Indústria Naval brasileira: colapso total
Indústria Naval brasileira: ela vai e volta. Desde que o Brasil deixou de ser um país agrário, e se tornou industrial, tem sido assim: a indústria naval ameaça crescer, mas desanda. Um vai e volta sem fim.
Matéria do Estado de S. Paulo de 29 de Maio de 1017 não deixa dúvida: “Em colapso, indústria naval já demitiu quase 50 mil e tem dívida bilionária”.
De 40 estaleiros 12 estão parados
A informação acima é do Estadão que diz mais: …”e o restante opera bem abaixo da capacidade. Sem encomendas e com sócios envolvidos na Operação Lava Jato. Setor não lembra em nada a euforia de investimentos após a descoberta do pré-sal”.
De acordo com o jornal “a indústria está sem encomendas e com o caixa debilitado e, em alguns casos, com sócios envolvidos na Operação Lava Jato, cinco desses estaleiros entraram em recuperação judicial ou extrajudicial”.
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Indústria Naval brasileira: situação caótica
O Estado diz que “entre os estaleiros que ainda estão em operação, uma parte é voltada para a construção de embarcações fluviais, como barcaças, ou de transporte de passageiros. A indústria voltada para a construção de plataformas e navios offshore está em contagem regressiva. Os últimos projetos estão em fase final. Alguns grandes estaleiros têm pouco mais de dois meses de trabalho. Depois podem engrossar a lista de estabelecimentos parados”.
Indústria Naval brasileira, Gov. Lula e o Pré- sal
A matéria de Renné Pereira informa que “a partir daí, começaram a pipocar projetos de novos estaleiros em todo o litoral. Uma grande notícia para o governo que queria gerar emprego e turbinar a economia. Para quem aceitasse o maior porcentual de conteúdo local nas embarcações, o governo se propunha a financiar até 90% do projeto”.
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O Estado mostra que o Fundo de Marinha Mercante, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e demais bancos públicos e privados enfiaram esta ‘pequena’ bolada para financiar o setor que funcionou até 2014. Neste período empregava 82 mil pessoas. R$ 45 bi para empregar 82 mil pessoas… O Mar Sem Fim questiona se valeu a pena.
Petrobrás, Pré- sal, preço do petróleo e Lava jato
Então as bruxas foram soltas. O jornal diz que “a Operação Lava Jato atingiu em cheio a Petrobrás, e inda houve a queda no preço do petróleo seguida pela derrocada da Sete Brasil. A indústria naval brasileira desmoronou”.
Petrobrás e Agência Nacional do Petróleo
Segundo o Estadão “a Petrobrás fez um pedido à agência reguladora do setor (ANP) para reduzir os porcentuais de conteúdo local na construção de uma plataforma para o Campo de Libra. Alegava que a produção no Brasil encarece em 40% o produto”.
Marcelo Gomes, presidente da A&M Engenharia diz que “a crise pegou alguns estaleiros ainda na curva de investimentos”. O Estado acrescenta: “é o caso do Enseada Paraguaçu, que tem como sócia as empreiteiras envolvidas na Lava Jato Odebrecht, OAS e UTC. Além da japonesa Kawasaki. Com 82% das obras concluídas, o estaleiro está parado e em recuperação extrajudicial”.
Estaleiros naufragaram
“A solução tem sido buscar novas atividades para a área. Outros estaleiros seguem o mesmo caminho e buscam reestruturar suas atividades. Como o Inhaúma (RJ), afirma Sergio Leal, do Sinaval“.
Rio Grande, que empregava 24 mil pessoas, também afundou…
“No caso do Estaleiro Rio Grande, também em recuperação judicial, a solução é criar uma unidade produtiva isolada e vender em leilão a parte que inclui todos os equipamentos”.
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“Instalado à beira da Lagoa dos Patos, o pórtico gigante era o símbolo da prosperidade do município de Rio Grande. Com 117 metros de altura e 210 metros de largura, o equipamento era visto de qualquer canto da cidade. Rio Grande fervilhava com o avanço do polo naval e seus três estaleiros. Hoje esse mesmo pórtico, que custou cerca de R$ 400 milhões, está parado ao lado de milhares de toneladas de aço no Estaleiro Rio Grande (ERG)”.
O Estadão diz que “no auge, em 2013, o estaleiro do Rio Grande empregava 24 mil pessoas na cidade”. Mas, “hoje, total de trabalhadores não chega a 5 mil”. E mais: “em 9 de dezembro do ano passado, o ERG – que tem como sócios a Engevix e o Funcef – teve seus contratos rescindidos com a Petrobrás e demitiu cerca de 3 mil funcionários de uma só vez. Em seguida, entrou com pedido de recuperação judicial para equacionar uma dívida de R$ 7,5 bilhões. Nem deu tempo de terminar o casco da P-71, que ficou pela metade”.
Impacto em Rio Grande, RS
Foi tão grande que “10% do comércio fechou as portas”, afirmou o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL Rio Grande), Luiz Carlos Teixeira Zanetti. Mas não foi só em Rio Grande…
Enseada Indústria Naval: estrutura de R$ 2,7 bilhões de reais
Segundo o Estado “a empresa, que tem como sócias as empreiteiras Odebrecht, OAS e UTC, todas envolvidas na Lava Jato, quer aproveitar estrutura de R$ 2,7 bi de construção de navios para tentar desenvolver polo industrial e logístico”.
Parque industrial naval brasileiro, o que falta?
Para o presidente do SINAVAL, Ariovaldo Rocha, “a política de conteúdo local é determinante para o desenvolvimento do parque industrial naval brasileiro, incluindo toda a sua cadeia produtiva. Essa política promoveu uma revolução no setor da construção naval, ou seja, foram criados 82 mil empregos até o ano de 2014”.
“Rocha salienta que o programa privilegiará as indústrias que incentivarem percentual de conteúdo local superior ao efetivamente existente para os bens, serviços e sistemas de caráter estratégico, incluindo: engenharia desenvolvida localmente; desenvolvimento e inovação tecnológica realizados no País; elevado potencial de geração de empregos qualificados; e promoção de exportações”.
Apesar das informações acima, Governo decide dar mais R$ 3 bi para a novos estaleiros
Com o conjunto de informações acima publicados, este site pensava que seria a hora de rever o modelo. Mas fomos surpreendidos poucos dias depois da primeira matéria do Estado, por outra do mesmo jornal, publicada em 31 de Maio de 2017. Título: “Apesar da crise no setor naval, governo aprova R$ 3 bi para novos estaleiros“
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E lá vai nosso suado dinheiro de novo…
Apesar da “indústria estar sem encomendas e com o caixa debilitado”, e “dos 40 estaleiros existentes no país, 12 estarem fechados” como informa a primeira matéria, a segunda diz que “o Conselho Diretor do Fundo de Marinha Mercante (CDFMM) aprovou nos últimos meses quase R$ 3 bilhões para a construção de novos estaleiros”.
Mais estaleiros? Mas por quê se ainda existem 28 em funcionamento e, insistimos, “sem encomendas”?
‘Novos projetos são destinados a reparos de navios de médio e grande porte, não envolvem a construção de embarcações’
Foi esta a explicação do Ministério dos Transportes. Mas o jornal também traz o “questionamento que alguns especialistas fizeram: os estaleiros que hoje estão parados não poderiam ser aproveitados também para fazer reparos”? Pelo visto a pertinente pergunta ficará sem resposta…Ou com uma resposta capenga.
O Estado diz que “o Ministério dos Transportes argumenta que são dois negócios distintos e que a mudança do perfil do estaleiro não é algo simples”. Segundo o órgão, “os estaleiros de reparos no Brasil apenas comportam pequenas embarcações, uma vez que a infraestrutura é limitada, com baixa profundidade do canal de acesso marítimo e restrição no tamanho do cais”.
O Mar Sem fim não se convence…
Quais os novos projetos para estes R$ 3 bi? A matéria do Estado responde…
Desta vez a Paraíba foi escolhida
“Um dos principais projetos deverá ser construído na Paraíba, na cidade de Lucena, e deverá custar R$ 2,8 bilhões, com R$ 2,15 bilhões financiados pelo fundo”. E segue: “A ideia seria fazer reparos para embarcações de toda a América do Sul. Segundo o Ministério dos Transportes, hoje os reparos em boa parte da frota brasileira são feitos no exterior, em Portugal ou na Ásia”.
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Ousado, não? Para uma indústria sem tradição, que se levanta e cai há décadas, como ter certeza que “embarcações de toda a América do Sul” escolherão justamente o estaleiro da Paraíba? Para essa dúvida não há explicação.
Mas não estamos sozinhos no questionamento. O professor Rui Carlos Botter, do Departamento de Engenharia Naval e Oceânica, da USP parece também incomodado:
A frota nacional é pequena e não sei se é suficiente
E, você, o que acha destes R$ 3 bi que são nossos. Ao todos serão R$ 48 bi para o setor naval, você está de acordo? Escreva pra gente. Mande sua opinião.
Foto de abertura: Diário das 1001 viagens.
Você sabia que o Brasil do século XVII construiu o maior navio do mundo na época?