Recursos pesqueiros do mundo pilhados pela China
O colosso asiático é a segunda maior economia do mundo, desde 2011. Naquele ano a China ocupou o posto que era do Japão. Em 2011 o PIB chinês chegou a US$ 5,88 trilhões ante US$ 5,47 trilhões do Japão. Segundo especialistas, ‘o resultado era impensável há uma década, quando o Produto Interno Bruto (PIB) chinês representava apenas um terço do japonês’… Para Cláudia Trevisan, ‘no ritmo atual, a China deverá superar os Estados Unidos e se tornar a maior economia do mundo até 2030’. No entanto, um dos últimos países comunistas do mundo não faz concessões. Seus trabalhadores são dos mais pobres do mundo. Só um regime ‘linha dura’ para conseguir crescer sua economia, não necessariamente aumentando salários. Assim é a China, país que não respeita regras democráticas, nem tratados internacionais que julga prejudiciais. Agora, o país é acusado pela pilhagem dos Recursos pesqueiros do mundo.
Recursos pesqueiros do mundo pilhados pela China
E não é a primeira vez que acontece, ao contrário. Já se tornou rotina apontar a China pela expansão predatória dos mares do planeta.
Neste mês de julho de 2020 as manchetes internacionais denunciaram: ‘Galápagos: frota gigante de 260 navios chineses vasculha o oceano’. Uma enorme frota de pesca chinesa, composta por 260 navios, está atualmente navegando em águas internacionais da América do Sul, entre a Zona Econômica Exclusiva do Equador e a Reserva Marinha do Arquipélago de Galápagos.
Galápagos, celebrizada por Darwin em sua histórica viagem do Beagle, é uma reserva marinha protegida. Mesmo assim, de tempos em temos enormes navios pesqueiros da China são pegos em flagrante detonando os cardumes.
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O país não tem vergonha de se expor. Em 2013 o país iniciou conversas com o governo do Uruguai visando um terminal de pesca. Não deu certo. Então, mais recentemente, em janeiro de 2021, a China teve o desplante de oferecer ao governo do Rio Grande a construção de um polo pesqueiro para seus navios.
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Estudo internacional denuncia postura predadora da China
Já em 2013, um estudo publicado na revista científica Nature alertou sobre a pressão excessiva dos barcos de pesca chineses nos oceanos do mundo.A China é a nação preponderante da economia dos oceanos. Este relatório, coordenado pelo biólogo Daniel Pauly, quantificou pela primeira vez a extensão da pilhagem dos recursos pesqueiros do mundo pela China.
Entre 2000 e 2011, até 6,1 milhões de toneladas de peixe por ano seriam capturadas pelas frotas do país. No mesmo período, no entanto, Pequim relatou apenas cerca de 368.000 toneladas de peixe por ano à Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Declarações, portanto, doze vezes menores do que os números coletados por especialistas do setor!
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Usando de artifícios como pescar onde lhe der na veneta, não respeitando as poucas áreas marinhas protegidas, a China subiu para o topo dos países que capturam mais peixes, e as quantidades estão aumentando constantemente, com nada menos que 15 milhões de toneladas capturadas por ano, de acordo com dados publicados pela FAO em 2018.
O problema é que grande parte desses recursos é proveniente de águas internacionais, longe da China. Muitos navios chineses também estão aproveitando a fraqueza das forças navais de certos países para saquear suas zonas econômicas exclusivas.
Recursos pesqueiros na costa da África e da América do Sul
Apesar da imensidão das águas territoriais chinesas, o país parece ter chegado próximo ao esgotamento em seu ‘quintal’. Agora dirige suas enormes frotas, auxiliadas por navios de abastecimento e navios-fábrica para outros locais. Desta forma, sendo constantemente reabastecidos em pleno oceano, a passando sua carga para navios-fábrica, os pesqueiros chineses às vezes ficam anos seguidos no mar.
Sem democracia, os cidadãos chineses sequer ficam sabendo o que acontece. Da mesma forma, operários que ousem reclamar melhores condições de trabalho sabe-se lá que tipo de represália enfrentam. Assim, a predação continua, apenas é criticada quando se percebem os escândalos, como o estudo da Nature, a prisão de barcos em 2017 na mesma Galápagos (uma frota de 297 barcos de pesca). Ou denúncias em congressos internacionais como fez o pesquisador Enric Sala, diretor executivo da Pristine Seas.
Terminal pesqueiro chinês no Uruguai
Em 2019 o Mar Sem Fim alertou que o Uruguai havia sido escolhido como base de reparo e fornecimento de recursos para todos os navios da China e Taiwan. E também outros países que pescam no Atlântico Sul.
E mostrávamos que no final de 2017 a ONG Oceanosanos realizou uma série de reuniões com autoridades governamentais uruguaias para expressar seu completo desrespeito a um projeto para um terminal portuário chinês.
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O resultado é que a predação agora acontece nestas plagas.
O quiprocó em 2017: China x Equador
Em 2017, as autoridades do Equador avistaram uma enorme frota ao largo de sua costa, com 297 barcos de pesca. Entre eles, a marinha equatoriana conseguiu embarcar em uma traineira chinesa nas Galápagos. O Fu Yuan Yu Leng 999 continha em seu acervo nada menos que 300 toneladas de peixes, incluindo muitas espécies protegidas, mais de 6.600 tubarões, incluindo tubarões-martelo (por causa de suas barbatanas) ameaçados.
A investigação revelou mais tarde que o navio estava recuperando as capturas de cerca de 100 navios de pesca que navegavam no limite das águas territoriais circundantes.
Quito na época convocou o embaixador chinês para fazer um protesto oficial. E os tribunais equatorianos multaram os proprietários do navio de bandeira chinesa em cerca de seis milhões de dólares. O capitão e seus três delegados também foram condenados a três anos de prisão, e os outros 16 tripulantes foram condenados a um ano de prisão.
Pelo visto, não adiantou.
Galápagos, a segunda maior reserva marinha do mundo
A presença repetida de frotas de pesca é ainda mais preocupante, já que a reserva marítima perto de Galápagos, a segunda maior do mundo com 133.000 km2 de área, abriga muitas espécies marinhas ameaçadas de extinção.
O governo equatoriano investiu pesadamente na preservação desse patrimônio. Somente a pesca artesanal é autorizada dentro da reserva e a pesca industrial é proibida. China e Equador também são membros da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, que exige que os dois países contribuam para a preservação da fauna marinha, especialmente espécies.
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Como dissemos, a China só respeita a parte que lhe interessa dos acordos internacionais.
A estratégia dos chineses
Reservas marinhas são abstrações criadas pelo ser humano. Peixes, crustáceos, e mamíferos marinhos não respeitam sua delimitação. Entram, e saem, em suas viagens migratórias. Os chineses sabem disso, e cercam as divisas das reservas, esperando pelo peixe na beira dessas áreas. Isso quando a imagem do país não está muito ferida por adentrar estas áreas.
“Todos os países da região estão preocupados com a presença dessa frota chinesa de arrastões, mas não apenas”, disse o contra-almirante Darwin Jarrín, chefe da marinha equatoriana. Também existem navios-tanque, navios-fábrica, navios logísticos que cobrem e podem pescar facilmente em uma área de mais de 30.000 km2, equivalente às nossas províncias de Guayas, El Oro, Santa Elena e Los Rios. “
Outros países da região também estão preocupados com a presença dessa enorme frota, que varre tudo em seu caminho. Recentemente a Argentina metralhou pesqueiros chineses em suas águas. Acima de tudo é necessário exigir que as organizações internacionais fortaleçam os tratados internacionais de pesca e sua aplicação. Não por outro motivo, a ONU aprovou em 2018 a resolução 72/249 que permitirá a criação de áreas marinhas protegidas em alto- mar.
Os chineses vão respeitar as regras internacionais sobre recursos pesqueiros?
Image de abertura: https://mrmondialisation.org/
Fontes: https://mrmondialisation.org/galapagos-une-flotte-geante-de-260-navires-chinois-ratisse-locean/?fbclid=IwAR0mQExd7jzirfqV80tNwt4WRcUf-hopG4qZ18VkyORgTl2sR2C5v_2_fys; https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,china-se-torna-segunda-maior-economia-mundial-imp-,679636; https://www.rfi.fr/fr/am%C3%A9riques/20200724-l%C3%A9quateur-sinqui%C3%A8te-centaines-bateaux-p%C3%AAche-chinois-pr%C3%A8s-gal%C3%A1pagos; https://www.infobae.com/america/america-latina/2020/07/24/una-enorme-flota-de-pesqueros-chinos-acecha-a-las-islas-galapagos-ecuador-advirtio-que-hara-respetar-su-soberania-maritima/?fbclid=IwAR3-N722E7NnikC1TpMmhLGdEzC6KNkHgValw74oLJVw2bPSMdxXNzQQuRo.