Diagnóstico inédito da erosão na costa da Paraíba
O Preamar, do Instituto Federal da Paraíba, iniciou um diagnóstico inédito. A meta é mapear os 133 quilômetros da costa da Paraíba. Para isso, usará equipamentos de alta tecnologia para estudar a dinâmica das praias. O trabalho deve subsidiar futuras ações de proteção ambiental para mitigar o aumento do nível do mar e consequente erosão costeira. Estão previstos levantamentos geomorfológicos e análises da morfodinâmica que avaliam o transporte de sedimentos, o impacto das ondas e a velocidade das correntes. Entre os equipamentos estão os ADCPs, importados da Noruega. Eles usam ondas sonoras para medir direção e intensidade das correntes, além da altura e direção das ondas.

Conheça os ADCPs – Acoustic Doppler Current Profiler
No caso da Paraíba, a equipe importou os equipamentos da Noruega. Agora vai instalar os ADCPs ao longo da plataforma continental e em pontos críticos, como as praias da Camboinha e Bessa. O professor Alex Costa da Silva, do Departamento de Oceanografia da UFPE, colaborador do Preamar explicou que “esses equipamentos vão medir como a onda atinge a costa e como se dá o transporte dos sedimentos. Além das medições no mar, os estudos incluem aerolevantamentos com drones de última geração.
Para Gabriel Sereneski, coordenador dos aerolevantamentos de geomorfologia do Preamar, ‘drone nos permite gerar um mapeamento detalhado da morfologia costeira. Com isso, conseguimos acompanhar em alta precisão as mudanças no terreno’.
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Ilhabela em último lugar no ranking de turismo 2025Garopaba destrói vegetação de restinga na cara duraCores do Lagamar, um espectro de esperançaA novidade é bem-vinda se lembrarmos que muitos prefeitos de municípios costeiros são tão danosos para o litoral como os efeitos do aquecimento global. Este é o caso de Cícero Lucena, empresário da construção civil, ex-presidente do Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção e do Mobiliário do Estado da Paraíba, e atual prefeito de João Pessoa. Sua atitude mais recente foi uma proposta, rechaçada, para alterar a Lei do Gabarito e, assim, empinar espigões na orla do município.
Erosão na costa da Paraíba
Como todos os 17 Estados costeiros a Paraíba também sofre pela erosão que ameaça sair do controle como aconteceu em baía da Traição, por exemplo. Ali o município no litoral norte da Paraíba, com cerca de 9 mil habitantes, decretou estado de calamidade pública em áreas da praia do Forte, devido à erosão e aos danos provocados.
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A Paraíba já foi exemplo ao impedir espigões na orla desde a promulgação da Constituição estadual. Um dos motivos que levam ao acirramento da natural erosão no litoral são justamente as construções muito próximas das praias, que impedem a circulação de areia, e também as barragens em rios que prejudicam o transporte de sedimentos.
Região Metropolitana de João Pessoa
Entretanto, de uns tempos para cá o processo erosivo passou a ameaçar diversas partes do litoral paraibano. Em janeiro de 2024 pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) mostraram que a zona costeira do município do Conde, na Região Metropolitana de João Pessoa, registra significativo avanço do mar. O oceano ocupou cerca de 9 metros (27 cm/ano) nos últimos 37 anos, e a taxa de erosão marinha se acelerou entre os anos de 2015 e 2022.
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Cores do Lagamar, um espectro de esperançaBelém faz história: COP30 celebra o oceanoMudança climática, oceanos e as três verdades de Bill GatesOs locais mais afetados com a erosão neste período são alguns dos cartões postais mais conhecidos do Estado da Paraíba, como as praias de Jacumã, Coqueirinho, Tambaba, Carapibus, Amor e Arapuca, e a tendência para as próximas duas décadas (2022-2032 e 2032-2042) é de intensificação da atividade erosiva nestas regiões.
Segundo a UFPB, sob a coordenação do professor José Maria Landim Dominguez, uma série de estudos geológicos e geofísicos foram realizados por aproximadamente duas dezenas de pesquisadores – entre doutorandos, mestrandos e graduandos – no laboratório da UFBA. As pesquisas evidenciam que na Bahia 26% da costa tendem a “encolher”; em Sergipe este percentual é de 21%; e na Paraíba, 42%.
O mau exemplo dos políticos da Paraíba
Muitos dos despreparados gestores políticos de Pindorama aproveitam os problemas do aquecimento global para fazer gastos públicos no litoral nem sempre referendados pela ciência. Este parece ser o caso dos gestores de Santa Catarina que, mesmo contra a recomendação dos professores da UFSC, torram milhões em engorda de praias. Não faz muito que mostramos que Balneário de Piçarras segue para a sua quarta engorda em 30 anos.
Neste sentido vale destacar que, ao menos na Paraíba, o roteiro é outro. Os pesquisadores querem mais informações antes de decidirem onde e como gastar dinheiros públicos, e isto é muito positivo. Contudo, exemplos recentes dos gestores paraibanos são ainda piores que os de Santa Catarina.
Prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, queria estrada ao lado de falésia
Em 2023 denunciamos o prefeito de João Pessoa, empresário da construção civil, ex-presidente do Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção e do Mobiliário do Estado da Paraíba), Cícero Lucena (PP), que anunciou que pretendia iniciar as obras de alargamento da orla da cidade.
Contudo, não se tratava apenas de alargar a faixa de areia. O projeto propõe uma pista viária ligando o Cabo Branco à Ponta do Seixas por baixo, contornando uma falésia ativa!! O custo da obra foi orçado em cerca de R$ 200 milhões de reais!
Para fechar com chave de ouro, a empresa escolhida foi a Alleanza Projetos e Consultoria LTDA, que, dentre outros projetos, é responsável pelas intervenções de Balneário Camboriú, a monstruosidade de Santa Catarina onde a especulação imobiliária destruiu o litoral. Lucena ainda piorou a situação da falésia de Cabo Branco com a deposição de pedras na encosta, um projeto que mereceu críticas de especialistas mas nem assim deixou de ser feito.
Segundo os pesquisadores, para conter a erosão, uma das soluções adotadas pela Prefeitura de João Pessoa foi a deposição de pedras na encosta da falésia, enrocamento. Em consequência, a obra vem provocando erosão progressiva e alteração na dinâmica da linha de Praia do Cabo Branco, principalmente na porção sul, perto da Praça de Iemanjá.
Depois da enxurrada de críticas que teve até mesmo abaixo-assinado, e intervenção do Ministério Público, Cícero Lucena deu-se por vencido e retirou a proposta do engordamento. A ver, agora, se os resultados dos estudos conseguirão deter ou minimizar o problema.
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