Estação Ecológica do TAIM, uma joia do Sul do país
Estação Ecológica do TAIM: ENTENDA
A área que visitamos formou-se cerca de 12 mil anos atrás, quando os oceanos se retraíram, deixando surgir o que hoje conhecemos como “planície costeira gaúcha”.
Na transgressão, ocorrida durante a última glaciação, parte da água ficou retida na forma de uma sucessão de lagoas, lagunas, e banhados que se comunicam entre si (e algumas com o mar). Afora estas, uma longa linha de praia guarnecida por dunas frontais são a característica preponderante do litoral do Rio Grande do Sul.
O TAIM é parte importante deste sistema hidrológico
O TAIM é parte importante deste sistema hidrológico. É a única, e fundamental, ligação entre os corpos dágua formados pelas lagoas Mangueira e Mirim. A geografia é caprichosa: a lagoa Mirim, por sua vez, se conecta à dos Patos via o canal de São Gonçalo, resultando daí um conjunto grandioso e dependente.
Resumindo: o Taim faz parte de um sistema maior que garante, não só a vida de quem mora ao seu redor (são milhões de pessoas considerando que o sistema abastece cidades como Porto Alegre, Rio Grande e Pelotas, para citar só as maiores), mas também a vida animal e vegetal, promovendo ainda o sustento das populações através de atividades extrativistas, agropecuárias, de agricultura, silvicultura, etc.
Mas a frágil planície foi ocupada por pastoreio desde sempre. E o gado se espalhou até o Chuí.
AMEAÇAS à Estação Ecológica do TAIM
Nada contra a atividade, ao contrário, nossa economia cresce graças ao agronegócio. O problema é o local. A planície costeira é frágil, basicamente areião, com pouca vegetação segurando as dunas. O gado “arranca” as plantas pela raiz. E quase nada mais nasce em seu lugar. A tendência, a prazo, é a desertificação. E esta é apenas uma das ameaças.
Mais tarde, na segunda metade do século passado, “uma visão equivocada” como disse a professora Lúcia Anello, da FURG, que considerava “campos arenosos uma área pobre porque não tem florestas”, fez o governo federal promover a silvicultura incentivando (de forma fiscal) plantações de florestas de eucaliptos e pinnus.
Decisão cara do ponto de vista da biodiversidade. Estas árvores consomem grandes quantidades de água alterando, aos poucos, a fisionomia de toda a região. Pior foi a drenagem das áreas alagadas para que as florestas pudessem crescer!
“Com esta ajuda” elas vingaram. E proliferaram também de forma involuntária, já que as sementes são levadas pelo vento e germinam do mesmo modo, às vezes, dentro da área protegida. Com a supressão brusca dos alagados um sem-número de anfíbios, répteis, e milhares de outros organismos se foi para sempre.
Uma estrada no caminho do TAIM
Outro baque parecido aconteceu na década de 70 quando construíram a BR 471, que liga Rio Grande ao Chuí, passando no centro do banhado do Taim. A área foi drenada para as obras…
A parte restante da planície, ou do pampa gaúcho em sua porção litorânea, foi ocupada pela agricultura, em especial a cultura do arroz que, além de precisar de muita água, não dispensa o uso de herbicidas e agrotóxicos.
Era urgente proteger parte desta riqueza para que, a despeito de sua transformação progressiva, o conjunto continuasse capaz de cumprir suas múltiplas funções.
O porquê da criação da Estação Ecológica do TAIM
A virtude da Estação Ecológica do Taim, e motivo para sua transformação em Unidade de Conservação, é a qualidade e quantidade da água que abriga em seus domínios, chave da vida para milhões de pessoas. Pelos mesmos motivos há grande variedade de fauna e flora que habita, freqüenta e depende da sua integridade para continuar seus ciclos de vida, formada sobretudo por milhares de aves (residentes e migratórias), répteis, peixes, mamíferos, anfíbios, insetos, microorganismos, etc.
Características:
Nome : Estação Ecológica do TAIM.
Bioma : Marinho- Costeiro.
Data da criação : Junho de 1986.
Localização : Planície Costeira Gaúcha, ao sul da cidade de Rio Grande, entre as lagoas Mangueira e Mirim, com 30% de seu território no município de Rio Grande, e 70% no município de Santa Vitória dos Palmares.
Tipo : Proteção Integral.
Área : 11 mil hectares.
Plano de Manejo: não há.
Objetivo da UC : Preservação da natureza e realização de pesquisas científicas. É proibida a visitação pública.
Ameaças : Especulação imobiliária, agricultura, pecuária e silvicultura, no entorno; dentro de seus limites, a pesca predatória, incêndios, e o estabelecimento de flora exótica.
Caderno de Anotações :
A viagem para registrar o TAIM foi maravilhosa. Fazia tempo que eu não via cenários brasileiros tão bonitos. Mas frio de rachar.
Estava desacostumado. As cores da planície costeira gaúcha, em dias ensolarados como os que tivemos, são soberbas. O campo de visão é enorme em razão da quase total ausência de obstáculos naturais. E a vida animal é um espetáculo.
Começamos por Rio Grande, ao sul de Porto Alegre, cidade mais próxima desta fantástica Unidade de Conservação.
Rio Grande seria nossa base
Ali seria nossa base para fazermos o trecho de praia que começa nos molhes do porto e segue até a fronteira, às margens do Arroio Chuí.
O foco desta nova série de documentários são as 62 UCs Federais da zona costeira. Mas, ao mesmo tempo, quero mostrar o entorno, em todas as direções, para que o telespectador possa se dar conta da importância da área que está sendo protegida e preservada.
Rio Grande é uma cidade portuária que experimenta um crescimento anormal.
Privatização do porto
Desde que o porto foi privatizado, em 1997, altos investimentos foram feitos. Novos equipamentos, custo mais baixo e boa produtividade tornaram o porto de Rio Grande mais atrativo. Hoje são quatro terminais: o Porto Velho, o Porto Novo, o Superporto, e o terminal pesqueiro de São José do Norte. Mas não é só: um polo industrial, uma refinaria da Petrobrás, e grandes estaleiros completam as modificações que criaram novos empregos e fizeram a roda da economia girar.
Planejamento da viagem
Nosso plano era rodar de carro, circundando o TAIM, para gravar as imagens. Uma vez pelo interior, via estrada de asfalto, para filmarmos o Norte, e o lado Oeste, da Estação. Outra pelo litoral, de Rio Grande até o Chuí, fazendo de estrada a praia do Cassino, “uma das maiores do mundo”, como não se cansam de gabar os gaúchos, com 245 quilômetros de extensão. Assim registraríamos os lados Leste, e Sul.
O TAIM é uma área de banhados e alagados. Faz parte da grande sucessão de lagoas e lagunas que se formaram ao longo de toda a zona costeira do Rio Grande do Sul.
Ao Norte fica a Lagoa dos Patos, que registramos a partir de Rio Grande. Ao Sul do Taim fica a lagoa Mangueira, que veríamos nas viagens de carro.
Faltava uma forma de atingirmos a lagoa Mirim, que fica do lado Leste do TAIM.
Canal de São Gonçalo
Decidi me deslocar para Pelotas, cerca de 40 quilômetros de Rio Grande, onde alugamos um barco para fazer o canal de São Gonçalo que desemboca na lagoa.
Este era o plano, antes de sairmos de São Paulo. E ele foi quase cem por cento coberto.
Primeiro dia da viagem
No primeiro dia fomos até o Mercado Central de Rio Grande registrar imagens dos pescadores trazendo os peixes fisgados na noite anterior, na Lagoa dos Patos, um dos maiores criatórios do sul do país.
A pesca, artesanal e profissional, é muito importante para a economia da região.
De lá seguimos para a FURG, Fundação Universidade Federal do Rio Grande, para entrevistar a pesquisadora Lúcia Anello, especializada em gestão ambiental.
Em seguida, de carro pela estrada, seguimos para o TAIM, onde ficaríamos hospedados por dois dias.
Estação Ecológica, uma das Unidades de Conservação mais restritivas
Uma Estação Ecológica, explica o chefe Henrique Ilha, é uma das Unidades de Conservação mais restritivas que existem. O objetivo é a preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas.
Visitas são proibidas, salvo em casos especiais como o nosso, quando jornalistas são autorizados a visitar a área.
ESEC do TAIM
O TAIM, criado em 1986, tem uma área de 11 mil hectares e, ao contrario do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, todos os antigos proprietários foram indenizados. Com isto as praticas anteriores, como criação de gado, cultura de arroz e reflorestamento, estão fora da unidade. Elas se restringem às suas fronteiras.
A equipe da Estação Ecológica do TAIM
Dez funcionários cuidam do local. Henrique conta que os maiores problemas na preservação do ambiente são a pesca (proibida na área do litoral e parte das lagoas), incêndios nas áreas de reflorestamento e invasão do pinnus (sementes levadas pelo vento). Também o turismo, o uso da água pelos rizicultores, e a especulação imobiliária que já dá suas caras depois do crescimento desordenado que Rio Grande enfrenta.
Praia da Capela e Lagoa Mirim
Ao amanhecer, com um guia da unidade, rodamos por outros caminhos. Estivemos na praia da Capela, a poucos quilômetros da sede do TAIM, na beira da Lagoa Mirim. Se não soubesse que estava numa lagoa poderia pensar que era uma praia marítima. Uma beleza! Até ondas havia, em razão do forte vento.
A especulação imobiliária dá as caras nas fronteiras da Estação Ecológica do TAIM
Mas este mesmo cenário, incomum e belíssimo, esconde uma ameaça: a especulação imobiliária em razão do acelerado crescimento de Rio Grande. No Verão de 2011 foram contados 600 automóveis de veranistas parados nas cercanias, em apenas um fim de semana…
Lagoa Mangueira
Depois, novamente pela estrada que leva ao Chuí, seguimos até outra lagoa, mais ao sul, a Lagoa Mangueira. Impressionante a quantidade de capivaras mortas, atropeladas por carros que não diminuem sua marcha e geram mais este tipo de problema.
A Mangueira é um dos ambientes mais bonitos. Milhares de capivaras, jacarés, ratões do banhado e outros animais, dividem a área com uma avifauna impressionante.
Mudança de planos durante a vista à Estação Ecológica do TAIM
No dia seguinte, logo cedo, nos despedimos e seguimos para o Chuí. Dormimos nesta cidade de fronteira para, depois, subir de volta até Rio Grande pela praia.
Mas ventava sul. Quando isto acontece as águas do mar avançam praia adentro, roubando quase todo o espaço da areia, tornando a viagem uma imprudência. Não havia alternativa, a não ser retornar pela mesma estrada da véspera.
Decidi seguir direto para Pelotas, para fazer o trecho de barco que nos levaria, via o Canal de São Gonçalo, até a lagoa Mirim de novo na fronteira com o Uruguai.
Mas não conseguimos cumprir esta meta. Poucas horas depois de sair o motor do Maria do Carmo fundiu. Por sorte conseguimos voltar até o porto de Pelotas.
Plano “B”: voltar para Rio Grande e descer ao Chuí pela praia.
Conseguimos. O vento sul deu descanso desta vez.
Praias são estradas no Rio Grande do Sul
No Rio Grande do Sul as praias são vias de ligação com outras cidades. Ônibus, caminhões e carros particulares fazem delas suas estradas, ainda que esta seja uma prática nada boa para a conservação.
Seguimos a tradição e gravamos as imagens que precisávamos.
Absurdo: rede na área de arrebentação, um costume no RS
SERVIÇOS
Apesar deste tipo de Unidade de Conservação não prever visitação pública, existem várias trilhas no entorno da UC que estão abertas ao público. É comum encontrar observadores de pássaros nestes locais. As trilhas existentes no entorno são: Trilha da Capilha: É uma trilha histórico-cultural, na qual é possível conhecer a comunidade de pescadores, a estrada Real e a Capela de Nossa Senhora da Conceição. A praia da Lagoa Mirim e suas falésias são um convite para assistir o pôr-do-sol.
Vale a pena a visitação. Esta é uma das mais belas Unidades de Conservação da costa brasileira. O acesso se dá pela estrada BR 471 que corta a ESEC. No inverno faz muito frio. Se escolher este período, leve agasalhos fortes.
Para mais informações entre em contato com: COORDENAÇÃO REGIONAL / VINCULAÇÃO: CR9 – Florianópolis
ENDEREÇO / CIDADE / UF / CEP: BR 471 – KM 498 – Rio Grande/RS
TELEFONE: (53) 3503-3151
Assista ao documentário que produzimos durante a visita à Estação Ecológica do TAIM