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Macapá, sem água nem esgoto, um problema brasileiro

Macapá, sem água nem esgoto: cidade tem piores índices do País; crianças são as principais vítimas

Uma cidade com 3% da área servida por rede de coleta de esgoto, 17% da população em região de ressaca do Rio Amazonas e o restante com fossas sanitárias. Cerca de 60% das casas sem água encanada. Essa realidade do saneamento básico transforma Macapá, capital do Amapá, com 407 mil habitantes, no retrato do descaso. Todos os dias, crianças lotam hospitais com verminoses, dor de barriga e doenças de pele. Macapá, sem água nem esgoto.

Macapá, sem água nem esgoto, imagem de vila em palafitas em Macapá
Comunidade São Lazaro, na cidade de Macapá

Para o vendedor Sandro Melo, que também mora com os três filhos no alagado, a torcida é para que seja aceito no projeto Minha Casa Minha Vida.

Estou esperando. Aqui, o meu menino mais novo já teve diarreia. O médico disse que é por causa da água

A situação dos moradores do alagado de São Lázaro está longe de ser exceção. O secretário da Saúde de Macapá  Dorinaldo Malafaia afirmou:

É um exemplo de área de ressaca do município que precisa de solução rápida.A situação de falta de saneamento no município é geral e gravíssima

Qualquer mãe do Amapá imagina que os números estão bem abaixo do real. “Muitas vezes a gente nem leva no hospital”, diz Cláudia Silva, de 33 anos, que há 8 vive no São Lázaro. Ela teme que a filha Amanda, de 7, acostumada a correr sobre as passarelas de madeira, volte a cair na água podre sob as casas.

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Sobre o abastecimento de água, feito pela empresa estadual Caesa, a prefeitura de Macapá não tem certeza da extensão da rede. Dados informados pelo Amapá ao governo federal dão conta de cobertura de 41,7% da população urbana do Estado.

Prefeitos não cuidam da causa das doenças em Macapá, sem água nem esgoto

Quando se fala de esgoto, o Brasil vive no século 19. A avaliação é de Édson Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil, entidade que estuda as carências nacionais de saneamento e criou um ranking da situação das 100 maiores cidades do País para marcar o impacto na saúde de crianças de 0 a 5 anos. Ele explicou:

Os prefeitos não cumprem a Lei de Saneamento, há um jogo de empurra do problema para os governos estaduais, e isso causa impacto direto na saúde da população infantil.Prefeito gosta de fazer posto de saúde, mas não cuida da causa das doenças

Macapá e a diarreia infantil

Quando o assunto é saneamento, Macapá está entre os piores desempenhos das 100 maiores cidades. Em 2010, era a última colocada no ranking. No ano seguinte, estava também entre as 23 piores cidades na comparação da taxa de internações por diarreia.

Belém, outro exemplo de descaso

Belém é outro exemplo de descaso. Tem o pior índice de tratamento de esgoto: apenas 1,5% do esgoto gerado. Somente 3% da população têm rede de coleta, segundo o Trata Brasil. Com três obras do PAC no setor de saneamento desde 2008, Belém não deslanchou.

Santa Catarina, no Sul, também tem problemas

A mazela é de Norte a Sul. Em Santa Catarina, o índice de rede de esgotos do Estado é de 17,8% e somente 21% do esgoto gerado é tratado. Os melhores resultados que aparecem nas estatísticas do Trata Brasil são do Distrito Federal, que trata 65% do esgoto, e Paraná, com 61%. São Paulo trata 48% do esgoto.

Macapá, retrato do abandono do saneamento básico

Para Sandro Melo, vendedor, que também mora com os 3 filhos no alagado, a esperança está no projeto Minha Casa Minha Vida. “O meu mais menino novo já teve diarreia. O médico disse que é por causa da água”, contou o rapaz, aluno do curso de educação física de uma universidade privada de Macapá, que sonha em ser capoeirista.

Moradia típica de Macapá, sem água nem esgoto

O Alagado de São Lázaro.

O alagado de São Lázaro, Macapá

De janeiro a maio, segundo planilhas da Secretaria da Saúde do Estado, foram registrados 5.483 atendimentos de crianças no pronto socorro infantil da capital. Os sintomas identificados pelos médicos são diarreia, vômito, infecção intestinal, tudo isso reunido como Gastro-Entero-Colite-Aguda, cuja sigla é GECA.

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Em bairros vizinhos de São Lázaro, como o Pantanal, entre a estação rodoviária e a baixada de outra ressaca, o problema é semelhante. Nas habitações da beirada do rio os dejetos humanos escorrem direto para a margem encoberta pelo matagal de verão.

Na hora da sede, a população do Pantanal apela para água mineral. Um galão de 20 litros é vendido por R$ 5 no comércio local, que fica ao lado do bairro Renascer, outra área carente de coleta de esgotos. Ou se socorre de vizinhos que têm o poço artesiano, que cobram pelo fornecimento.

Pablo Pereira – enviado especial de O Estado de S.Paulo

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