Holanda, potência marítima no séc 17, conheça a história
“Símbolo da exploração com naus a vela e das descobertas foi a revolucionária República Holandesa do século XVII. Tendo declarado sua independência do poderoso Império Espanhol, ela abraçou, mais completamente que qualquer outra nação desta época, o Iluminismo europeu.” Assim escreveu Carl Sagan, professor de astronomia e ciências espaciais da Universidade Cornell. Autor de dezenas de livros, entre os quais, “Cosmos” (ed. Cia das letras), Sagan, antes de tudo, era um humanista. Foi desta obra que tiramos a frase sobre a Holanda, a grande potência marítima do séc. 17.
Holanda, seu povo marítimo, e a necessidade de navegar
Carl Sagan: “Era uma sociedade racional, ordenada, criativa. Mas os portos e navios espanhóis foram vedados à navegação holandesa. A sobrevivência da minúscula república dependia de sua capacidade para construir, tripular e acionar uma grande frota de navios comerciais.
“A Companhia das Índias Orientais, empreendimento conjunto de governo e iniciativa privada, enviou navios para os cantos mais afastados do mundo para adquirir mercadorias raras e revendê-las com lucro na Europa.”
Saga marítima portuguesa: início e, sobretudo, o declínio que abre as portas para outros povos navegadores
Foi assim que começou a epopeia náutica da Holanda. Ela foi favorecida pelo imenso império marítimo português, e a dificuldade dos lusos estarem em todos os lugares para defender suas posses. A saga lusa começou em 1417, com a ‘descoberta’ da Ilha da Madeira, e teve seu ‘grand finale’ em 1522, com a circunavegação de Fernão de Magalhães.
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Erro de Cabral possibilita conhecimento náutico da Holanda
Pedro Quirino da Fonseca, um dos grandes historiadores portugueses diz em seu livro, As Origens da Caravela Portuguesa, que ” Pedro Álvares Cabral cometeu um grave erro ao embarcar em sua armada dois pseudo-comerciantes holandeses, aos quais o governo de Goa facultou importantes cargos na Administração Pública Portuguesa, em Goa e na costa da Índia. Esses enigmáticos comerciantes ficaram conhecidos na história como sendo Dick Pomp e Jan Van Linschoten. Essa atitude de negligência por parte dos portugueses, em relação aos dois desconhecidos, permitiu aos holandeses informarem-se de tudo o que se passava na Índia e prepararem previamente, com toda a minudência, a vinda de seus compatriotas para o Oriente.”
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Esta bolina lateral rendeu frutos no Brasil holandês, a partir de 1630. Um de nossos barcos típicos, a canoa de tolda do rio São Francisco, adotou esta inovação que mantém até os dias atuais.
Do mar de Barents, no Ártico, à Tasmânia, na Austrália
Carl Sagan: “De uma hora para outra os holandeses estavam presentes em todo o planeta. O mar de Barents, e a Tasmânia, devem seus nomes a capitães do mar holandeses. Em um ano típico, muitos navios percorriam metade do mundo. Descendo pela costa oeste da África, contornando o litoral sul, passando pelo estreito de Madagascar e atravessando o que chamavam de mar da Etiópia, e depois a ponta meridional da Índia, eles navegavam em direção ao maior foco de seu interesse, as ilhas das Especiarias, atual Indonésia. Algumas expedições saíram dali para uma terra com o nome de Nova Holanda, hoje chamada Austrália.”
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O custo do desperdício mundial e o consumismoVulcões submarinos podem ser a origem da lenda da AtlântidaConheça o navio de guerra mais antigo do mundo ainda em serviçoE conclui Sagan: “Nunca antes nem depois, a Holanda foi a potência mundial que era então.”
Holanda do século XVII, o lar de grandes filósofos
Em seu livro, diz Sagan sobre esse aspecto: “País pequeno, obrigado a recorrer à sua sagacidade e inventividade, praticava uma política exterior de forte cunho pacifista. Devido a sua tolerância para com opiniões heterodoxas, era porto seguro para intelectuais que se refugiavam da censura e controle de opinião.”
O lar do grande filósofo judeu Espinoza
“A Holanda do século XVII tornou-se o lar do grande filósofo judeu Espinoza; que Eisntein admirava. De Descartes, figura axial da história da matemática e da filosofia; de John Locke, cientista político que influenciou um grupo de revolucionários de inclinação filosófica cujos nomes eram Paine, Adams, Franklin e Jefferson. Foi a época dos mestres da pintura de Rembrandt e Vermeer, e Frans Hals; do inventor do microscópio,Leeuwenhoeck; e de Grotius, fundador do direito internacional; de Willebrord Snell, que descobriu a lei da refração da luz.”
“O microscópio e o telescópio foram desenvolvidos na Holanda, no início do século XVII.”
A luz: tema predominante naquela época
Sagan diz que ” a luz era tema predominante na época. A simbólica iluminação da liberdade de pensamento e de religião, da descoberta geográfica. A luz que permeava as pinturas da época, em especial a primorosa obra de Vermeer; e a luz como objeto de de investigação científica…”
“Os interiores de Vermeer estão caracteristicamente cheios de artefatos náuticos e mapas de parede.”
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“Um problema chave para a navegação na época era a determinação da longitude, que exigia uma medição precisa do tempo. Christian Huygens inventou o relógio de pêndulo que foi empregado, não com absoluto sucesso, para calcular posições no meio do oceano.”
Algumas descobertas da Holanda
Em Junho de 1594, o cartógrafo holandês Willem Barents partiu numa frota de três navios para o mar de Kara (parte do oceano Ártico, ao norte da Sibéria), na esperança de encontrar a passagem do Nordeste acima da Sibéria. Atingiram a costa oeste da Nova Zembla (arquipélago russo no oceano Ártico), e seguiram para norte, antes de serem forçados a voltar face aos grandes icebergs.
Os holandeses colonizaram Java e, ao mesmo tempo, chegavam ao Nordeste do Brasil, denominado na época como Brasil neerlandês.
As terras australianas
O navegador Willem Janszoon, foi o primeiro europeu a avistar as terras australianas (1616) e Nova Zelândia (1642). No ano de 1615, Jacob Le Maire e Willem Schouten navegaram contornando o Cabo Horn para provar que a Tierra del Fuego não era uma ilha tão grande. Abel Tasman, executou viagem de circunavegação à chamada Nova Holanda. E Jacob Roggeeen avistou a ilha de Páscoa, no Domingo de Páscoa, 5 de abril de 1722, daí seu nome.
“O império holandês incorporou regiões como a do Cabo, na África; o Ceilão, na Ásia; a Nova Amsterdã (atual Nova York); vários territórios no nordeste do Brasil e as ilhas Antilhas na América.”
“A Holanda tem uma ex-colônia no norte da América do Sul, no meio das duas Guianas: o Suriname.”
As Ilhas das Especiarias
A bbc.com publicou recente matéria onde diz que “ao lado de Portugal, Inglaterra e Espanha, a Holanda estava envolvida em uma corrida para encontrar as Ilhas das Especiarias, ganhando controle do comércio de produtos como cravo e canela. Havia o potencial de fazer fortunas e esses países queriam eliminar intermediários – comerciantes asiáticos e árabes que escondiam a localização do arquipélago.”
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Companhia das Índias Orientais
“Quando os holandeses encontraram as ilhas, decidiram proteger seu investimento com a criação da Companhia das Índias Orientais. Abusando da brutalidade contra a população, eles ganharam o controle das plantações de noz-moscada, usada não apenas como tempero, mas também como remédio contra uma série de doenças que incluía a peste bubônica, então ainda afetando a Europa.”
“Naquela época, apenas as ilhas de Banda produziam noz-moscada. O isolamento do arquipélago, somado ao cultivo problemático da especiaria, tornava seu preço astronômico.”
‘Havia uma pedra no caminho, o primeiro passo para a formação do Império Britânico’
Foi o que disse a bbc, “mas havia no caminho uma pedra: em 1616, a Inglaterra conquistou Run, uma das ilhas de Banda, um pedacinho de terra, menos de 3 km de comprimento e menos de 800 de largura, que se tornou a primeira colônia inglesa e passou a ser administrada pela Companhia Inglesa das Índias Ocidentais. Foi o primeiro passo para a formação do Império Britânico.
O enclave inglês resistiu apenas por quatro anos. Mas em 1664, Londres deu o troco ao enviar quatro fragatas para cruzar o Atlântico e tomar uma possessão holandesa conhecida como Nova Amsterdã, o que foi feito rapidamente. Três anos depois, ingleses e holandeses chegaram a um acordo e simplesmente trocaram as ilhas.
Holanda troca Nova Amsterdã, atual Nova York, pela ilha de Run, arquipélago das ilhas de Banda
“A Holanda ficou com Run. A Inglaterra, com Nova Amsterdã, logo rebatizada de Nova York. Hoje, a Indonésia é quem controla Banda e a noz moscada.”
O final da era holandesa no mar
“No séc. XVII ocorreram três guerras anglo-holandesas: de 1652 a 1654; de 1665 a 1667; e de 1672 a 1674, ao final das quais ocorre a emergência da Inglaterra como potência mundial hegemônica.”
Por seus feitos no mar, a Holanda merece estar presente na ‘História Marítima”, do Mar Sem Fim. Carl Sagan encerra assim suas considerações sobre a o périplo náutico holandês: “as espaçonaves Voyager são descendentes lineares daquelas viagens de exploração dos veleiros, e da tradição científica especulativa de Christian Huygens. As Voaygers são caravelas direcionadas às estrelas, explorando no caminho esses mundos que Huygens conhecia e tanto amava.”
Fontes: Cosmos, de Carl Sagan, Ed. Cia das Letras. As Origens da Caravela Portuguesa, Pedro Quirino da Fonseca, ed. Chaves- Ferreira – Publicações, S. A.
Fontes da net: https://www.infoescola.com/historia/descobrimentos-e-navegacoes-holandesas/;https://alunosonline.uol.com.br/historia/navegacoes-holandesas.html; https://www.ducsamsterdam.net/curiosidades-historia-holanda/; http://www.bbc.com/portuguese/vert-tra-42180918?ocid=socialflow_twitter.