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Mar Sem Fim vem à tona na Antártida

Embarcação estava submersa desde abril, após sucumbir a tempestade perto da Ilha Rei George; mau tempo, no entanto, interfere no resgate
VITOR HUGO BRANDALISE

Vinte e cinco dias após o início do resgate , o barco Mar Sem Fim, que naufragou na Antártida em abril, veio à tona ontem, por volta das 12h40. Há dez meses, a embarcação repousava a uma profundidade de dez a 12 metros na Baía de Fildes, perto da Ilha Rei George, após sucumbir a tempestade com ventos de até 150 km/h.
“O dia começou com uma boa notícia e termina em suspensão. Tenho a sensação de que melhora a cada dia, mas cada momento é decisivo”, disse o jornalista João Lara Mesquita, de 56 anos, ex-diretor da Rádio Eldorado, que tripulava o barco com outras três pessoas para gravar um documentário.
Apesar de agora o barco já estar parcialmente fora da água, o resgate demanda cuidados: as condições climáticas pioraram ao longo do dia de ontem e a embarcação não pôde ser rebocada para mais perto da costa. “Montamos uma barreira de contenção de diesel, mas nem foi necessário usá-la. O importante é que não houve dano ambiental severo, praticamente não vazou óleo”, ressaltou Mesquita.
A operação tem a participação do navio Felinto Perry, da Marinha brasileira, especializado em resgate de embarcações naufragadas, e de quatro mergulhadores chilenos contratados. No total, cerca de 100 pessoas participam do resgate, que começou em 7 de janeiro, com a vedação de compartimentos para possibilitar a reflutuação: primeiro a proa, a parte do meio e por último a traseira da embarcação. Depois, cinco grandes boias foram acopladas às laterais do barco. Após a instalação da última boia, o Mar Sem Fim finalmente subiu à superfície – a primeira parte a ser avistada foi a chaminé. “É o dia mais feliz dos últimos meses. Desde abril espero por esse momento”, escreveu o jornalista, no site do projeto, antes de o tempo começar a virar.
A expectativa da tripulação era retirar ainda ontem o excesso de água do barco – que o leva a pesar até o dobro do normal -, rebocá-lo para perto da costa e realizar os primeiros reparos. O mau tempo impossibilitou temporariamente a operação. “Resumindo, 70% do barco ainda está submersa e, para que o resgate continue da forma planejada, apenas 30% podem estar debaixo d’água. ”
Paciência.
Por causa do mau tempo, a equipe terá de retirar a água aos poucos. Quando o vento arrefecer, especialistas subirão a bordo para o serviço. Ao mesmo tempo, o barco será levado o mais perto possível da costa. “É assim mesmo: temos de ter paciência”, disse Mesquita.
Assim que o barco estiver suficientemente fora d’água, a equipe começará a reparar sua estrutura e um rebocador será convocado para retirá-lo. “O rebocador leva de 5 a 6 dias para vir do Chile. No melhor cenário, sairemos em uma semana, e com o barco rebocado atrás de nós”, disse o jornalista, que prepara documentário e livro.

Matéria publicada no jornal “O Estado de S. Paulo”, dia 01/02/2013

 

 

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