estações do ano e seus reflexos nos ecossistemas do País com a maior biodiversidade do mundo. Ele acha que micos-leões-dourados são oriundos da Amazônia…
E todos os anos, quando chega o período das secas, a Amazônia pega fogo; neste 2020 foi pior, o Pantanal, arrasado, arde desde julho.
Cabeçadas do gigante pela própria natureza
Então começam as cabeçadas do ministério mais estrambótico que jamais tivemos. Faltam verbas, pessoal, e equipamentos apesar da notável pontualidade das secas. E gestores capazes de darem diretrizes. Ninguém sabe quem manda no quê.
É por isso que criticamos quando de forma unilateral o rapaz que brinca com fogo bombardeou o Fundo Amazônia abastecido com R$ 1,4 bilhão de reais por Noruega e Alemanha justamente para ajudar a combater o fogo na floresta.
Valeu a pena a bravata? O que ganhamos com ela além de indisfarçável mal estar internacional?
Para contornar, a Amazônia foi saída da alçada de um, e entrou na de outro. Mas o ‘outro’ é bombardeado por aquele que o escolheu, por ciúme e inveja da capacidade deste em pronunciar frases com algum sentido; sujeito, verbo e predicado.
A perda florestal de 2020 vai deixar saudades da promovida por Salles e seu mentor em 2019. As reformas? Ora, as reformas, primeiro a reeleição; depois a gente vê.
A ‘gestão’ administrativa de Salles, ameaçando tirar de campo a equipe do Ibama, num ano de brutal aumento de focos de incêndio sobre 2019 provocou mais estresse numa população já bastante estressada por uma pandemia mortal, falta de empregos, e falta de renda; e gerou enxurradas de protestos nas redes sociais.
Mas tente imaginar como isso foi recebido por cerca de 1.400 brigadistas, e as cadeias de comando, que fazem o que podem no meio do inferno? E tudo para, dois dias depois, dar o dito por não dito.
É o estilo ‘gerentão’ em ação.
‘Não verão nada queimado’
Em agosto foi a mesma coisa. As trapalhadas do ‘gestor’ ambiental já não são novidade. Para amenizá-la, aquele que jurou que a pandemia era uma ‘gripezinha’, também jura que os diplomatas ‘não verão nada queimado’ em voo que pretende fazer na região; os satélites do INPE, da Nasa, ou os da Agência Espacial Europeia também tomaram cloroquina?
Por outro lado, nos informa Giovana Girardi, no Estado de S. Paulo, no ano passado Ricardo Salles criou os Núcleos de Contestação para avaliar multas ambientais do Ibama e ICMBio antes de serem contestadas. O resultado, segundo a jornalista, é que na prática o Ibama fez apenas cinco audiências de uma lista que conta com 7.205 agendadas!
Apenas cinco em mais de um ano!, de abril de 2019 mês da publicação do decreto que criou os núcleos até agosto de 2020, data em que a jornalista teve acesso aos documentos.
Os núcleos que não funcionam
Ou ele criou estes núcleos como uma mentira para desviar a atenção da sociedade ou ele mostra que, como gestor, é pior que gerente de padaria da esquina. Enquanto isso, cresceram os focos de incêndio e acusações de fogo intencional. Poderia ser diferente?
A mesma e trágica ‘gestão’ aconteceu em 2019, não por outro motivo houve aumento de 34% nas queimadas em comparação com 2018. As apostas estão abertas, quanto a mais em 2020?
A regularização de terras que não avança
Se existe alguma questão unânime entre governo, entidades do agronegócio, ambientalistas, e estudiosos, é a fundamental regularização fundiária, talvez a única convergência entre os protagonistas.
Mas durante os 12 meses de 2019 o Programa Terra Legal, que vinha titularizando de 3 a 4 mil propriedades por ano, conseguiu emitir apenas seis títulos de propriedades rurais! Mais um feito do gerentão.
A canelada pública no seio do governo
E antes ainda do ano encerrar, Ricardo Salles tacou fogo no já incendiário cenário de Brasília ao acusar publicamente o chefe da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, de ser um ‘Maria Fofoca’.
O mal estar mais uma vez foi geral e demonstrou a baderna em que vivem os ministros do capitão. Mas, no centro da polêmica, o gerente de padaria foi premiado pela ‘excelência’ de seu trabalho.
E o prêmio da Grã-Cruz da Ordem de Rio Branco
Em 22 de outubro, mesmo dia em que brigadistas foram surpreendidos com a ordem de retirada, o ministro do Meio Ambiente recebeu a Grã-Cruz da Ordem de Rio Branco, maior ‘honraria’ concedida pelo Ministério das Relações Exteriores, hoje apequenado por Ernesto Araújo que pretende libertá-lo do… ‘covidismo’, e das mãos de ninguém menos que seu mentor.
E não foi o único prêmio…
‘Acabar com a mamata das ONGs’
Salles bombardeou o Fundo Amazônia e seus R$ 1,4 bilhão que estão congelados, sob a alegação de ‘acabar com a mamata das ONGs’, mas para ele valem as ‘mamatas’.
Neste mesmo ano cinzento e triste para nossos biomas, Ricardo Salles foi empossado em agosto como membro dos conselhos de administração de duas concessionárias de serviços públicos que administram os aeroportos de Guarulhos e Brasília. Rubens Valente, colunista do UOL, foi quem informou.
Especialista dançou pra Salles poder sambar
Valente conta que o gerentão foi indicado pela Infraero, empresa pública federal vinculada ao Ministério da Infraestrutura de Tarcísio Freitas. Para que pudesse assumir, um especialista dançou.
Segundo Valente, Ronei Glanzmann que foi diretor de Políticas Regulatórias de Aviação Civil entre 2011 até 2019 teve que deixar o conselho para que Salles ocupasse seu lugar.
E agora Ricardo Salles, incendiário, na aviação civil
Pobre de nossa aviação civil! E apesar de todos os esforços do jornalista para saber quanto o rapaz levará pra casa por mês, ou por reunião, não recebeu respostas.
Também não conseguiu saber de quantas reuniões Salles, que já tem muito trabalho, participou. Sobre os valores pagos, a concessionária de Guarulhos apenas informou que ‘os valores são informados à CVM’, Comissão de Valores Mobiliários.
Qual a experiência do gerentão na gestão de aeroportos? Mistério em Brasília. Ninguém quis responder.
Stanislaw Ponte Preta antecipou com seu Samba do Crioulo Doido; ou teria sido excesso de cloroquina?
Ganha uma aplicação de ozônio no reto o desinfeliz que informar.
Imagem de abertura: Twitter – reprodução
Fontes: https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/ag-estado/2020/10/23/nenhuma-nova-multa-ambiental-e-cobrada-no-ano.htm?fbclid=IwAR04e4fKj-4FOaV1h277e_TBAMwzcFWXAMtgd9UwsY_2BiKk09BYBDSGAuQ; https://revistagloborural.globo.com/Noticias/Politica/noticia/2020/10/salles-recebe-das-maos-de-bolsonaro-condecoracao-por-servicos-meritorios.html?fbclid=IwAR1UnG6nMP_f6KqZpJcoWf_AwOTonUP_75KNGQLY0MwMHIjGe-sfasdnfYU; https://noticias.uol.com.br/colunas/rubens-valente/2020/10/24/ricardo-salles-concessionarias-aeroportos-guarulhos-brasilia.htm.