Grandes navegadores da antiguidade, os fenícios eram a força predominante ao seu tempo
Os fenícios nos legaram muito mais que apenas o alfabeto. A civilização surgiu no Levante por volta de 3000 a.C. Acima de tudo, eram famosos por seu domínio da antiga navegação marítima e construção naval e, provavelmente, foram os primeiros a pesquisar o Mar Mediterrâneo e a ultrapassar o Estreito de Gibraltar para se aventurarem no oceano Atlântico. Descendentes, à primeira vista, dos misteriosos “Povos do Mar” que migraram da Península Arábica, chegaram à costa do que hoje é o Líbano. Frequentemente estabeleceram grandes cidades em Beirute, Byblos, Tiro, Sidon e Baalbek. Sua posição como marítimos dominantes foi observada por Homero, a Bíblia e obras de arte egípcias antigas. Assim como outros povos antigos e modernos, foram a maior potência naval ao seu tempo.
Como os fenícios se tornaram grandes navegadores
Nesse meio tempo, conseguiram desenvolver habilidades de navegação e construção naval mais avançadas que as de todas as culturas que cercam o Mediterrâneo.
Assim, perto do fim da era do bronze (cerca 1300-700 a.C) quando os egípcios ainda não eram um povo marítimo, e as civilizações grega e hebraica ainda não tinham se desenvolvido até o ponto em que poderiam fazer extensas viagens marítimas, eram eles que dominavam o mar.
A princípio, navegaram por todo o Mediterrâneo. Além disso, viajaram para fora do Estreito de Gibraltar, no Atlântico, onde estabeleceram colônias na Península Ibérica. Fizeram, igualmente, extensas viagens ao longo da costa da África.
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A navegação fenícia
Entretanto, não conheciam a bússola ou qualquer outro instrumento de navegação. Baseavam-se, sobretudo, em características naturais do litoral. Além disso, usavam as estrelas, o sol, os marcos da costa, a direção dos ventos enquanto contavam com a experiência do capitão sobre as marés, correntes e ventos da rota.
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As colônias fenícias
A mais famosa foi Cartago, localizada no que é agora a Tunísia, norte da África. Estabelecida algum tempo após 800 a.C. Eventualmente, tornaria-se uma grande cidade, tão poderosa que desafiou o império romano. Por fim, acabou destruída durante as guerras púnicas.
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O custo do desperdício mundial e o consumismoVulcões submarinos podem ser a origem da lenda da AtlântidaConheça o navio de guerra mais antigo do mundo ainda em serviçoAntes, porém, os fenícios criaram uma rede comercial sem precedentes que foi de Chipre, Rodes, Ilhas do Mar Egeu, Egito, Sicília, Malta, Sardenha, Itália central, França, Norte de África, Ibiza, e além das Colunas de Hércules (hoje Estreito de Gibraltar).
Dessa forma, com o tempo essa rede transformou-se em um império de colônias contribuindo para que atravessassem os mares e ganhassem a confiança até chegarem a lugares tão distantes como a Grã-Bretanha e, até mesmo, a costa atlântica da África.
Os fenícios realizavam comércio através da galé, um navio movido a velas e remos. Eles foram creditados como os inventores do birreme, tido como o melhor navio da antiguidade. Gregos e romanos copiaram e aprimoraram o modelo.
Fenícios grandes navegadores, ‘inventaram a quilha’
Eram famosos na antiguidade por suas habilidades na construção de navios. Foram creditados, igualmente, pela invenção da quilha, bem como o calafeto (para vedar a entrada d’água) entre as tábuas da embarcação. Das esculturas assírias em Nínive e Khorsabad, e descrições em textos como o livro de Ezequiel, na Bíblia, sabemos que os fenícios tinham três tipos de navios.
Os navios de guerra
Os navios de guerra tinham uma popa convexa, eram impulsionados por uma grande vela retangular num único mastro, e com dois bancos de remos (birreme). O comprimento era sete vezes maior que sua largura, para carregar o número necessário de tripulantes, remadores e guerreiros. Herodotus e Tulcídides concordam que a velocidade média de uma antiga embarcação era de cerca de 6 milhas por hora.
Os navios fenícios tinham um convés e estavam equipados com um aríete na proa. A popa era igual aos navios de carga, mas a proa, muito diferente, era em si uma arma. Tinha um esporão de bronze de várias formas usado para investir e furar o casco dos navios inimigos.
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Nas proas dos navios foram pintados olhos comuns e, acima deles, aberturas para cabos de ancoragem. Havia na proa um arco usado por guerreiros, ou catapultas; e um pós-castelo no final da popa que abrigava o capitão e os oficiais. Havia, ainda, dois lemes para a direção, um de cada lado da popa.
Os navios de comércio
O segundo tipo foi para fins de transporte e comércio. Estes eram semelhantes aos primeiros, mas, com cascos largos, ‘inchados’, eram bem mais pesados. Tinham um grande espaço de carga.
O comprimento era quatro vezes maior que sua largura e sua capacidade de carga, de cerca de 450 toneladas. Uma frota podia consistir em até 50 navios de carga. Algumas foram retratadas em relevos sendo escoltadas por vários navios de guerra.
Pesca e viagens curtas
Um terceiro tipo de embarcação, também para uso comercial, era muito menor. Aparentemente, tinha uma cabeça de cavalo na proa e apenas uma fileira de remos. Contudo, devido ao seu tamanho esta embarcação era utilizada apenas para pesca costeira e viagens curtas.
Menções históricas às negações fenícias
Muito do que se conhece sobre as habilidades náuticas deste povo nos chegou através dos historiadores antigos. Heródoto, por exemplo, descreve um episódio durante a construção da segunda invasão persa da Grécia em 480 a.C liderada por Xerxes. Por sinal, história comentada no post Batalha de Salamina, parte da História da humanidade.
O rei persa queria colocar sua frota multinacional à prova. Desse modo, organizou uma regata vencida pelos marinheiros de Sidon. Heródoto menciona igualmente que Xerxes fazia questão de viajar em um navio fenício sempre que tinha que ir a qualquer lugar por mar.
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Os historiadores por muito tempo consideraram que os fenícios navegavam apenas durante o dia, porque tinham que se manter perto da costa e à vista de pontos de referência; à noite, portanto, tinham que encalhar ou ancorar seus navios. Isto explica a proximidade de algumas colônias fenícias, a um dia de distância de navegação umas das outras.
A tradição dos olhos na proa
Frequentemente, dois olhos eram pintados em ambos os lados da proa, destinados ‘a permitir que o navio visse a rota que estava tomando.’ Tornaram-se tradição náutica. Até hoje muitos barcos, de pesca ou recreio, levam olhos pintados na proa.
Além disso, de acordo com a tradição histórica, os olhos impunham medo entre os inimigos. A tripulação geralmente não era mais do que 20 homens, incluindo o capitão-proprietário e piloto.
Viagens fenícias: Mediterrâneo, Atlântico, Mar Vermelho e Índico
Os fenícios não estavam limitados ao Mediterrâneo e ao Atlântico, também navegavam pelo Mar Vermelho e possivelmente no Oceano Índico. A Bíblia descreve a expedição fenícia durante o século 10 a.C. a uma nova terra chamada Ophir para adquirir ouro, prata, marfim e gemas.
A localização de Ophir não é conhecida, entretanto, especula-se como sendo no Sudão, na Somália, no Iêmen ou até mesmo em uma ilha no Oceano Índico.
No Atlântico…
O antigo historiador Diodoro afirmou que os fenícios chegaram às ilhas do Atlântico da Madeira, das Ilhas Canárias e dos Açores. No entanto, não há evidências arqueológicas de contato fenício direto, apenas a descoberta em 1749 de oito moedas cartaginesas que datam do século III a.C.
Chegando à Grã-Bretanha…
Os marinheiros da colônia Cartago, a mais bem sucedida da Fenícia, teriam navegado para o antigo Reino Unido em uma expedição liderada por Himilco em 450 a.C.
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Fenícios grandes navegadores: circum-navegação da África
Uma das mais memoráveis viagens foi descrita por Heródoto. O ‘Pai da História‘ conta que no final do século VII a.C., os fenícios foram instruídos pelo faraó Necho para circum-navegar o continente africano de leste a oeste numa viagem de três anos.
Há quem diga que ‘se qualquer nação pudesse reivindicar ser o mestre dos mares, seriam os fenícios’ (por exemplo, o historiador Mark Cartwright).
Assista ao vídeo
Fontes: http://ageofex.marinersmuseum.org; www.worldhistory.biz; phoenicia.org; www.ancient.eu; monacoreporter.com; www.oocities.org; peopleofonefire.com.