Plástico biodegradável é desenvolvido pela Universidade Federal do Paraná
A Universidade Federal do Paraná (UFPR) está engrossando as fileiras de instituições que desenvolvem pesquisas para livrar o mundo do plástico descartável de origem fóssil. Ou seja, plásticos de vida curta à base de petróleo, que podem levar centenas de anos para se decompor na natureza. E, enquanto não se degradam naturalmente, vão entupindo o meio ambiente. Incluindo os oceanos, onde causam graves danos à vida marinha, como Mar Sem Fim já mostrou muitas vezes. Pesquisadores do Laboratório de Engenharia Bioquímica e de Biotecnologia da UFPR estão desenvolvendo três estudos de embalagens de plástico biodegradável.
O mais avançado deles é o de um plástico produzido a partir de amido, como trigo e mandioca, além de subprodutos da indústria de cereais. O projeto está em fase de finalização e já mostra que o plástico se degrada na natureza em até cinco meses. Ele pode ser usado na produção de sacolas plásticas, comuns em supermercados. E também na fabricação de sacos de lixo. Não é a primeira vez. Há muitos cientistas nas universidades em busca do plástico 100% biodegradável.
Plástico biodegradável: amido e rejeitos da agroindústria
“É possível aplicar os filmes produzidos em embalagens cartonadas, pelas propriedades mecânicas apresentadas. Podem ainda ser aplicados em sacolas resistentes, ideais para embalar alimentos. E para usar em rolos de supermercado. Os testes já dão positivo para esses usos, mas outras aplicações também estão sendo pesquisadas, como para recobrir alimentos.” Quem explica é a coordenadora das pesquisas, a professora Michele Rigon Spier. Ela é do Departamento de Engenharia Química e do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Alimentos da UFPR. Segundo a pesquisadora, os estudos em busca de embalagens biodegradáveis começaram logo no início de 2018. Ou seja, em apenas dois anos já obtiveram resultados muito positivos.
Canudinhos e talheres plásticos comestíveis
As outras duas pesquisas envolvem rejeitos agroindustriais. Mas ainda vão levar mais algum tempo para serem concluídas, diz Spier, que é ainda engenheira de alimentos. Uma delas utiliza cascas de frutas como matéria-prima para gerar plásticos biodegradáveis. Embalagens e produtos plásticos, como canudinhos e talheres finalmente banidos de São Paulo, que poderão até ser comestíveis, afirma a professora. Já a terceira utiliza fibras de resíduos da agroindústria, como cascas de arroz e outros tipos de grãos, além de sementes.
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A receita do plástico à base de amido também pode conter algas. O que confere uma cor esverdeada ao produto final. Ou corantes naturais para se obter outras tonalidades nos produtos finais. Só com o amido, a cor é branca e tem leve transparência, diz a professora. A fórmula completa é mantida em sigilo. No entanto, Spier assegura que todos os compostos, incluindo os aditivos utilizados na formulação, são naturais e não poluentes. “São, inclusive, utilizados pela indústria de alimentos e se degradam naturalmente no meio ambiente, no mesmo prazo. Seguimos todas as normas e requisitos legais para a produção de embalagens biodegradáveis e os nossos projetos atendem a todos esses padrões.”
Embalagens, degradação em até cinco meses
Um desses requisitos é que a degradação do material deve ocorrer em até 180 dias, ou seja, seis meses. E os testes da UFPR simularam a degradação em solo típico brasileiro, considerando fatores como pH (acidez) e umidade da terra.
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Não é aterro sanitário, é solo normal. Enterramos determinada quantidade de plástico em terra com um pouco de adubo orgânico e acompanhamos a degradação. Vamos quantificando a perda de massa em determinados períodos. Em até cinco meses, nosso plástico já desapareceu totalmente.
A próxima fase de testes será a degradação em ambiente aquático, de rios e mares. “Em dois meses, vamos testar como se decompõem com água doce e salgada.”
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Os testes e análises do plástico biodegradável a partir de amido desenvolvido pela UFPR apontam performance similar às propriedades de filmes plásticos de petróleo. Tem atributos como flexibilidade, permeabilidade, resistência e espessura comparáveis aos plásticos à base de petróleo da categoria polietileno de baixa densidade (PEBD). Trata-se do termoplástico utilizado para a produção de filmes flexíveis, embalagens para líquidos, utilidades domésticas, filmes para produtos de higiene e plastificação, entre outras aplicações.
Dados da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) apontam que o PEBD responde por 11,4% do total de resinas termoplásticas consumidas no Brasil – 7,5 milhões de toneladas, sendo 6,2 milhões de transformados plásticos, em 2017 (últimos dados disponíveis). Tem ainda uma fatia importante do total de plástico com ciclo curto de vida (até um ano); os descartáveis. Esses respondem por cerca de 35% da produção de plásticos.
Plástico biodegradável é competitivo
Em um primeiro momento e até ganhar produção em escala, o plástico biodegradável não tem como competir com os convencionais, diz Spier. A professora, no entanto, afirma que ele pode ser totalmente viável e competitivo em muitas aplicações. Uma vez que os equipamentos e maquinários para a produção do plástico biodegradável são os mesmos utilizados na fabricação do produto à base de petróleo. E a matéria-prima é renovável e mais barata. Além de o processo produtivo reaproveitar, em grande parte, rejeitos agroindustriais que iriam parar no lixo. “Não precisa extrair petróleo, muitas vezes em águas profundas nos oceanos, para processar e transformar em resinas.”
Estas novidades são especialmente bem-vindas sabendo-se que o Brasil é um dos maiores produtores de lixo plástico.
Benefício maior para o meio ambiente
“O Brasil precisa de políticas e estímulos públicos para o desenvolvimento dessas soluções e também para o consumo. Assim como observamos em países como Portugal, França e Alemanha”, ressalta a professora. Spier diz que o plástico biodegradável da UFPR já desperta o interesse de empresários. “É o que queremos, que seja um legado para a sociedade. Estamos abertos a convênios e parcerias até com empreendedores, que desejam iniciar um negócio.” A ideia, diz a pesquisadora, é que a sociedade perceba que o valor do plástico biodegradável está além da embalagem ou produto final. “O grande benefício é para o meio ambiente.”
Imagem de abertura: https://www.sobiologia.com.br/.
Fontes: http://www.abiplast.org.br/wp-content/uploads/2019/10/perfil2018-web_VC.pdf