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Fugindo da miséria no leme de um navio

Fugindo da miséria, na Nigéria, três pessoas viajam 2.700 milhas no leme de um navio

O site da ONU informa que ‘existem atualmente 46 economias designadas pelas Nações Unidas como os países menos desenvolvidos, o que lhes dá direito a acesso preferencial a mercados, ajuda, assistência técnica especial além de capacitação em tecnologia, entre outras concessões.’ A maioria fica na África. Apesar disso, a Nigéria não é um deles. Contudo, três nigerianos fugindo da miséria  fizeram uma viagem aterradora, amontoados no  leme de um navio que zarpou de Lagos para, 2.700 milhas depois, ou 11 dias, chegar em Las Palmas, Ilhas Canárias.

três pessoas no leme de um navio
Fugindo da miséria. Imagem, Salvamento Marítima de Las Palmas.

Onze inacreditáveis dias no leme de um navio

Ao me deparar com a matéria da BBCSpanish coastguard finds stowaways on ship rudder (Guarda costeira espanhola encontra clandestinos no leme de navio),  não acreditei.

Gráfico: ONU em 2022.

De antemão, achei que fosse fake. Contudo, fui conferir no Google. Para meu espanto estava lá, ao lado de outras do  Guardian, e Washington Post.

Fiquei chocado. E, imediatamente, pensei no sofrimento destes três seres humanos. O quanto eles devem ter sido castigados pela vida para se arriscarem deste modo? Como aguentaram 11 dias no leme, mesmo que seja na ‘casa’ de leme, um minúsculo buraco no casco de um navio em alto-mar?

Esta imagem mostra bem as ‘casas’ de leme, ou minúsculos buracos no caso do navio onde devem ter viajado.

Segundo a BBC, ‘uma foto compartilhada pela guarda costeira mostra os homens sentados no leme do petroleiro, com os pés a menos de um metro da água.’

Imediatamente levaram-nos ao hospital para tratarem por desidratação moderada. Não está claro se  passaram toda a jornada empoleirados no leme.’

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Navio Althini II

BBC, ‘O Althini II, de bandeira maltesa, chegou a Las Palmas vindo da maior cidade da Nigéria, Lagos, de acordo com dados coletados por sites de rastreamento marítimo.’

Guardian, ‘Txema Santana, assessora de migração do governo das Ilhas Canárias, twittou: “Não é o primeiro e não será o último. Os clandestinos nem sempre têm a mesma sorte.” 

As perigosas travessias do norte da África para as Canárias aumentaram drasticamente desde o final de 2019, diz o Guardian, depois de um reforço  nas verificações das rotas do Mediterrâneo.

Os três nigerianos não foram os primeiros

E acrescenta, ‘Em outubro de 2020, quatro pessoas se esconderam no leme de um petroleiro de Lagos. De maneira idêntica, esconderam-se por 10 dias antes de serem descobertas pela polícia quando a embarcação entrou em Las Palmas.’

Ou seja, eles não foram os primeiros…O site da abcnews confirma: ‘ Outras pessoas foram descobertas anteriormente agarradas a lemes enquanto arriscavam suas vidas para chegar às ilhas espanholas. O Salvamento Marítimo tratou seis casos semelhantes nos últimos dois anos, segundo Sofía Hernández, que dirige o centro de coordenação do serviço em Las Palmas.’

‘Os migrantes podem procurar abrigo dentro da estrutura em forma de caixa ao redor do leme, explicou Hernández. Ainda assim são vulneráveis ​​ao mau tempo. “É muito perigoso”, disse à AP (agência de notícias).’

De acordo com o abcnews, ‘Em casos como esses o armador é o responsável por trazer os clandestinos de volta ao ponto de partida, segundo a delegação do governo espanhol nas ilhas.’

Dois foram reembarcados

Segundo o site especializado em navegação gcaptain.com,  ‘Dois dos três passageiros clandestinos  foram devolvidos ao navio com o objetivo de deportá-los. O terceiro, que sofreu hipotermia e desidratação, ainda não recebeu alta do hospital.’

A infâmia enfureceu Helena Maleno, diretora da organização não governamental de migração, Walking Border: ‘Os migrantes deveriam, no mínimo, ter sido informados do seu direito de pedir asilo político e deveriam ter sido questionados antes de serem devolvidos.’

Helena acrescentou: “Essas pessoas devem estar em estado de choque. Elas precisam alguns dias para se recuperarem e, a partir daí, explicarem do que fugiam para tomar essa decisão”.

Atualizado em 2 de dezembro

Segundo matéria da BBC, enviada pelo leitor Lauresto Couto Esher nesta data, ‘dois dias após terem sido resgatados na costa das Ilhas Canárias, eles alcançaram seu objetivo: permanecer na Espanha, pelo menos por enquanto.’

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‘A princípio, a delegação do governo nas Ilhas Canárias havia informado que os três migrantes seriam levados de volta ao navio assim que se recuperassem.’

‘”São três nigerianos maiores de idade. Os três pediram asilo, e um ainda está hospitalizado”, informou à BBC News Mundo a subdelegação do governo de Las Palmas, na Ilha de Gran Canária.’

‘”O fato de terem se submetido a uma travessia tão arriscada deve ser considerado como um indício para analisar individualmente as circunstâncias pessoais dos três náufragos”, afirmou a ONG, que tinha alertado que dois dos imigrantes tinham sido levados de volta ao navio na terça-feira.’

Os dois nigerianos devolvidos ao navio desembarcaram depois de pedirem asilo. Felizmente, como parece, os três terão uma chance. Menos mal.

O que dizer de uma viagem nestas condições?

Já li muito sobre travessias navais que terminam em tragédias. Ou ainda sobre o sofrimento de náufragos. Mas, estes, são frutos de acidentes; enquanto a deles, uma escolha. Que terrível desesperança os levou a tal decisão?

Desde que tomei conhecimento não consigo parar de pensar sobre os 11 dias de horror, angústia, e privação. Mas nem isso comoveu as autoridades. Eles voltarão para o inferno do qual fugiram.

Só por isso considerei que vale dividir a informação. Nem que seja para levantarmos as mãos aos céus e agradecer pela sorte que temos.

Tubarão da Groenlândia nascido no sec. 17 e ainda vivo

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