Ilha Grande (RJ) tem registro de onça parda
Frequento Ilha Grande (RJ) desde os anos 70 do século passado. Nas férias de verão costumava passar 15 dias nas redondezas. Ainda me lembro da deliciosa solidão, do canto das arapongas e, de vez em quando, de cruzar com algum caiçara em suas lindas canoas de pau. Naquele tempo só uma questão assustava: a possibilidade de alguma fuga do famoso presídio, o que de fato aconteceu numa das temporadas. Alguns marinheiros foram sequestrados quando lavavam louças no bote. Os fugitivos os obrigaram a seguir até o continente. Mas era só. Contudo, em 2022 uma boa nova: um registro de onça parda foi feito em Ilha Grande (RJ).
De 1970 para 2023
Infelizmente, muito da beleza e biodiversidade de Ilha Grande, e baía de Angra dos Reis, foi descaracterizada pela chaga da especulação imobiliária deste a abertura da BR 101, a estrada litorânea brasileira.
Imensas áreas de mangue, ‘protegidas’ pela legislação, foram aterradas para a construção de condomínios, mansões, hotéis, marinas, etc. Topos de morros ocupados banalizam uma paisagem única na costa brasileira. Desse modo, muito da mata atlântica ‘protegida’, que cobria totalmente a região, foi pro beleléu.
Os mais ricos passam o cimento nas costeiras, para que possam ter seu píer particular, ainda que tal prática seja igualmente proibida. Praias e espelho d’água foram privatizados por alguns destes ricos inconsequentes. Mas, afinal, quem se importa com a proteção da biodiversidade marinha?
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Registro de onça parda em Ilha Grande (RJ)
Segundo a agenciabrasil.ebc.com.br, ‘Após relatos de moradores e pescadores da existência de uma onça-parda no Parque Estadual da Ilha Grande, na Costa Verde fluminense, o animal foi registrado pela primeira vez no fim de novembro por meio de uma das armadilhas fotográficas colocadas nas trilhas do parque.’
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‘A captura das imagens foi feita pela professora Lena Geise, do Departamento de Zoologia do Instituto de Biologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), e seus alunos nas atividades de campo da disciplina Biologia e Conservação de Mamíferos do curso de graduação em Ciências Biológicas.’
A pesquisadora falou à agência brasil: ‘Lena explicou que a onça-parda é um felino no topo da cadeia alimentar que se alimenta de tatus, pacas, cotias, quatis. “Então a confirmação da presença do animal indica o bom estado de preservação da área protegida de Mata Atlântica da Ilha Grande”, afirmou a pesquisadora.’
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Predadores do topo da cadeia
Assim como os tubarões no mar, as onças pardas, também conhecidas como Suçuaranas, são de importância vital para os ecossistemas.
Predadores de topo de cadeia, tubarões são responsáveis pela manutenção do equilíbrio no ecossistema marinho. Eles se alimentam de peixes e invertebrados que estão menos aptos à sobrevivência, garantindo a saúde dos estoques pesqueiros de todo o mundo.
Do mesmo modo acontece com as onças (a espécie está na lista das ameaçadas de extinção) que alimentam-se de animais silvestres de portes variados exercendo papel vital na manutenção da integridade dos ecossistemas terrestres onde são encontradas.
Em entrevista ao O Globo, o gestor do parque, Cláudio Barcellos, falou de outros mamíferos da ilha: Trata-se de uma presença tão antiga quanto outros mamíferos do local, como os bugios, as capivaras, as cutias e as pacas.”
E, segundo a Veja Rio, ‘A onça-parda já foi flagrada ao menos outras duas vezes no último ano na região Sul fluminense: uma vez na Ilha da Gipoia, em novembro de 2021, também em Angra dos Reis; e outra em Piraí, nadando na Represa de Ribeirão das Lajes, em outubro.
E, só por isso, é uma esplêndida notícia que merece comemoração por todos que se interessam pelo meio ambiente. Apesar de nossos maus tratos, a biodiversidade de algumas ilhas brazucas resiste. Fantástico! Jamais imaginei que seria possível encontrar onças-pardas em Ilha Grande no terceiro milênio.
Que continuem por lá, igualmente, no quarto milênio!