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Qual legado de um presidente? Pista: ao largo da costa de São Paulo

Qual legado de um presidente? A pista está ao largo da costa de São Paulo…

Apesar de alguns avanços na agenda das reformas estruturais, como a trabalhista e a do ensino médio, ou a baixa inflação, o governo Temer parece não conseguir produzir uma notícia boa em razão da sucessão de escândalos de corrupção e do “toma lá, dá cá”, cacoete antigo do Parlamento nacional que adquiriu proporções épicas. Mas, qual o legado de um presidente?

Michel Temer pode entrar para a História… do ambientalismo brasileiro e mundial. Como?

A pista está ao largo da costa de São Paulo. Um dos primeiros atos de seu governo foi a transformação do Arquipélago de Alcatrazes em Refúgio de Vida Silvestre (Revis), engajando conjuntamente os ministros do Meio Ambiente e da Defesa.

Mas a agenda ambiental marinha do Brasil, apesar de resistências internas, pode e deve fazer muito mais, catapultando o Brasil à companhia de países como Chile, México, Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e outros que vêm criando grandes áreas marinhas protegidas em águas jurisdicionais, angariando não apenas reconhecimento internacional, mas, no caso dos países em desenvolvimento, recursos vultosos em agências financiadoras para assegurar a sua implementação.

O legado de um presidente

‘Nosso país, com apenas 1,5% de seu mar abrangido por áreas protegidas…’

…está longe de cumprir as metas internacionais acordadas no âmbito da Convenção da Biodiversidade. Pior: sem elas, não apenas deixamos de arrecadar milhões em atividades de turismo ecológico organizado, mas ainda deixamos de garantir refúgios onde estoques pesqueiros possam recuperar-se da verdadeira razia a que estão sendo submetidos com a continuidade da pesca indiscriminada, que devora a biodiversidade marinha de maneira criminosa e sem futuro.

Legado de um presidente e uma oportunidade única

O Brasil tem na atual conjuntura e na recente aproximação pela temática ambiental dos Ministérios da Defesa e do Meio Ambiente uma oportunidade única de finalmente tirar do papel propostas de novos parques nacionais marinhos e reservas há muito deixadas a mofar na burocracia.

Exemplos de áreas que são consenso científico, e com imenso potencial para o ecoturismo, são a porção leste do Banco dos Abrolhos, o mar jurisdicional ao redor das Ilhas de Trindade e Martim Vaz e a remota e belíssima região do Albardão, na costa gaúcha; além da urgente proteção ao Arquipélago de São Pedro e São Paulo.

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São refúgios derradeiros de espécies oceânicas que estamos à beira de deixar extinguir pela predação imediatista de frotas pesqueiras.

Áreas marinhas de proteção integral, o legado de um presidente às futuras gerações

É preciso, sim, que essas novas áreas protegidas marinhas sejam destinadas a usos não extrativos. Por um lado, a gestão pesqueira do século 21, amparada no melhor conhecimento científico, exige que existam essas grandes áreas fechadas à pesca para permitir que nos outros 90% do nosso mar a produtividade das espécies de valor comercial seja mantida ao longo do tempo.

Por outro, está provado que os turistas interessados em natureza procuram lugares com proteção ambiental para realizar seus mergulhos e passeios. Proteger o mar é bom negócio para todos.

Até o obtuso George W. Bush se engajou na proteção dos mares

É preciso que se diga que na maioria dos países civilizados a conservação marinha virou prioridade pluripartidária. Até o obtuso George W. Bush, republicano, criou à época de seu governo a que era a maior reserva marinha do planeta.

O democrata Barack Obama, antes de deixar a Casa Branca, declarou: “Se nós vamos deixar para nossos filhos os oceanos como foram deixados para nós, então vamos ter de agir, e vamos ter de agir com ousadia”.

Em seguida, aumentou em 20 vezes as áreas marinhas protegidas americanas, incluídas as criadas por seu antecessor. Por quê? Porque cuidar do mar é política inteligente e que dá resultados – econômicos, sobretudo.

20 milhões de votos à sua espera, presidente

Mesmo num país como o nosso, com tantos problemas estruturais, na última eleição presidencial a candidata com plataforma ambientalista amealhou nada desprezíveis 20 milhões de votos.

Em 2018 esse não é um eleitorado que qualquer partido deva desprezar. E ele está órfão de realizações práticas.

Proteção das áreas marinhas: essencial ao desenvolvimento econômico

Reiteramos que essa proteção das áreas prioritárias mencionadas é essencial ao desenvolvimento econômico de nosso mar e ao exercício de nossa soberania ambiental marinha, razão pela qual é fundamental a presença da Marinha do Brasil no apoio à criação e implementação em seu espaço de atuação.

Legado de um presidente: governo Temer tomou decisões corajosas…

O governo Temer tem tomado decisões corajosas e de grande importância para o meio ambiente, que a militância de esquerda travestida de “ambientalista” tenta abafar, mas os técnicos aplaudem, como o programa de conversão de multas ambientais e o estímulo, ainda tímido, à participação da iniciativa privada no desenvolvimento do ecoturismo em nossos parques e áreas naturais.

A criação desses santuários marinhos, que fazem falta à Amazônia Azul, é a oportunidade de fazer com que o acerto de colocar Zequinha Sarney à frente da política ambiental finalmente ganhe a projeção e o reconhecimento internacionais que merece.

Desde que houve a redemocratização, nenhum dos eleitos olhou para o mar

Desde que houve a redemocratização, nenhum dos eleitos olhou para o mar. Alguns criaram muitas unidades de conservação no espaço terrestre e outros, nem tantas. Uns instituíram o maior esquema de corrupção que o País já viu. E houve até quem, deliberadamente, quebrasse o Brasil.

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Olhe para o mar, presidente, lembre-se de Obama e aja com ousadia

A oportunidade está aberta. Queremos ver essa coragem exercitada para passar à História como o único presidente brasileiro preocupado com um legado ambiental marinho.

As propostas estão prontas e os apoios nacionais e internacionais, alinhados. Falta apenas que o primeiro mandatário brasileiro se some a Michelle Bachelet, Bush, Obama, Peña Nieto e tantos outros líderes regionais e globais em deixar para esta, e as futuras gerações, um mar vivo e protegido.

Olhe para o mar, presidente, lembre-se de Obama e aja com ousadia. Está em suas mãos.

Por: José Truda Palazzo Jr. e João Lara Mesquita, para O Estado de S.Paulo

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