❯❯ Acessar versão original

Peixe-serra: o gigante marinho criticamente ameaçado de extinção

Peixe-serra: o gigante marinho criticamente ameaçado de extinção

O peixe-serra (família Pristidae) é uma criatura marinha notável, reconhecida por seu focinho alongado semelhante a uma serra. Apesar de sua aparência imponente, está entre os peixes marinhos mais ameaçados do planeta. A combinação de pesca intensiva, perda de habitat e captura acidental em redes de pesca levou a uma drástica redução de suas populações em todo o mundo.

Imagem de peixe-serra
Imagem, National Geographic, Peter Kyne.

Peixes-serra, uma espécie de raia

Os peixes-serra são mais uma espécie icônica que desapareceu de mais da metade das áreas costeiras onde viviam. Um estudo publicado na Science Advances aponta a sobrepesca como principal causa. Aos poucos, os mares perdem sua diversidade com o sumiço das espécies mais curiosas e impressionantes.

Na apresentação do estudo, a revista alerta: “Essas arraias, que lembram tubarões, já habitaram águas quentes de 90 países. Hoje, desapareceram de mais da metade desses locais.”

‘A sobrepesca e a perda de habitat reduziram a ocupação espacial, levando à extinção local em 55 das 90 nações, o que equivale a 58,7% de sua distribuição histórica. Proibições de retenção e proteções de habitat são urgentemente necessárias para garantir um futuro para peixes-serra e espécies semelhantes’.

Uma das espécies em maior perigo no mundo

Os peixes cartilaginosos como tubarões e arraias estão em perigo faz tempo. Ainda recentemente, publicamos um post mostrando que metade das31 espécies de tubarões oceânicos do mundo, além da arraia jamanta, agora estão listadas como ameaçadas ou criticamente em perigo pela União Internacional para Conservação da Natureza.

Imagem, ecoinforme.com.br.

O motivo é o mesmo, os excessos da pesca mundial. O resultado, aponta um estudo publicado na Nature, é que a população de tubarões e arraias caiu 70% em 50 anos.

PUBLICIDADE

Agora mais uma destas espécies, o peixe-serra, entra para a lista das ameaçadas de extinção. O que preocupa os pesquisadores é a rapidez da perda de biodiversidade mundial. O que antes levava centenas de anos para acontecer, agora se multiplica com assustadora rapidez, seja em ambientes terrestres, seja nos  oceanos.

Um ícone da vida marinha a caminho de entrar nos livros de história

A National Geographic, em matéria de 2019, assim descreve o animal: ‘Os peixes-serra são arraias grandes com extensões de nariz longas em forma de serra elétrica, chamadas de rostros, que usam para encontrar e atordoar as presas em águas turvas’.

‘Eles são os mais ameaçados de extinção de todos os tubarões e raias – e de acordo com algumas medidas, de todos os grupos de peixes marinhos. Todas as cinco espécies de peixes-serra estão ameaçadas de extinção, apesar de já terem povoado em grande número as águas tropicais e subtropicais dos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico’.

Em breve este peixe, tão bonito quanto estranho, fará parte de livros que mostram como eram povoados os mares no passado. Ele tem alguns inimigos, entre eles sua lenta reprodução.

Onde esses peixes ainda resistem

Os pesquisadores se perguntam como foi possível que um peixe tão grande e icônico pudesse sumir de quase 90 países onde conseguia se reproduzir.  Eles agora concentram seus esforços em dois deles.

A National Geographic conversou com Nick Dulvy, ecologista marinho da Simon Fraser University, em Vancouver. Nick se surpreende com o desaparecimento silencioso: “É difícil imaginar que algo com sete metros de comprimento sumiu sem que a gente notasse.”

Mas logo destaca o que mais importa: “A grande urgência agora é descobrir como salvar as populações que ainda restam.”

Flórida e Austrália, locais onde ainda podem ser salvos

Segundo Dulvy, restam apenas duas fortalezas para os peixes-serra no mundo. A Flórida abriga o peixe-serra pequeno. Já o norte da Austrália concentra as outras quatro espécies conhecidas: o peixe-serra anão, o peixe-serra estreito, o de dente grande e o peixe-serra verde.

“Se nada mais acontecer na próxima década, esses serão os únicos dois lugares em que sobrarão peixes-serra”, diz Dulvy.

De acordo com a matéria da National Geographic, ainda há quatro países que têm em suas águas o peixe-serra, Papua Nova Guiné, Bahamas, Brasil e Sudão, mas são países em desenvolvimento, ou pobres, onde as pesquisas nunca acontecem de maneira satisfatória.

Crendices pioram a situação

Além da pesca incidental, outros inimigos da espécie são costumes arraigados que persistem ainda hoje. Segundo matéria da NG ‘além de suas nadadeiras serem algumas das mais valiosas no mercado de comércio de barbatanas, os dentes cravejados em seu rostro podem render várias centenas de dólares como esporas em lutas de galos na América Central e do Sul’.

O animal no Brasil

Pesquisamos para saber a situação do peixe-serra no Brasil, mas trata-se de tarefa das mais difíceis. Desde o governo Dilma o Brasil não conta com estatísticas da pesca, portanto não se sabe o que se pesca, e em qual quantidade.

PUBLICIDADE

Encontramos esta imagem sem identificação do local, possivelmente a Amazônia, no site essaseoutras.com.br.

O que conseguimos descobrir é que este parente dos tubarões contava com três espécies no Brasil. Duas delas, acredita-se, que ainda existam: Pristis pristis e o Pristis pectinata. Uma terceira, P. pectinata,  foi extinta.

Em nossa pesquisa descobrimos talvez um dos últimos exemplares fisgados. Um animal de quase 500 kg fisgado em Alcântara, Maranhão, e desembarcado em Mangue Seco a cidade de Raposa (Foto: Domingos Costa / Divulgação).

A matéria mais recente que encontramos sobre a espécie é de 2019, publicada pelo site ecobiogeo.com. Segundo o texto, há registros históricos da presença do Pristis pristis na Bahia. Pescadores relataram a ocorrência do peixe-serra no estuário dos rios Paraguaçu, Subaé, Inhambupe, Pojuca e Jaguaribe — e até guardavam a “serra” como troféu.

Mas desde meados da década de 1970 ninguém mais viu ou capturou um exemplar na região.

Na Amazônia

No Brasil, ainda existem registros do Pristis pristis no Norte do país, especialmente na costa oriental da Amazônia. Mesmo com a captura proibida desde 2004 pela Instrução Normativa IN 05/2004 do Ministério do Meio Ambiente — e com o comércio vetado mundialmente desde 2013 — a pesca ilegal continua.

Pequenas embarcações usam redes de deriva para capturar o animal. Depois, vendem a carne em postas ou filés, rotulando-a como se fosse de outras espécies de tubarões ou raias para driblar a lei.

Imagem de abertura: National Geographic, Peter Kyne.

Fontes: http://ecobiogeo.com/blog/2019/10/17/dia-internacional-do-peixe-serra/; https://www.nationalgeographic.com/animals/article/searching-for-last-remaining-sawfish; https://advances.sciencemag.org/content/7/7/eabb6026; http://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2015/06/pescadores-capturam-peixe-serra-de-quase-500-kg-em-alcantara-ma.html.

Guerra da lagosta, a guerra que não houve

Sair da versão mobile