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O mundo planta árvores de mangue enquanto o Brasil corta

O mundo planta árvores de mangue enquanto o Brasil corta

Este site já perdeu a conta de quantas matérias publicamos sobre o fato do Brasil persistir na contramão do mundo. Desde que começou a ocupação do litoral pelo ‘homem da cidade’, ali pelos anos 50 do século passado, não se faz outra coisa que não seja o corte de mangues e restingas, substituídos por casas de segunda residência, condomínios, hotéis e resorts, marinas,  obras de infraestrutura como estradas, portos, refinarias, e até mesmo a expansão das cidades. Mais tarde, dos anos 70 até hoje, a especulação imobiliária ganhou contornos de epidemia, assim, o corte de manguezais se expandiu. Você pode perguntar, e a legislação ambiental? Bem, ela infelizmente ‘não pegou’ no litoral onde as infrações são cometidas às claras, muitas vezes pelo poder público, outras por cidadãos comuns. Em comum entre elas, a ausência de fiscalização. Enquanto o mundo planta árvores de mangue, o Brasil permite o seu corte.

Dubai plantará 100 milhões de árvores de mangue no maior projeto de regeneração costeira

Nestes últimos dez dias a imprensa internacional divulgou um plano de Dubai para a regeneração da costa que obteve uma incrível repercussão.

O New Atlas divulgou que Dubai, que já tem o arranha-céu mais alto do mundo, assim como a torre residencial mais alta do mundo (em construção), agora prevê transformar seu litoral com o maior projeto de regeneração costeira do mundo. O ambicioso desenvolvimento envolve o plantio de mais de 100 milhões de árvores de mangue, protegendo a cidade da erosão e do aumento do nível do mar.

Contudo, esta não é uma ideia original. Como já divulgamos, o replantio de mangue é hoje uma realidade na Ásia, África, Oceania, e nas Américas do Norte e Latina, neste mundo açoitado pelo aquecimento global. E por quê?

Porque os manguezais são a melhor proteção natural contra o avanço do mar e consequente erosão costeira e, além disso, em termos de vegetais os mangues são o maior sumidouro de carbono. Cada hectare de manguezal retira da atmosfera quatro vezes mais CO2 que a mesma porção de florestas tropicais. Por seus serviços ecossistêmicos, manguezais e áreas úmidas em geral estão sendo replantados. E, muito melhor, gerando renda aos países que assim agem através de créditos de carbono.

Dubai sabe destas qualidades e não perdeu tempo. Assim, diz o New Atlas, este novo projeto abrangeria mais de 72 km, e a principal ideia por trás dele é proteger as áreas costeiras da erosão e ajudar a sequestrar CO2.

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O projeto de Dubai está a cargo da empresa URB, segundo ela, “no coração desta iniciativa estão os manguezais, conhecidos por sua capacidade única de sequestrar carbono, proteger as áreas costeiras da erosão e apoiar a vida marinha e a segurança alimentar”.

A tecnologia da IA vai acelerar o projeto

Além de sequestrar CO2 e ajudar as defesas naturais do mar, a enorme plantação de mangue também serviria como viveiros para a vida marinha, melhorando os estoques de peixes e ajudando a filtrar a água com suas raízes, diz a URB.

Drones ajudarão a plantar árvores de mangue em Dubai. Imagem, Erb.

Plantar um número tão imenso de árvores seria, naturalmente, um empreendimento maciço em si e levaria muitos anos. Para acelerar, a URB propõe o uso de drones movidos a IA e imagens de satélite para monitorar e aumentar o crescimento e a saúde das árvores.

Para a URB, os manguezais de Dubai se tornarão o maior projeto de regeneração costeira do mundo, enquanto coloca Dubai como uma das cidades mais resilientes até 2040.

Uma árvore de mangue absorve 12,3 kg de CO2 por ano

Com a capacidade de absorver aproximadamente 12,3 kg de CO2 por ano por árvore, todo o projeto pode sequestrar 1,23 milhão de toneladas de CO2 por ano, o equivalente a remover o CO2 emitido por mais de 260.000 veículos de passageiros movidos a gasolina das estradas a cada ano.

O projeto também inclui vários ativos como o Mangrove Visitor Hub, projetado para educar e envolver a comunidade e os visitantes sobre a importância dos manguezais e os desafios ambientais mais amplos que nosso planeta enfrenta.

Singapura é outro exemplo para, quem sabe, inspirar Marina Silva

Nós já contamos esta história em post recente, Como Singapura pode ensinar o País de Lula e Marina Silva? Nele, mostramos que, enquanto a maioria dos países à beira-mar perde terreno para a erosão, acirrada por eventos extremos e aumento do nível do mar, Singapura está aumentando o seu. Como?

Só para ter uma ideia, saiba que quase um terço do país está a menos de 5 metros acima do nível do mar! Singapura trabalha em conjunto com as universidades que estudam o problema  e sugerem soluções, como mostra o artigo Mangroves, a crown jewel of Singapore’s coastline (Manguezais, joia da coroa do litoral), da Universidade Nacional de Singapura.

Universidades de Singapura trabalham em cooperação com o governo, no Brasil parece acontecer o contrário

Enquanto as universidades locais trabalham em cooperação com o governo, no Brasil parece acontecer o contrário. Pesquisadores já publicaram artigos demonstrando que ‘os manguezais são negligenciados no Brasil’.

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Este foi o caso de André Rovai, do Departamento de Oceanografia e Ciências Costeiras, Faculdade da Costa e Meio Ambiente, Louisiana State University; e de Pablo Riul, do Departamento de Sistemática e Ecologia, Centro de Ciências Exatas e da Natureza, Universidade Federal da Paraíba.

Ambos procuraram chamar a atenção do poder público ao publicarem “Manguezais brasileiros: Hotspots de Carbono Azul de relevância nacional e global para soluções climáticas naturais“, na Frontiers in Forests and Global Change, em 2022.

Enquanto projetos de suma importância para o País, como a regulamentação do mercado de créditos de carbono continuam parados no Congresso sem que Lula ou Marina participem de sua elaboração, e por cima com muitas imperfeições, André Rovai e Pablo Riul alertaram para as omissões:

‘Os manguezais são conhecidos por grandes estoques de carbono e altas taxas de sequestro de CO2 em biomassa e solos, tornando essas zonas úmidas intertidais uma estratégia econômica para algumas nações compensarem uma parte de suas emissões de dióxido de carbono (CO2). No entanto, poucos países têm os inventários de nível nacional necessários para apoiar a inclusão de manguezais nos mercados nacionais de crédito de carbono. É o caso do Brasil, lar da segunda maior área de mangue do mundo, mas sem um inventário integrado de carbono de mangue que capta a diversidade de tipos de litoral e zonas climáticas em que os manguezais estão presentes’.

Assista ao vídeo sobre o projeto de Dubai

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