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Mar Morto perde volume e saliniza: um alerta ambiental crescente

Mar Morto perde volume e saliniza: um alerta ambiental crescente

Para começar, o Mar Morto não é um mar, mas um imenso lago que fica num lugar complicado do ponto de vista  geopolítico: o Oriente Médio. Sua costa oriental pertence à Jordânia, e a metade sul a Israel. A metade norte fica dentro da Cisjordânia Palestina e está sob ocupação israelense desde a guerra árabe-israelense de 1967.

Ele não é apenas salgado; é um lago enorme e hipersalino que hoje se estende por 50 km de comprimento e 14 km de largura, situado em uma bacia hidrográfica fechada entre a Jordânia e Israel. Para se ter uma ideia da sua salinidade, o Mar Morto contém 300 a 350 PPT (partes por mil) de sais, em comparação com apenas 35 PPT (partes por mil) da água do mar típica (Oren, 2010). Esta salinidade extrema cria um ambiente único que intriga as pessoas há milênios.

Três imagens da Nasa, do Mar Morto. A primeira é de 1972, depois, 1989 (centro), finalmente, à direita, imagem de 2011.

A formação do Mar Morto

A Britânica explica: O rio Jordão fornece quase toda a água do Mar Morto. Ele desce do norte até o lago. Por várias décadas, na metade do século 20, o nível da superfície do Mar Morto ficou em torno de 400 metros abaixo do nível do mar.

Mas, a partir dos anos 1960, Israel e Jordânia começaram a desviar grande parte do fluxo do Jordão. Também aumentaram o uso da água do lago para fins comerciais. O resultado foi uma queda brusca no nível da água. Em meados de 2010, o lago já estava mais de 30 metros abaixo do valor registrado no século anterior — cerca de 430 metros abaixo do nível do mar.

O processo de desvio da água de rios que o abastecem lembra o que aconteceu com o Mar de Aral considerado um dos piores desastres ambientais causado pelo homem. Entretanto, depois do colapso começou um trabalho de recuperação que aos poucos devolve vida ao Aral.

O Mar Morto representa o destino final de todos os seus afluentes, incluindo sua maior fonte de água nova, o rio Jordão. Esse sistema fechado, onde a água entra, mas não sai, criou as condições para as mudanças dramáticas que testemunhamos ao longo do tempo e continuamos a observar hoje.

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Registro antigo de um lago sagrado

Segundo a Britannica, até o século VIII d.C., apenas a região ao redor da bacia norte tinha ocupação humana. O lago era um pouco menor que hoje.

Em 1896, o Mar Morto atingiu seu nível mais alto: 389 metros abaixo do nível do mar. Depois começou a recuar. A queda se acentuou a partir de 1935, até se estabilizar por algumas décadas em torno dos 400 metros abaixo do nível do mar.

O Mar Morto a partir de Israel. Imagem, Britânica.

O que mudou no século 21

Segundo a Britânica: Como a água no lago evaporou mais rapidamente do que foi reabastecida pela precipitação nos últimos 10.000 anos, o lago encolheu gradualmente para sua forma atual.

O processo é parecido com a extração de sal no Rio Grande do Norte, responsável pela produção de 90% do sal consumido no País. Os produtores represam água salgada que, por causa do forte calor, do vento, e da pouca chuva, acaba evaporando.

Enquanto isso, The Natural Historian revela as  águas do Mar Morto não escoam para o subsolo; elas simplesmente evaporam. Esse processo, combinado com a entrada de seus afluentes, cria um equilíbrio delicado que foi drasticamente alterado nos últimos tempos.

A linha costeira recua ano após ano

A mesma fonte diz ainda que ficou evidente que este lago não mantém uma linha costeira constante como o Mar Mediterrâneo. A linha costeira do Mar Morto flutua significativamente, com mudanças perceptíveis ocorrendo até mesmo anualmente. Essas flutuações resultam de dois fatores principais: o volume de entrada do rio Jordão e a taxa de evaporação.

Ao longo do último século, observamos uma mudança profunda no equilíbrio hídrico do Mar Morto, com a evaporação excedendo consistentemente a entrada de água nova. O resultado foi um encolhimento dramático deste antigo lago.

Dados recentes pintam um quadro ainda mais alarmante. Em 2021, a superfície do Mar Morto estava a aproximadamente -435 metros abaixo do nível do mar, indicando que a taxa de declínio não diminuiu.

As causas do rápido declínio

O dramático encolhimento do Mar Morto não é um fenômeno natural, mas sim resultado, em grande parte, das atividades humanas. O rio Jordão é quase totalmente esgotado por uma população sedenta antes de chegar ao Mar Morto. O desvio da água para uso agrícola e doméstico reduziu significativamente o fluxo para o Mar Morto. Aproximadamente 95% do fluxo natural do rio Jordão é agora desviado por Israel, Síria e Jordânia. Isso deixa apenas um pequeno riacho para alimentar o Mar Morto, privando-o de seu principal suprimento de água.

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Para piorar, o clima árido da região leva a taxas de evaporação consistentemente altas, que permanecem constantes mesmo com a diminuição do influxo de água. Assim, o recuo da linha costeira deixou resorts construídos em meados do século XX isolados, longe da linha d’água atual, representando desafios para a indústria do turismo e complicando os planos de desenvolvimento futuro.

Imagem, You Tube.

Como a atividade econômica afeta o lago

A Folha de S. Paulo também abordou o tema. A retração do Mar Morto é fato, mas o jornal chama a atenção para a oportunidade que se abre. Com a retração, abrem-se enorme buracos. nas margens. “Hoje há um total de 6,5 mil crateras ao longo das bordas”. A Folha explica que isso acontece pelas razões já mencionadas, a grande evaporação e a escassez de água em razão do uso para fins agrícolas ‘e para obtenção de água potável necessária para uma crescente população em Israel’. Para o jornal, outro dos motivos é a mineração na região. Ambientalistas atribuem a situação a uma gestão hídrica falha no Oriente Médio, onde a instabilidade política impede o consenso para acordos internacionais que possam refrear o fenômeno’.

O que ainda pode ser feito

BBC ouviu o pesquisador Eli Raza, que estuda os poços há 17 anos. Ele tem levado grupos para visitarem as crateras. E diz: “a crise hídrica deve servir para que as pessoas conheçam a crise do Mar Morto, para que entendam o que acontece”. E arremata: “as pessoas que vêm aqui ficam impressionadas com o cenário que é muito lindo.” Para Raza, ‘disponibilizar uma forma segura de chegar a esses locais seria um modo de mostrar ao mundo o que acontece, e, além disso, reativar o turismo’. A Folha encerra, porém, com um alerta: “Por enquanto a região só tem colhido revezes turísticos da tragédia ambiental: nos últimos anos, duas das mais turísticas praias na área e o resort Mineral Beach foram fechados por culpa da retração do mar.”

Assista ao vídeo e saiba mais:


Image de abertura: You Tube.

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