Dióxido de carbono na atmosfera atinge recorde em maio de 2021
Matéria do New York Times de 7 de junho não é nada animadora. Com o título, Carbon Dioxide in Atmosphere Hits Record High Despite Pandemic Dip, em tradução livre, Dióxido de carbono na atmosfera atinge recorde, apesar da queda pandêmica; o texto informa que o mês de maio de 2021 bateu os níveis mais altos de dióxido de carbono na atmosfera da história da humanidade.
Dióxido de carbono na atmosfera atinge recorde
Segundo o Times, instrumentos científicos no topo do vulcão Mauna Loa, no Havaí, mostraram que os níveis de dióxido de carbono no ar eram em média 419 partes por milhão em maio, o pico anual, de acordo com duas análises separadas do Scripps Institution of Oceanography e da National Oceanic and Atmospheric Administration.
Para o NYT, os dados dão mais um alerta de que os países ainda estão muito longe de controlar seus gases de efeito estufa, que causam o aquecimento do planeta.
Pandemia provoca pequena queda
As emissões globais caíram temporariamente no ano passado, à medida que os países reagiam em meio à pandemia, fechando empresas e fábricas. De acordo com a Agência Internacional de Energia, o mundo emitiu 5,8% menos dióxido de carbono em 2020 do que em 2019, a maior queda já registrada em um ano.
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No geral, a humanidade ainda emitiu mais de 31 bilhões de toneladas de dióxido de carbono no ano passado, de fontes como carros que queimam gasolina ou usinas de energia que queimam carvão.
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Enquanto cerca de metade desse dióxido de carbono é absorvido pelas árvores e oceanos do mundo, a outra metade permanece na atmosfera por milhares de anos, constantemente aquecendo o planeta por meio do efeito estufa, diz o New York Times.
Zerar as emissões
A matéria é realista e bate na tecla tão falada de zerar as emissões. Algo que o mundo começa a tentar depois de quatro anos de desperdício da era Trump quando os Estados Unidos abandonaram o Acordo de Paris.
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Tundra do Ártico emite mais carbono do que absorveVanuatu leva falha global em emissões à HaiaO plâncton ‘não sobreviverá às mudanças do clima’Em resumo, só há uma maneira de impedir que a quantidade total de dióxido de carbono na atmosfera continue a crescer: as nações precisariam basicamente zerar suas emissões anuais líquidas.
Roteiro para zerar emissões da Agência Internacional de Energia
De acordo com o New York Times, a Agência Internacional de Energia divulgou um roteiro detalhado de como todas as nações do mundo poderiam alcançar emissões líquidas zero até 2050.
As mudanças seriam drásticas, concluiu a agência: os países teriam que parar de construir novas usinas a carvão imediatamente, banir a venda de veículos movidos a gasolina até 2035 e instalar turbinas eólicas e painéis solares em um ritmo sem precedentes.
O NYT diz que se as nações conseguissem atingir essa meta, poderiam limitar o aquecimento global total em cerca de 1,5 grau Celsius, em comparação com os níveis pré-industriais, que foi o que sugeriu o Acordo de Paris.
Algumas observações
Enquanto escrevia este post parei para ouvir o webinar organizado pelo Instituo Semeia em 9 de junho, Brasil e desenvolvimento sustentável: caminhos para o protagonismo na agenda global, com participação entre outros do jornalista Jorge Caldeira, autor do livro Brasil Paraíso Restaurável; e de Rubens Ricupero, ex-ministro do Meio Ambiente e diplomata.
Brasil Paraíso Restaurável
Já comentamos neste espaço o livro Brasil Paraíso Restaurável, e o otimismo do autor em razão das vantagens competitivas do Brasil. Uma delas é nossa matriz energética, a mais limpa do planeta, a outra o fato de que temos a maior floresta tropical do globo.
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Para Caldeira ‘estamos em plena transição’ e além dos fatores já mencionados, o Brasil é o único país do mundo a ter uma opção aos combustíveis fósseis, o Proálcool; para culminar, segundo Jorge Caldeira, o dinheiro privado à procura de investimentos que promovam a neutralidade e a sustentabilidade é da ordem de US$ 70 trilhões de dólares.
Como outros pontos que justificavam o otimismo de Caldeira estão os progressos da Alemanha na redução de gases de efeito estufa; as promessas da China, o maior emissor mundial, cujo ‘plano quinquenal de 2016-2020 era totalmente voltado para a questão ambiental’, além das metas da União Europeia, e países como o Japão, Coréia, etc.
O realismo de Rubens Ricupero
Em seguida foi a vez do ex-ministro Rubens Ricupero que não se mostrou tão otimista. Ricupero começou falando da primeira reunião preparatória para a COP 26, em Glasgow, em novembro, que começou em 31 de maio e vai até 17 de junho.
Ricupero disse que a China ‘está sendo pouco construtiva ao levantar objeções por ser uma reunião virtual’. Para o embaixador ‘temos um déficit muito grande em transformar os compromissos do Acordo de Paris em realidade’.
1,5ºC meta ideal do Acordo de Paris
O ex-ministro e diplomata lembrou que o preâmbulo de meta ideal do Acordo de Paris foi trabalhar para que o aumento da temperatura média global não seja superior a 1,5ºC quando comparado a níveis pré-industriais, ‘mas já estamos com um aquecimento médio do planeta entre 1ºC e 1,2ºC’.
Seria necessário que os países melhorassem substancialmente os compromissos até agora apresentados. Rubens lembrou que os compromissos são voluntários, cada país especifica aquilo que pretende fazer e como chegar até lá. ‘Mas os compromissos não são obrigatórios’.
E alertou pelos quatro anos perdidos com Trump, que retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris.
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Reunião do clima convocada por Joe Biden
Sobre a reunião do clima convocada por Joe Biden, que procura recuperar o atraso, Ricupero disse que os compromissos foram quantificados por uma agência da ONU sobre meio ambiente com sede em Nairobi, Quênia, e atingem quase 4ºC acima dos níveis pré-industriais ‘o que nos levaria a um terreno jamais percorrido na história do planeta’.
Para Rubens Ricupero, mesmo que o aumento de temperatura seja de ‘apenas’ 2ºC, a quantidade de espécies em extinção seria demais, mas se atingirmos 4ºC isso seria ‘um desafio para a manutenção da civilização humana’.
União Europeia é o paradigma
Sobre os compromissos Ricupero considera o mais importante o da União Europeia que propôs chegar ao carbono zero em 2050, ‘mas já agora até 2030 a UE se comprometeu a realizar 55% desta meta’.
Para ele a meta da UE é especialmente importante porque ela é contada a partir de 1990. E explicou que não existe uma métrica única para estes compromissos.
Cada país escolhe o ano a partir do qual vai medir a redução das emissões dos gases de efeito estufa. ‘Quando mais cedo começa a contagem mais ambiciosa é a meta’.
O compromisso dos Estados Unidos
Já ‘os Estados Unidos fizeram um anúncio que é encorajador mas não se compara ao da UE. O país se compromete a chegar ao carbono zero em 2050, mas em 2030 o seu nível de ambição é bem menor, e além do mais os USA medem seu esforço a partir de 2005’.
O ex-ministro criticou a meta de outros países, entre eles o Brasil, que também escolheu 2005 como ponto de partida. E lembrou que países como o Japão ou Austrália não aceitam limitações para a energia de usinas de carvão, a mais suja de todas.
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Para Rubens Ricupero ‘a maioria dos governos faz este tipo de promessa (zerar o carbono em 2050 ou 2060) porque sabe que nesta data ele já estará há muito tempo fora de qualquer cobrança’.
Para Ricupero o importante é se fixar no que os países prometem para o curto prazo, ‘porque isso que é significativo’. E vaticina: “se não conseguirmos até 2025, 2030, compromissos significativos, será impossível chegar à meta de carbono zero em 2050′.
Enquanto isso o Brasil demonstra que perdeu o controle sobre a Amazônia, a maior floresta tropical do planeta.
Assista ao webinar do Instituto Semeia. Jorge Caldeira começa a falar aos 32 minutos, e Rubens Ricupero, 1hs 28″
Imagem de abertura: Sascha Steinbach / EPA, via Shutterstock
Fonte: https://www.nytimes.com/2021/06/07/climate/climate-change-emissions.html?campaign_id=54&emc=edit_clim_20210609&instance_id=32628&nl=climate-fwd%3A®i_id=91955602&segment_id=60282&te=1&user_id=b71b4a33397786aaa2444aad1304ea43.