Ponto Nemo, o mais ermo da Terra, torna-se cemitério de naves espaciais
Já escrevemos aqui sobre o ponto mais ermo da Terra, o Ponto Nemo. Localizado a mais de 1.000 milhas (1.600 km) equidistantes das costas de três ilhas remotas: a Ilha de Ducie (uma das ilhas de Pitcairn), ao norte; Motu Nui (da cadeia da Ilha de Páscoa), ao nordeste; e Ilha de Maher (ao largo da costa da Antártida), ao sul. Nemo, que significa ‘ninguém’ em Latim, foi uma homenagem ao famoso Capitão Nemo, o marinheiro anti-herói de Júlio Verne. O que não sabíamos é que este ponto isolado foi escolhido para ser o cemitério de naves espaciais.
Estação espacial MIR
O Ponto Nemo é o local ideal para descartar naves espaciais desativadas, sendo conhecido como o “cemitério de naves espaciais” pela NASA. Tecnicamente, é denominado “ponto de inacessibilidade oceânica” devido à sua localização a cerca de 2.700 km de qualquer terra. No entanto, é mais comumente referido como o cemitério espacial, ou Ponto Nemo.
Entre 1971 e 2018, informa a BBC, as principais potências espaciais globais, incluindo os Estados Unidos, a Rússia, o Japão e a Europa, descartaram mais de 263 objetos espaciais na remota região do oceano. Essa lista abrange a estação espacial Mir da era soviética, seis naves do programa Salyut do mesmo país, além de 140 veículos de reabastecimento russos. Também estão incluídos seis veículos de transferência de carga lançados pelo Japão e cinco pela Agência Espacial Europeia (ESA).
Segundo Bill Ailor, engenheiro aeroespacial e especialista em reentrada atmosférica, “É um ótimo lugar onde você pode colocar coisas no chão sem bater em nada.”
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A zona de despejo de naves espaciais mortas
Os astronautas que habitam a Estação Espacial Internacional vivem mais próximos do cemitério de naves espaciais do que qualquer outra pessoa. Isso ocorre porque a ISS orbita a cerca de 360 km acima da Terra, e o Ponto Nemo, quando a estação espacial sobrevoa a área, fica mais próximo do que as ilhas, que estão muito mais distantes.
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A BBC diz que, Conforme Alice Gorman, professora associada de arqueologia espacial na Universidade Flinders, na Austrália, as partes das espaçonaves que permanecem mais intactas após a reentrada são geralmente aquelas que foram projetadas para suportar extremos de calor ou pressão, a fim de cumprir o seu propósito original.
“Na maioria das vezes, são os tanques de combustível ou os propulsores de foguetes que sobrevivem porque contêm combustíveis criogênicos [propulsores de gás que foram resfriados e condensados até ficarem líquidos] ou porque estão em combustão a temperaturas muito altas, então os tanques de combustível precisam ser realmente robustos para suportar isso”, diz Gorman.
Milhares de corpos de foguetes descontrolados orbitam a Terra
Segundo os especialistas, existem milhares de corpos de foguetes descontrolados orbitando a Terra, juntamente com mais de 12.000 objetos artificiais maiores que um punho. Além disso, há inúmeros parafusos, cavilhas, manchas de tinta e pedaços de metal.
Os países aprenderam ao longo dos anos que, quando criam detritos, apresentam um risco para seus próprios sistemas, assim como para todos os outros.
O pior tipo de risco, de acordo com a Agência Espacial Europeia, é quando um pedaço de lixo espacial acidentalmente atinge outro, especialmente se os objetos forem grandes. Portanto, é possível que o cemitério do Ponto Nemo não cresça tanto assim. Os cientistas pressionam para que sejam desenvolvidas novas tecnologias e métodos que possam laçar, ensacar, rebocar e remover o material antigo e descontrolado que já existe e continua a representar uma ameaça.
O problema mundial do lixo
É verdade, a questão do lixo, tanto na Terra como no espaço, é um desafio cada vez mais urgente. O problema do lixo espacial resulta das atividades humanas no espaço e da falta de um método eficaz para removê-lo ou gerenciá-lo. A quantidade de lixo produzida por um ser humano pode variar significativamente, dependendo do estilo de vida, local de residência e hábitos de consumo. Em países em desenvolvimento, o volume médio de lixo per capita pode ser menor do que em nações mais industrializadas, mas isso não significa que o impacto ambiental seja necessariamente menor.
É fundamental conscientizar as pessoas sobre a importância da redução, reutilização e reciclagem de resíduos, além de promover a gestão adequada do lixo, independentemente do país. Além disso, no espaço, é necessário desenvolver tecnologias para lidar com o lixo espacial e prevenir colisões que possam gerar ainda mais detritos. Essas questões são desafios globais que exigem esforços conjuntos para solucioná-los.
Segundo dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2020, a geração saiu de 66,7 milhões de toneladas em 2010 para 79,1 milhões em 2019, uma diferença de 12,4 milhões de toneladas. O mesmo estudo diz ainda que cada brasileiro produz, em média, 379,2 kg de lixo por ano, o que corresponde a mais de 1 kg por dia.
Em resumo, este é um problema que exige participação de todos, do mais humilde cidadão, ao mais rico e, claro, dos governos em suas diversas esferas.
Assista ao vídeo e saiba mais sobre o Ponto Nemo e as naves espaciais
Imagem de abertura: Bezos Expeditions.
Fontes: https://www.theguardian.com/science/2021/sep/04/thousands-of-kilometres-from-anywhere-lies-point-nemo-a-watery-grave-where-space-stations-go-to-die; https://www.sciencealert.com/spacecraft-graveyard-point-nemo-tiangong-1-ocean-satellites-space-stations-junk-2018; https://www.thevintagenews.com/2021/01/06/point-nemo/?firefox=1.