O Pampa perde 30% de sua área desde 1985
Ele ocupa apenas 2% do território nacional, e é o único bioma localizado apenas em um Estado, o Rio Grande do Sul. Entre os seis biomas nacionais, é um dos menos comentados. O pampa parece ser como o bioma marinho, ele não comove as pessoas, ou o faz de maneira superficial. Assim, acaba recebendo menor atenção dos órgãos responsáveis, o Ibama e o ICMBio. Por estes motivos, chamar a atenção já que mídia não o faz, em 2022 mostramos que, ao contrário do que se pensa, os campos nativos também funcionam como sumidouros de carbono. Encontramos uma bela matéria sobre o pampa, de autoria de Evanildo da Silveira, no site Mongabay. Registramos algumas das informações.
‘Bioma mais degradado do Brasil, Pampa está virando soja e areia’
O subtítulo está entre aspas porque é o título da matéria do Mongabay. A reportagem mostra que o cultivo de soja e a silvicultura continuam como os principais fatores por trás do desmatamento da vegetação nativa, que tem uma das maiores biodiversidades por metro quadrado do Brasil.
No entanto, há um terceiro elemento que também preocupa. O Pampa sofre ainda com a arenização, processo natural agravado pela atividade econômica; produtores locais vêm tentando revertê-la.
Evanildo da Silveira concorda com o esquecimento. ‘Com uma área de apenas 176 mil km², ou meros 2% do território nacional, o Pampa —grosso modo, a metade sul do Rio Grande do Sul —, é um bioma praticamente “invisível”. Enquanto os olhos e a atenção do mundo estão voltados para a Amazônia e, em menor grau, para o Pantanal e o Cerrado, o extremo sul do país está sendo degradado sem que quase ninguém dê atenção’.
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A biodiversidade do Pampa
Evanildo da Silveira cita um dado do engenheiro agrônomo Tales Tiecher, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS): “o Pampa gaúcho apresenta a maior biodiversidade de plantas por metro quadrado entre os ecossistemas brasileiros, mas tem sofrido uma drástica redução de sua área de vegetação nativa. “Proporcionalmente, o bioma está entre o mais degradado do país, à frente da Amazônia e do Cerrado’”
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Segundo Tiecher, “cerca de um quarto das aves campestres estão sujeitas a algum grau de ameaça de extinção em pelo menos uma parte do bioma. Enquanto isso, cerca de 30 espécies de mamíferos estão sob risco de desaparecerem para sempre”, alerta. “Além disso, diversas espécies de répteis, anfíbios e plantas também sofrem ameaça.”
Os areais, mais um dos problemas
Da Silveira explica que os chamados areais, ou regiões de arenização, existem no Rio Grande do Sul e na Região Centro-Oeste. Sua origem remonta a 200 milhões de anos, quando a maior parte do centro-sul brasileiro era um imenso deserto. É um solo pobre, com muita areia em sua composição.
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Os três problemas juntos podem potencializar o desastre
Silveira mostra que os três problemas juntos podem potencializar o desastre: As atividades agrícolas sobre áreas naturalmente frágeis, somadas a um substrato fortemente suscetível à arenização, podem, no entanto, potencializar os fatores que dão início e contribuem para a evolução desse processo.
Aliás, o problema já começou. O Mongabay ouviu o geógrafo Neemias Lopes da Silva, da UFRGS. Para ele, ‘o que está ocorrendo no Pampa é a intensificação dos processos erosivos associados à arenização pela ação humana’.
Lopes da Silva acrescentou: “Os solos são frágeis e pouco consolidados. Atividades como o alto pastoreio, ou o próprio peso do maquinário agrícola, pode compactar a terra e auxiliar no desenvolvimento de sulcos por onde a água escoará de forma concentrada até desenvolver ravinas e, posteriormente, voçorocas.”
O Mongabay informa que a arenização soma ao todo 3.663 hectares, espalhados pelos municípios de Alegrete, Cacequi, Itaqui, Maçambará, Manuel Viana, Quaraí, Rosário do Sul, São Borja, São Francisco de Assis e Unistalda.
Eucaliptos, um erro do governo gaúcho
Evanildo da Silveira alerta que ‘além da falta de ação para recuperar as áreas arenizadas, outro problema são as tentativas inadequadas de fazer isso, como é o caso da silvicultura. Desde a década de 1970, houve projetos, inclusive alguns com apoio do governo estadual do Rio Grande do Sul, de recuperar os areais plantando eucaliptos sobre eles’.
Para o geógrafo Neemias Lopes da Silva, “muitas das propostas de atividades econômicas, que veem os areais somente como um problema a ser combatido, são responsáveis por intervenções que descaracterizam a paisagem e alteram a dinâmica deste ecossistema”, diz Silva. “É o caso da silvicultura, com a ideia de formação de uma matriz de produção florestal nestas áreas.”
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“Onde a silvicultura é desenvolvida, o areal não é recuperado, ele somente fica oculto em imagens aéreas e toda a biodiversidade adaptada à área é substituída pelos eucaliptos e por folhas sobre o solo”, explica Silva.
E conclui o professor: “Algumas espécies vegetais são endêmicas dos campos com areais. Os processos erosivos não cessam e a dinâmica natural é alterada, sem falar na transformação paisagística, que altera a vegetação herbácea e arbustiva com areais para um grande ‘muro verde.”