Entenda a função das praias, um importante ecossistema marinho
O verão parece ser um bom momento para discutirmos a função das praias no ecossistema marinho. Uma certeza nós temos, elas não foram feitas apenas para amenizar o verão dos seres humanos. Estes, aproveitam o ecossistema tão antigo como a formação do planeta, em mais um serviço que nos presta, desta vez socioambiental. Porém, você já parou para pensar como as praias foram criadas, e qual sua função no intrincado ecossistema marinho?
Como as praias são formadas
As praias são feitas de material erodido que foi transportado de outros lugares e depois depositado pelo mar, em outras palavras, areia. Mas, e a areia, como se formou? Quem responde é a NOAA, a areia vem de muitos locais, fontes e ambientes. A areia se forma quando as rochas quebram do intemperismo e erosão de milhares e até milhões de anos. As rochas levam tempo para se decompor, especialmente quartzo (sílica) e feldspato.
Muitas vezes, diz a NOAA, o processo começa a milhares de quilômetros do oceano. As rochas viajam lentamente pelos rios e córregos, quebrando-se constantemente ao longo do caminho. Uma vez que chegam ao oceano, elas são ainda mais erodidas a partir da ação constante das ondas e marés.
Entretanto, não é apenas a areia que importa. Os subprodutos dos seres vivos também desempenham um papel importante na criação de praias. Entre eles, microfósseis, conchas, algas, corais, etc.
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Declínio do berçário da baleia-franca e alerta aos atuais locais de avistagemBranqueamento de corais no Nordeste provoca mortandadeOndas gigantes devastam a costa norte do PeruColônia de corais de Bali pode ser a maior do mundoUma vez que estes grãos são formados, o movimento contínuo das ondas, marés, e correntes marinhas, fará com que eles se acumulem perto da costa. Normalmente, é preciso que haja um ambiente relativamente protegido para uma praia se formar, como uma pequena baía ou enseada. A água é sempre um excelente transportador de material solto, que é precisamente do que as praias são feitas. Assim começa o processo que leva eras para formar uma praia.
As praias como ecossistemas
O estudo de cientistas, Brazilian sandy beaches: characteristics, ecosystem services, impacts, knowledge and priorities (Praias arenosas brasileiras: características, serviços ecossistêmicos, impactos, conhecimento e prioridades), demonstram que ‘as praias arenosas constituem um ecossistema fundamental e fornecem bens e serviços socioeconômicos, desempenhando, assim, um papel importante na manutenção das populações humanas e na conservação da biodiversidade’.
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‘Praias abrigam uma biota (a parte viva de um ecossistema) diversificada e fornecem bens básicos e serviços ecossistêmicos para o equilíbrio ambiental. As comunidades biológicas das praias arenosas são dominadas por pequenos organismos e estruturadas principalmente pelas características físico-químicas do ambiente, como energia das ondas, regime de marés, inclinação, tamanho dos grãos, salinidade e oxigênio dissolvido. Consequentemente, a biota varia de praia para praia, e mudanças ambientais, naturais ou antropogênicas podem ter efeitos significativos sobre a estrutura e o funcionamento das comunidades biológicas de uma praia’.
Outra explicação, mais resumida e para leigos, é da especialista Mônica Dorigo, da Universidade Federal de Alagoas,
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Praias são ecossistemas animados
Em resumo, praias são realmente ecossistemas animados com a maior parte da vida escondida do olho humano, contudo, paira sobre elas uma visão simplista da maioria das pessoas. Ao ver as fotos da virada do ano pelos 17 Estados litorâneos do Brasil fica evidente que a densidade de nosso modo de uso e ocupação é altamente insustentável a longo prazo.
Já perdemos cerca de 15% de nossas praias apenas entre 1985 e 2020, de acordo com o MapBiomas que analisou imagens de satélite. Segundo o MapBiomas, ‘a preservação das praias e dunas é essencial para o controle da erosão costeira e preservação da faixa litorânea e sua biodiversidade’.
Os brasileiros que tanto adoram frequentar as praias fariam bem se conhecem estes aspectos. Não é aceitável que algumas praias da Região Sul, Nordeste e Norte, ainda sejam usadas como estadas até hoje. De maneira idêntica, é preciso repensar o superadensamento das praias do Sudeste, que também ocorre nas outras regiões e, mais importante, respeitar a mobilidade das praias construindo muito além da areia, para trás da primeira fileira de árvores.
O que ocorre no Brasil, a excessiva valorização da ‘vista para o mar’, provocou, e ainda provoca, um contínuo avanço das construções em cima da areia o que é um crime, mesmo que pouco fiscalizado, ou cobrado no País.