O que aconteceria com o clima se parássemos todas as emissões de gases de efeito estufa?
Os seres humanos estão enfrentando as consequências do acúmulo de gases de efeito estufa desde o início da Revolução Industrial. A partir de 1760, a transição para uma economia baseada na manufatura trouxe grandes avanços em produtividade, mas também resultou na queima em massa de carvão. Na segunda fase da Revolução Industrial, entre o final do século XIX e o início do século XX, a eletricidade, a produção de aço e o motor de combustão interno intensificaram o uso de combustíveis fósseis. Assim, em 1950 as emissões globais de CO2 atingiram 6 bilhões de toneladas por ano, e hoje a concentração média de CO2 na atmosfera é de 421 partes por milhão, representando um aumento de 50% desde o início da era industrial.
Mas o pior é que mesmo se conseguíssemos, por algum milagre, parar as emissões, os efeitos já em andamento no clima persistiriam por muito tempo. Para entender os motivos, fizemos uma curadoria na rede.
Não haveria nenhuma mudança no clima
Quem responde a pergunta do título deste post é Richard B. Rood, professor de Ciências Atmosféricas, Oceânicas e Espaciais na Universidade de Michigan, em artigo para o stao.ca.
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Declínio do berçário da baleia-franca e alerta aos atuais locais de avistagemPirataria moderna, conheça alguns fatos e estatísticasMunicípio de São Sebastião e o crescimento desordenadoFrota de pesca de atum derruba economia de Moçambique“A resposta simples é não. Quando liberamos o dióxido de carbono, este acumula-se e move-se entre a atmosfera, os oceanos, a terra e as plantas e animais da biosfera. O dióxido de carbono liberado permanecerá na atmosfera durante milhares de anos. Só ao fim de muitos milênios é que regressa às rochas, por exemplo, através da formação de carbonato de cálcio – calcário – à medida que as conchas dos organismos marinhos se depositam no fundo do oceano. Mas, no que diz respeito aos períodos de tempo relevantes para os seres humanos, uma vez liberado, o dióxido de carbono está no nosso ambiente essencialmente para sempre.”
“Se deixarmos de emitir hoje, o aquecimento global não termina aqui. Há um atraso no aumento da temperatura, à medida que o clima recupera todo o carbono que está na atmosfera. Após, talvez, mais 40 anos, o clima estabilizará a uma temperatura superior à que era normal para as gerações anteriores.”
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‘A demora em aquecer a enorme massa do oceano’
Esta demora acontece, segundo Rood, pelo tempo que leva para aquecer a enorme massa de água dos oceanos. Rood diz que ‘aumentar a temperatura da água leva décadas’.
Assim, explica o professor, mesmo que as emissões de carbono parassem completamente neste momento, a temperatura da Terra aumentaria cerca de mais 0,6ºC.
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Acidificação do oceano está à beira da transgressãoConheça o novo navio de carga híbridoBrasil pega fogo, espanta o mundo, e Lula confessa: ‘não estamos preparados’Procuramos respostas a estas perguntas em outras fontes, para dar mais parâmetros ao leitor. Por exemplo, a Royal Society explica que a demora acontece em razão da transferência muito lenta para o oceano profundo e ao seu enterramento final nos sedimentos oceânicos. Aliás, é por prestar mais este serviço como sumidouro de carbono de nossas emissões que as águas dos oceanos estão cada vez mais ácidas, ameaçando a vida marinha.
Você pode perguntar por que falamos apenas do dióxido de carbono se os gases de efeito estufa incluem outros dois. A razão é que o metano e o ozônio troposférico têm menor tempo de vida atmosférica, exercendo assim efeitos mais curtos sobre o clima.
Mesmo sem emissões a temperatura dos oceanos continuaria a subir
A Royal Society informa que, mesmo que parássemos as emissões, ‘as temperaturas à superfície manter-se-iam elevadas durante pelo menos mil anos’. E completa, ‘é provável que o nível do mar continue a subir durante muitos séculos, mesmo depois de a temperatura ter parado de aumentar. Seria necessário um arrefecimento significativo para inverter o degelo dos glaciares e do manto de gelo da Groenlândia, que se formaram durante os climas frios do passado’.
A NOAA, entretanto, não é tão pessimista como as duas primeiras fontes. Para ela, se todas as emissões humanas parassem hoje, a temperatura da Terra continuaria a aumentar por algumas décadas, à medida que as correntes oceânicas trazem o excesso de calor armazenado no oceano profundo de volta à superfície. Uma vez que esse excesso de calor irradia para o espaço, a temperatura da Terra se estabilizaria. Os especialistas acreditam que o aquecimento adicional, a partir deste calor “oculto”, é improvável que exceda 0,5º Celsius. Sem mais influência humana, os processos naturais começariam a remover lentamente o excesso de dióxido de carbono da atmosfera, e as temperaturas globais gradualmente começariam a diminuir.
A resposta do MIT Educação
A pergunta que deu título ao nosso post sempre ronda o ser humano quando a situação fica feia. O MIT Educação também a abordou, ‘uma questão mais complicada é a rapidez com que o planeta pararia de aquecer e potencialmente retornaria às temperaturas mais estáveis do passado recente, se conseguirmos reduzir as emissões de gases de efeito estufa a zero’.
Andrei Sokolov, modelador climático que trabalha no Programa Conjunto do MIT sobre Ciência e Política da Mudança Global, explica a demora na queda da temperatura, mesmo cessando todas as emissões, em razão de nossa dependência de processos naturais para remover o dióxido de carbono. E mais uma vez, Sokolov explica a função do oceanos em retirar o CO2 da atmosfera.
‘O oceano é a peça mais importante neste caso, uma vez que absorve uma enorme quantidade de CO2 da atmosfera. Parte desse carbono é misturado do oceano pouco profundo para o oceano profundo, onde acaba por se transformar em rocha, ficando fora da atmosfera durante milhões de anos. Mas a mistura de carbono no oceano profundo é um processo muito lento, diz Sokolov’.
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Porque é importante diminuir as emissões, mesmo com a demora na volta a um cenário melhor
A NASA informa que ‘sem uma ação importante para reduzir as emissões, a temperatura global está a caminho de subir entre 2,5 °C para 4,5º C até 2100, de acordo com as últimas estimativas’.
Antes, vamos nos lembrar que a meta do Acordo de Paris é um aumento de 1,5ºC até o fim do século. E apesar de estarmos nos primeiros anos do século 21, já contabilizamos um aumento da ordem de 1,4ºC. Será quase impossível que a temperatura suba apenas 1,5ºC até o final do século.
Em 2012 um relatório encomendado pelo Banco Mundial antecipou o que seria a nossa vida com mais 4ºC, parece coisa de ficção científica. Publicamos um post com muita informação e um vídeo da National Geographic que mais parece filme de terror.