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Os Galeões de Manila e o Império Espanhol

Os Galeões de Manila e o Império Espanhol

Depois da Reconquista em 1492 e das viagens de Cristóvão Colombo, a Espanha construiu um dos maiores impérios da história. O domínio se espalhou pelas Américas, pela Ásia e pelo Pacífico. Segundo o World History, após o desembarque de Colombo no Caribe, as expedições espanholas conquistaram rapidamente impérios poderosos, como o asteca (México) e o inca. Em seguida, criaram vice-reinos nas Américas. Os galeões de Manila ligavam a Nova Espanha às Filipinas pelo Pacífico. As frotas atlânticas conectavam a metrópole às colônias americanas. A busca por riqueza, conversão religiosa e prestígio impulsionaram essa expansão. O Império Espanhol moldou o comércio global, influenciou culturas e redesenhou a geopolítica por séculos. A rede de possessões só encolheu de fato no século XIX, com os movimentos de independência.

Desenho dos Galeões de Manila
Ilustração de 1590 mostra um galeão espanhol de Manila nas Ilhas Ladrones (Ilhas Marianas) no Oceano Pacífico. (Do Codex Boxer)

Navios espanhóis de tesouros

Segundo o historiador Mark Cartwright, os galeões de Manila eram navios de tesouros que transportavam mercadorias de alto valor, como seda, especiarias e porcelana, de Manila, nas Filipinas, até Acapulco, no México, entre 1565 e 1815.

As frotas de tesouros do Atlântico então transportavam uma parte desses bens – juntamente com prata, ouro e outros materiais preciosos extraídos das Américas – para a Espanha. Por sua vez, os galeões de Manila retornavam às Filipinas carregados de prata para aquisição de mais mercadorias para a próxima viagem. Esses galeões, seja em qual direção fossem, transformavam-se em verdadeiras cavernas de Aladim flutuantes e, assim, despertavam a cobiça de muitos piratas e corsários mas, devido ao armamento pesado, somente quatro deles acabaram sendo capturados em alto-mar.

Segundo o site Webhispania, a América espanhola foi a fonte de cerca de 150.000 toneladas de prata entre 1500 e 1800, compreendendo talvez 80% da produção mundial.

O Império Colonial Espanhol.

No século XVI, duas potências europeias colonizaram o globo

No século XVI, duas potências europeias colonizaram o globo. O Tratado de Saragoça de 1529, entre Portugal e Espanha, estendeu a espantosa divisão do mundo que estas duas nações haviam estabelecido anteriormente no Tratado de Tordesilhas de 1494. O segundo acordo confirmou a reivindicação de Portugal sobre as Ilhas das Especiarias (Molucas), enquanto a Espanha recebeu as Filipinas. A partir de 1565, o galeão espanhol passou a transportar mercadorias, ouro e prata de toda a Ásia, reunidos em Manila, para as Américas e, depois, para a Espanha.

As minas de Potosí. Imagem, Wellcome Collection Gallery.

Um destes galeões, que naufragou em 1708 em combate com navios ingleses, foi descoberto em 2015 nas Bahamas e dá uma boa ideia das riquezas então transportadas. O Galeão San José passou a ser conhecido como o Santo Graal dos naufrágios em razão de  uma carga de joias, ouro e prata das minas de Potosí, na Bolívia, avaliada hoje em cerca de US$ 20 bilhões e que começa a ser retirada neste momento depois de um imbróglio jurídico que envolveu Espanha, Colômbia, e indígenas bolivianos da nação Qhara Qhara.

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Os galeões de Manila ou Naos de China

De acordo com Cartwright, ao contrário de outras embarcações, como as do Império Português que usavam a rota comercial do Cabo da Boa Esperança,  os espanhóis preferiam enviar seus navios na direção leste, com destino às Américas. Um ou, mais raramente, dois galeões de Manila chegavam anualmente a Acapulco, na costa do Pacífico do México que, na ocasião, fazia parte do Império Espanhol nas Américas.

Ilustração do site www.q-files.com com a seguinte legenda: Esta ilustração de corte mostra o interior de um galeão e os vários decks. O navio, ancorado em um porto na costa caribenha da América do Sul, está tomando suprimentos – bem como sua preciosa carga de lingotes de prata e outros tesouros – antes de zarpar para a Espanha.

Partindo da capital das Filipinas, estes navios ficaram conhecidos como galeões de Manila para os britânicos, embora os espanhóis os chamassem de naos de China, ou navios chineses. Quase todos os galeões espanhóis que operavam no Pacífico saíam dos estaleiros das Filipinas. A lei de 1679 obrigava essa prática. A Coroa Espanhola financiava a construção e mantinha a propriedade das embarcações.

A abertura da nova rota marítima

O padre Andrés de Urdaneta, frade agostiniano espanhol nascido em 1508, ganhou fama como explorador e navegador. Segundo o The Shipyardblog, ele descobriu a rota de regresso do Pacífico, das Filipinas a Acapulco, no México. A rota ficou conhecida como “tornaviaje”. Ela garantiu a primeira ligação comercial segura entre Ásia e América e sustentou o comércio dos galeões de Manila.

O padre Andrés de Urdaneta. El Escorial. Colegio Alfonso XII.

O navegador Andrés de Urdaneta descobriu que um segundo conjunto de correntes oceânicas que se deslocam de leste a oeste no Pacífico provavelmente permitiria uma viagem para o leste para as Américas. Essas correntes oceânicas, chamadas giroscópios, fluem em um padrão circular. De Urdaneta finalmente encontrou a borda leste do giro perto do Japão em 1565. Chamado de corrente de Kuroshio, este giro permitiu que os navios fizessem uma viagem de Manila a Acapulco – uma viagem de ida de 11.500 milhas.

Urdaneta também teve papel central na colonização das Filipinas. Trabalhou ao lado de Miguel López de Legazpi e ajudou a fundar o primeiro assentamento espanhol em Cebu.

A rota dos Galeões de Manila. Imagem, The Shipyardblog.

A mesma fonte revela ainda que a travessia fechou o último elo perdido na primeira rede de comércio verdadeiramente global da história, eliminando o obstáculo final entre a mina de prata mais rica do mundo e seu maior cliente. E como os impérios espanhol e português se uniram em 1580 sob a coroa de Filipe II, o mesmo aconteceu com suas rotas marítimas através dos oceanos, conectando a Europa com a África, as Américas e a Ásia.

Acapulco, em 1628, era o porto mexicano dos galeões de Manila. Pintura de Adrián Boot, Domínio público.

A viagem das Ilhas Filipinas à América, a mais longa e terrível do mundo

O italiano Gemelli Careri, que fez a travessia no final do século XVII, descreveu a longa viagem até às Américas:

A viagem das Ilhas Filipinas para a América pode ser considerada a mais longa e terrível do mundo, mesmo pela vastidão do oceano a ser atravessado, que ocupa quase metade do globo; pelo vento sempre contrário; pelas terríveis tempestades que se sucedem; e pelas doenças desesperadoras que acometem as pessoas em sete ou oito meses, permanecendo no mar às vezes perto da linha, às vezes temperado e às vezes quente, o que é suficiente para destruir um homem de aço, e mais ainda

Para Mark Cartwright, não é para menos que os galeões tivessem as letras AMGP pintadas em suas velas. Estas letras representavam as primeiras quatro letras da oração Ave Maria, em latim: Ave Maria, gratia plena [Ave Maria, cheia de graça] …

E, pela imensa riqueza que transportavam, os galeões de Manila eram os navios mais procurados pelos ingleses. A gravura abaixo mostra um deles sendo capturado por ninguém menos que o pirata, e terceiro navegador a dar a volta ao mundo na rota de Magalhães, Thomas Cavendish que atacou Santos durante a circunavegação e acabou sofrendo um motim em Ilhabela.

Thomas Cavendish captura o galeão espanhol ‘Santa Anna’ em 14 de novembro de 1587. (Créditos: Harper’s Monthly)

Segundo o Webhispania, a rota dos Galeões de Manila (1565–1815) criou a primeira rede de comércio verdadeiramente global. Ela conectou Espanha, Américas e Ásia por uma rota inovadora de 15.000 milhas náuticas. Os galeões levavam prata mexicana para Manila e traziam de volta sedas chinesas, porcelanas e especiarias. Assim nasceram conexões comerciais e culturais inéditas entre três continentes.

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Em 250 anos, a rota completou 662 viagens. Transformou Manila em um centro multicultural e lançou as bases do comércio global moderno. O legado aparece na arquitetura filipina, na linguagem e em muitos traços culturais. Foi um dos capítulos mais marcantes da história do intercâmbio entre povos.

O fim da rota dos Galeões de Manila

Quem explica é o site The Shipyardblog: No fim do século XVIII, o antigo Império Espanhol envelheceu a ponto de perder o brilho. As frotas corporativas de Londres e Amsterdã avançavam sem parar. A Espanha parecia presa ao passado. A economia sufocada sob monopólios feudais. O clima político carregado de descontentamento por todos os lados.

A situação piorou quando as Revoluções Americana e Francesa acenderam o pavio nas colônias espanholas, já marcadas por corrupção e má administração. O império entrou em declínio acelerado.

Várias obras de arte, como este bunker, referem-se ou ilustram a importância do Galeão de Manila. Imagem, www.amuraworld.com.

O estopim do barril de pólvora veio de um certo corso que ganhou fama no início do século XIX. Logo depois da derrota de Espanha e França em Trafalgar, quando morreu Horatio Nelson, um dos mais notórios comandantes navais. Napoleão deu o bote no antigo aliado e ocupou o coração da Península Ibérica. A Guerra Peninsular arruinou Bonaparte, mas também deixou a Espanha em frangalhos.

Menos de vinte anos depois, quase todos os domínios transatlânticos espanhóis já tinham se tornado países independentes. A principal cadeia mundial de fornecimento de prata desmoronou. O caminho para o padrão-ouro se abriu. A nova Espanha seguiu britânicos e holandeses e acabou com os caros comboios reais, entregando o transporte marítimo a armadores privados.

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