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Pontal do Peba, Alagoas, enfrenta erosão crítica

Pontal do Peba, Alagoas, enfrenta erosão crítica

Pontal do Peba é um balneário de Piaçabuçu, às margens do São Francisco. É um lugar de extrema beleza. No entanto, pode desaparecer do mapa, assim como aconteceu com o povoado do Cabeço, município de Brejo Grande, anos atrás. O déficit de areia é evidente. Sedimentos que antes chegavam ao mar pela força do rio não chegam mais. O homem mutilou este rio. Existem 21 barragens e cinco hidrelétricas: Sobradinho, Apolônio Sales, Paulo Afonso, Luiz Gonzaga e Xingó. A NOAA afirma que ‘os rios são sistemas dinâmicos, sempre mudando e movendo materiais das cabeceiras a jusante como correias transportadoras gigantes. As barragens bloqueiam esses processos’.

Foral do Cabeço, foz do São Francisco
O farol do Cabeço foi construído em terra firme mas, depois de tantas barragens, a erosão começou e não para mais. A vila do Cabeço, abrigava cerca de 300 moradores, e contava com 50 casas, uma igreja e uma escola, mas foi tragada  em 1997. Acervo MSF.

Além das barragens, ao longo do tempo removeram quase toda a mata ciliar do São Francisco. Esses dois processos provocaram o assoreamento do rio, especialmente no baixo São Francisco, mas não apenas lá. Na década de 90, o povoado foi tragado pelo mar. O farol, instalado em terra firme em 1873, agora está submerso.

Erosão no Pontal do Peba

Toda a região da foz do São Francisco é belíssima, uma das mais bonitas do litoral do País. As dunas do Peba contribuem para a formação única da paisagem, assim como as praias. São 22 quilômetros de dunas que seguem a Praia do Peba. desde Pontal do Peba, pequena cidade próxima a Piaçabuçu, até a foz do São Francisco. Para o interior das dunas há ainda uma bonita mata de restinga.

Contudo, com o acirramento dos eventos extremos, e a subida do nível do mar, as ressacas ficaram bem mais fortes na região. Algumas vezes as ondas atingem 3 metros de altura. Nos últimos tempos o o mar avança mais de quatro metros por ano! Assim, a areia da praia se retira constantemente, mas nunca mais retornou após a construção das barragens ao longo do curso do rio. O resultado é um déficit constante de areia.

Segundo Marco Lyra, engenheiro especializado em proteção costeira e recuperação de praias, ele alerta de forma contundente: ‘Se ninguém tomar uma ação para conter o avanço do mar no Pontal do Peba, num futuro próximo, a população local terá que deixar a área, assim como os moradores do Povoado Cabeço’, revelou o Repórter Maceió.

Lyra explica que “a redução do volume de água corrente do rio São Francisco, junto com a intrusão de águas do Oceano Atlântico, tem efeitos que se estendem por dezenas de quilômetros a partir da foz. Cidades e pequenos povoados que antes dependiam do rio para o abastecimento de água estão enfrentando altos níveis de salinização.” Este processo de enfraquecimento do rio São Francisco desencadeou uma forte erosão na costa, próximo à sua foz.

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Medidas urgentes para mitigar a erosão destruidora

Segundo o especialista, “essa triste realidade já está se manifestando no Pontal do Peba, e quanto mais tempo passarmos sem agir, pior será a situação. É imperativo que os gestores tomem medidas urgentes para mitigar a destruidora ação do mar nas cidades costeiras.”

Essa situação acontece no balneário há mais de três décadas, quando a foz do rio São Francisco começou a sofrer com o avanço do mar no local mas, a cada dia que passa, o cenário fica pior. Como nada indica que o aquecimento será contido, é muito provável que a pequena cidade perca parte de suas ruas e construções.

A Área de Proteção Ambiental de Piaçabuçú, unidade de conservação federal do bioma marinho, também foi criada para proteger a desova de tartarugas na Praia do Peba. Dos cinco tipos que frequentam a costa brasileira, quatro desovam aqui. A única que não o faz é a tartaruga de couro. A APA também se propõe a proteger as aves migratórias, e nativas, que se alimentam na mesma praia.

O rio São Francisco é mais um que está na UTI

Já mostramos por aqui que a vasta maioria dos rios brasileiros que deságuam na costa estão na UTI, assoreados, imundos, cada vez com menos água e mais sujeira. O São Francisco não é exceção.

Entre 2008 e 2012 uma equipe de pesquisadores liderada pelo professor José Alves Siqueira, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Petrolina, Pernambuco, promoveu 212 expedições ao longo e no entorno do São Francisco. Era o tempo da divulgação da transposição do rio… Em seguida o estudo foi reunido no livro “Flora das caatingas do Rio São Francisco: história natural e conservação” (Andrea Jakobsson Estúdio).

O trabalho é considerado o mais profundo estudo sobre a Caatinga, único bioma exclusivo do Brasil. O título do primeiro capítulo é emblemático: ” A extinção inexorável do rio São Francisco.

O professor José Alves Siqueira explica:

Mostro os elementos de fauna e da flora que já foram perdidos. É como uma bicicleta sem corrente, como anda? E se ela estiver sem pneu? E se na roda estiver faltando um raio, e quando a quantidade de raios perdidos é tão grande que inviabiliza a bicicleta? Não sobrou nada no Rio São Francisco. Sinceramente, não sei o que vai acontecer comigo depois do livro, mas precisava dizer isso. Queremos que o livro sirva como um marco teórico para as próximas décadas. Vou provar daqui a dez anos o que está acontecendo.

Assista ao vídeo da APA de Paiçabuçu e saiba mais

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