Cristóvão Colombo: a vida do navegador teria sido a maior farsa da História ocidental?
“A vida de Cristóvão Colombo foi um imenso mistério. Construído com o propósito de manter o mundo em geral às escuras sobre a sua identidade, com exceção de uns poucos escolhidos que sabiam a verdade. A sua vida foi um labirinto. Enganou muita gente por mais de 500 nos. Alguns foram induzidos a aceitar mentiras. Outros a descartar verdades.”
Abordamos hoje o livro “Portugal E O Segredo de Colombo“, de Manuel da Silva Rosa, lançado em 2019. O trabalho foi considerado ‘o melhor livro de História do ano’ pelo Huffington Post e recebeu o prêmio Independent Press na categoria História Mundial. Silva Rosa propõe uma nova perspectiva sobre a vida de um dos navegadores mais consagrados e, ao mesmo tempo, desconhecidos: Cristóvão Colombo.
Diferentes nomenclaturas no livro e neste post
A variação na forma de se referir ao descobridor da América é notada neste texto, mas há uma explicação para isso. Silva Rosa utiliza duas modos diferentes em seu trabalho. Quando se refere ao mito que chegou até nós, o autor usa o nome que seria do “tecelão genovês,” ou seja, Cristofaro Colombo. No entanto, quando Silva Rosa se refere ao navegador que estava a serviço de Portugal na Espanha, utiliza o nome que o próprio navegador adotou ao chegar ao reino rival: D. Cristovão Colon. A terceira forma, usada neste post, é uma escolha deste escriba. No Brasil, o navegador é conhecido como “Cristóvão Colombo,” e é por isso que adotamos essa grafia ao comentar o trabalho de Silva Rosa
Cristóvão Colombo, um agente duplo a serviço de D. João II
“Aclamado como herói em seus dias, foi ainda armado cavaleiro da espora dourada e agraciado com fama e glória de tal forma que poucos seres humanos o conseguiram suplantar. O que apresento aqui é um conjunto de informações que ajudam o leitor a entender quem era o homem a quem chamamos Colombo. E o que deveras fazia em Castela. O descobridor passou a primeira parte de sua vida em Espanha como agente duplo, ao serviço do rei D. João II, de Portugal. E, nessa qualidade, ele foi um agente do mal quando necessário. O descobridor da América bem pode ter sido o melhor agente duplo da História. Porque conseguiu manter seu segredo durante mais de 500 anos. Não somos os primeiros a declarar que ele era um agente duplo. Mas nunca fora possível reunir evidências que o comprovam tão bem como vai ser, agora, desvendado neste livro.”
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A historiografia em Portugal, especialmente no que diz respeito ao período das grandes navegações, está vibrante e cativante. A arte de estudar e descrever a história continua avançando rapidamente, mesmo diante do véu do tempo. O livro “Portugal E O Segredo de Colombo,” de Manuel da Silva Rosa, é um exemplo da vitalidade dos historiadores portugueses que, apaixonados, continuam explorando “um dos maiores e mais importantes eventos registrados na história da humanidade,” como Adam Smith se referiu ao épico período das navegações portuguesas.
Na sua obra, o historiador desmonta o pouco que sabemos sobre Colombo ao propor que a vida do navegador, tal como nos foi apresentada, seria uma tremenda farsa. Neste livro fascinante, repleto de novas informações, ele sugere que o ‘descobridor da América’ era, na verdade, um agente secreto de Portugal na corte dos Reis Católicos. A teoria apresentada por Silva Rosa lança uma nova luz sobre a história de Colombo e sua relação com Portugal e Espanha, desafiando as narrativas tradicionais.
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Tomara que a efeméride dos 500 anos da viagem de Fernão de Magalhães, juntamente com as revelações deste livro, desperte acadêmicos, professores, educadores e o governo. É hora das escolas e faculdades do Brasil abordarem o tema com mais profundidade.
Cristóvão Colombo e o que nos foi contado, por Manuel da Silva Rosa
“Diziam que contava 25 anos quando chegou a Portugal. Sem trazer nada de seu. Era analfabeto. Resolveu tornar-se autodidata. Aprendeu sozinho a ler e escrever em português, espanhol, e até latim. Mas ainda não estava satisfeito. Nosso herói também decidiu aprender cosmografia, geografia, álgebra, geometria, cartografia, teologia e navegação. E assim aprendeu sozinho sobre todos estes assuntos. Foi desta forma que o humilde plebeu, tecelão em Gênova, se transformou num nobre da alta estirpe de Espanha, D. Cristovão Colon, armado cavaleiro da espora dourada. Muitos de nós leram esta espantosa história de vida do descobridor da América no ensino básico. E acreditaram.”
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Os parágrafos acima despertam o interesse do leitor de Silva Rosa, e já na página 11 do livro, o autor desconstrói a crença no ‘pobre tecelão genovês’. A obra parece revelar novas perspectivas sobre a vida e a história de Colombo, desafiando as exposições tradicionais que cercam esse renomado navegador.
“O argumento que sustentava o ‘Colombo italiano’ provou ter tantos buracos que se afundou, em 2004, graças a ciência forense. Em 2002 dois professores de Sevilha, Márcio Castro Sánches, e Sergio Algarrada, decidiram realizar testes de DNA às ossadas de Cristóvan Colon. O tecelão Cristofaro Colombo nada tinha em comum com o nobre D. Cristóvão Colon (assim Colombo se registrou no período em que esteve em Espanha), além da semelhança de nomes. Estivemos, até hoje, perante um caso de erro de identidade.”
O período das grandes navegações lusitanas é repleto de lacunas. Um dos motivos é que, naquela época, Portugal tinha plena consciência de que estava escrevendo uma das páginas mais notáveis da História e que o sucesso de suas explorações dependia da manutenção do segredo. O país era extremamente cauteloso em proteger suas conquistas porque não queria que caíssem nas mãos de inimigos. Tudo era mantido em sigilo, desde os documentos das viagens até os detalhes das explorações. Com o passar dos anos, muitos documentos se perderam, e é por isso que os historiadores contemporâneos se empenham em lançar luz sobre esse período crucial da história portuguesa.
‘O descobridor da América não era aquele navegador imbecil’
“O descobridor da América não era aquele navegador imbecil, perdido num mar negro de ignorância, convencido de que descobrira a Índia na metade do mundo oposta à sua verdadeira localização, como alguns teimam em afirmar. O mal-entendido gerado à volta de seu bem planejado ardil, associado a erros de interpretação, deu origem à pseudo-história de ‘Cristofaro Colombo’, amplamente difundida até hoje.”
Cristóvão Colombo, e os livros que dele tratam
A busca por informações relevantes sobre Colombo é um desafio, uma vez que muitos livros sobre o navegador são de tamanho reduzido e frequentemente geram confusão. Em contraste, outros navegadores e períodos da história têm uma riqueza de documentos, associações e comparações. Por que o protagonista da descoberta da América não é tão bem documentado? Essa é uma questão que nem todos consideraram, mas Manuel da Silva Rosa tem se dedicado a desvendar esse mistério há quase 30 anos. Com uma profunda compreensão da história de seu país e dos personagens que o tornaram grandioso, ele apresenta dezenas de documentos que sustentam sua argumentação em um livro fascinante de 575 páginas. Sua pesquisa parece revelar uma trama digna de Hollywood, e o desfecho é de tirar o fôlego.
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Os antecedentes lusitanos
“O que desconhecemos acerca da história da humanidade ultrapassa largamente aquilo que sabemos. Mas o fato de não conhecermos alguns eventos não significa que eles não se tenham registrado.”
A frase acima introduz uma extensa investigação sobre os antecedentes lusitanos que os levaram a descobrir mais da metade do mundo em apenas 100 anos. Essa parte do trabalho de Silva Rosa é talvez a mais reveladora e profunda, explorando as raízes históricas que levaram os portugueses a realizar descobertas tão significativas em um período relativamente curto. Isso demonstra a riqueza do conhecimento e da pesquisa do autor sobre a história das grandes navegações portuguesas. “Os portugueses foram os primeiros europeus a criar um plano nacional de investigação em navegação do Atlântico. Tinham por missão navegar até o equador, onde chegaram por volta de 1470, data da descoberta das ilhas São Tomé e Príncipe.”
Primórdios da marinha portuguesa
“Por volta de 1340 marinha portuguesa navegava até as Canárias, na tentativa de as conquistar. E é de admitir que, antes de 1424, os portugueses tenham chegado ao Canadá, território que chamavam de Antilhas (opostos às ilhas), numa óbvia referência a uma terra situada ao lado oposto dos Açores, claramente posicionadas num mapa de 1424.”
Preparação de D. Dinis (1279 – 1325)
“Durante o reinado de D. Dinis (1279 – 1325), assistimos a uma estratégia claramente vocacionada para o Atlântico. Em setembro de 1297 o monarca pôs fim às disputas fronteiriças entre Portugal e Espanha, fazendo de Portugal, enquanto território, a nação com as fronteiras mais antigas do mundo. A seguir, em 1307, D. Dinis criou o primeiro posto de almirante concedido a Nuno Fernandes Cagominho…No ano de 1317, D. Dinis contratou como seu novo almirante, o genovês Manuel Pezagano, para desenvolver, organizar, e comandar a marinha portuguesa. A pensar no futuro, D. Dinis ordenou que uma vasta área de 24 mil hectares, em Leiria, fosse reservada à plantação de pinheiros, para que a Portugal nunca faltasse madeira para a construção naval.”
Austrália e James Cook
“Muitos acadêmicos já admitem que a Austrália foi mapeada secretamente, em 1522, por Cristóvão Mendonça, um sobrinho do sogro de Colon, Bartolomeu Perestrelo, também primo de Ana de Mendonça, amante de D. João II. Durante 250 anos, os portugueses mantiveram sob sigilo a existência da Austrália e de seu mapa, até que o britânico James Cook teve conhecimento dessa informação e tornou-a pública.”
A América antes de 1457
“Em 1459, Fra Mauro (célebre cosmógrafo) já vira mostras inequívocas de expedições portuguesas que tinham encontrado e batizado terras situadas além de 2 mil milhas de Lisboa. Os Açores situam-se a cerca de mil milhas de Lisboa e ao dobro desta distância encontra-se tão somente…a América. Não há razão para duvidarmos de que os portugueses já tinham visto com seus próprios olhos as terras das Américas antes de 1457, ano em que o infante (D. Henrique) encomendou o mapa.”
De fato, é impossível resumir completamente a capacidade monumental de Silva Rosa em comprovar cada uma de suas afirmações em um simples post. No entanto, o trabalho é notável por sua abundância de documentos, associações e comentários que sustentam de forma sólida sua tese. Isso demonstra seu comprometimento com a pesquisa detalhada e o rigor histórico em seu trabalho. A leitura do livro é essencial para explorar em profundidade as evidências e argumentos que ele apresenta.
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‘Portugal tinha em Castela um inimigo permanente’
Portugal tinha em Castela um inimigo permanente…Dentro das ordens iniciativas (Cristo, Santiago, Avis, Crato) cultivava-se uma atmosfera perfeita, em que todos assumiam o dever de proteger os segredos de navegação nos séculos 14 e 15. O Novo Mundo, embora vasto, não estava desenvolvido. Não havia nenhum porto de abastecimento, nem cidades onde se pudesse comerciar. Era preciso abastecer os navios com comida para viagem de ida e volta. Os indígenas, quando não fugiam terra adentro, assustados, também nada possuíam digno de cobiça ou que valesse uma travessia do Atlântico para comprar. Torna-se óbvio que, em 1493, D. Cristóvão Colon foi autorizado por D. João II a tornar as terras do Novo Mundo do domínio público, porque dar a América a conhecer servia a estratégia e aos planos imediatos da Coroa portuguesa…”
Tratado de Tordesilhas
“Desde que Cabral reivindicou (atenção ao termo: ‘reivindicou’, não ‘descobriu’…) o Brasil em 1500, posse garantida pelo Tratado de Tordesilhas, de 1494, o véu de sigilo que a Coroa e sua Ordem de Cristo (consequência do fim da Ordem dos Templários) tinham mantido sobre o Atlântico já não era importante. E isto porque Vasco da Gama regressara da verdadeira Índia no ano anterior.”
“Na realidade, o tratado de Tordesilhas fora concebido como resultado da viagem de Cristóvão Colon. E tudo indica que D. João II e o almirante atuaram em conjunto para enganar a Espanha, desviando as atenções desta para a rota falsa de uma cindia a ocidente. E levando os espanhóis a assinar um novo tratado que servia aos interesses ocultos de Portugal.”
O Cabo Das Tormentas
“Bartolomeu Dias batizou o cabo da Boa Esperança com o nome de ‘cabo das Tormentas’, devido às horríveis tempestades que encontrou durante a sua descoberta. Contudo, D. João II deu-lhe imediatamente outro nome: ‘cabo da Boa Esperança’. Este nome representava um bom augúrio porque, após 70 anos de esforço, havia agora boa esperança de que Portugal chegasse em breve à Índia, navegando para Leste. A maioria dos historiadores aceita que este navegador deixou Lisboa no início de agosto de 1487, contornando o cabo da Boa Esperança e regressando a salvo a Lisboa em dezembro de 1488, após uma viagem de 16 meses.”
‘Azáfama no porto de Lisboa’
“Há 70 anos que Portugal tentava contornar a África. Dias acabou por consegui-lo em 1488, numa viagem de 480 dias. Seria de esperar que houvesse um acréscimo de azáfama no porto de Lisboa, no ano seguinte (1489), à volta dos preparativos de uma próxima viagem rumo à Índia, antes que Cristóvão Colon e Castela lá chegassem. Mas não foi o que aconteceu. Ao invés, Portugal fez uma pausa e manteve silêncio. Nem sequer existem referências às viagens que, com toda certeza, tiveram de realizar após 1488, com objetivo de investigar os ventos e as correntes no Atlântico Sul. Em vez de mandar de imediato uma frota para a Índia, Portugal esperou pacientemente durante seis anos. Mas, afinal, o que esperaria D. João II tão pacientemente?”
‘Durante esta pausa…’
“Durante esta pausa, Cristovão Colon regressou das Américas, a que chamou falsamente ‘Índias’. Foi uma bomba sensacional. Ela permitia aos castelhanos averbarem uma conquista que desejavam proteger. E um local para onde toda a frota castelhana poderia viajar para se entreter a partir daí. Pela importância que a descoberta parecia ter para o reino vizinho, não foi difícil a D. João II forçar Castela a assinar um tratado que mantinha os portugueses fora das alegadas Índias: o Tratado de Tordesilhas de 1494.”
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‘O ponto de viragem no jogo político de Portugal contra a Espanha’
“O tratado de Tordesilhas, único no gênero no mundo, foi o ponto de viragem no jogo político. Protegia, por escrito, o acesso marítimo do país à verdadeira Índia. Os navios espanhóis passariam a estar, a partir daí, proibidos de navegar para a Índia. Só após a assinatura do tratado, que salvaguardava a verdadeira Índia, é que D. João II deu ordens a Vasco da Gama e às embarcações portuguesas para se prepararem para deixar Lisboa a caminho da Índia. No entanto, a morte de D. João II, a 25 de outubro de 1495, atrasou a viagem de Gama. Ela só viria a ocorrer em 1497, como Garcia Resende nos relata (Em seguida há a missiva de Resende).”
‘Estratégia de espionagem bem montada por Portugal’
“A famosa Índia havia sido alcançada por mar. Tantos avanços na navegação, juntamente com uma estratégia de espionagem bem montada por Portugal, proporcionaram a D. João II todas as informações que precisava para salvaguardar a rota marítima até a Índia, dos seus arqui-inimigos de Castela. Necessidade de garantir o secretismo e o controle sobre aqueles territórios e sobre a futura conquista daquelas terras levou Portugal a níveis táticos tão ardilosos, que ainda hoje andamos a tentar desenredar essa teia montada no século 15. Portugal divulgou, intencionalmente, mapas falsos em Espanha. Estes mapas receberam a designação de ‘os mentirosos’ porque proibiu-se de navegar até a Guiné, ainda tendo licença do Rei de Portugal…não se incluía mapas…até que foram postos ao alcance do curioso, ‘os mentirosos’ que menciona a História, acusando Portugal de pô-los em circulação.”
‘Colón usava a mesma estratégia’
“Cristóvão Colon seguiria a mesma estratégia de desinformação de D. João II ao insistir que o grau terrestre era de, apenas, 56,66 milhas. Estes truques não foram exclusivos de D. João II. Em 1504 D. Manuel I ordenou, sob pena de perda de toda a propriedade, que a costa ocidental de África não aparecesse em nenhuma carta marítima que não fosse oficialmente aprovada. Leia-se censurada. O Rei de Portugal proibiu, também, a elaboração de quaisquer mapas-mundi. E num esquema ainda mais tortuoso, para proteger as Molucas, foi criado um mapa falso onde os cabos do Brasil e de África apareciam deslocados 360 milhas para leste. Devemos perguntar-nos porque tanto secretismo e falsificações em torno de meras explorações marítimas?”
‘O grau de secretismo equivale à importância do segredo’
“É sabido que o grau de secretismo é equivalente à importância daquilo que é mantido em segredo. Quanto mais alto o valor, maior o segredo. Em Portugal havia pena de morte para quem revelasse segredos de navegação. Isto mostra-nos que eles tinham um valor inestimável para o reino. De fato, tratava-se de uma questão de vida ou morte para o futuro de Portugal.”
Cristóvão Colombo português
“O conto do tecelão Colombo baseou-se em invenções, fantasias e ilusões.” E muitas páginas, e provas depois: “Existem múltiplos motivos para assumirmos que o primeiro almirante das Índias era um português oriundo da alta aristocracia. E com ligações estreitas à Coroa, cujo passado foi deliberadamente ocultado, com intuito de criar um labirinto onde historiadores têm se perdido ao longo dos últimos cinco séculos.”
A chegada de Colon a Portugal
“…portanto, aos 25 anos, a idade que dizem que tinha o genovês quando chegou a Portugal, não passando de um plebeu analfabeto, não poderia sequer freqüentar a escola. Mas mal pôs os pés em Portugal, o tecelão desatou a estudar. E, em poucos anos, ficou fluente não só em português, mas em todas as áreas do conhecimento que o almirante dominava: castelhano, latim, cosmografia, geometria, técnicas avançadas de navegação, teologia, matemática…”
O plebeu Cristóvão Colombo
“O plebeu Colombo teria aprendido tudo isso no espaço de oito anos (1476 – 1484), tantos quantos insistem que viveu em Portugal…Nesta história da carochinha não foi apenas o tecelão Cristofaro a ser bem-sucedido e a tornar-se erudito. Mas também o irmão plebeu, Bartolomeo Colombo. Ele se transformou no nobre Don Bartolomeu Colon, a quem o almirante mandava cartas codificadas, e que já residia em Lisboa a trabalhar como cartógrafo. Mais tarde, Bartolomeu Colon visitaria os reis da Inglaterra e da França. E, tal como o irmão, também estudara várias ciências. Incluindo técnicas avançadas de navegação…”
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Um plebeu analfabeto casa-se com uma dama da nobreza
Esse é mais um dos muitos argumentos que o autor utiliza para justificar a sua tese de que Colombo não foi a figura que a História tradicionalmente nos apresentou.
Naquela época, era extremamente improvável que um plebeu conseguisse casar-se com uma dama da nobreza, o que lança dúvidas sobre a história convencional que retrata Colombo como um tecelão genovês de origens humildes.
Esses argumentos desafiam as descrições tradicionais e incentivam uma reavaliação crítica da vida e da história de Colombo.
“Também há muitos que ainda creditam que esse tecelão Colombo acabaria por casar-se, passados apenas dois anos, com uma dama da nobreza do reino chamada Filipa Moniz, filha de um privilegiado cavaleiro da Casa do Infante D. Henrique e capitão da ilha de Porto Santo. Compreendermos o casamento do almirante Colon com Filipa Moniz equivale a descobrirmos o elemento chave capaz de desmascarar esta ficção do plebeu tecelão. Ela não era somente uma fidalga. Mas uma dama tão ligada à realeza de Portugal que, provavelmente, era ela própria de sangue real. O conto de fadas que nos venderam torna-se demasiado óbvio e acaba por se desmoronar do alto de seu ficcionismo.”
Manuel da Silva Rosa não foi o único a declarar Cristóvão Colombo português
“Em 1988, Mascarenha Barreto provocou um rebuliço com o livro ‘Colombo Português’, que veio a público para contrariar a maré contra a versão do tecelão…” A diferença entre os dois trabalhos, entretanto, é grande. Mas não é a primeira vez que historiadores lusos julgam estranhas demais as versões do tecelão genovês. Também não foi a primeira vez que estudiosos consideram que a América foi visitada por europeus antes de Colombo. Para não falarmos nos vikings, ou na fábula de que os chineses lá chegaram no século 15. Lembremo-nos de post, já publicado neste site, que mostra que os bascos pescavam bacalhau no litoral da América. No livro ‘Bacalhau- A história do peixe que mudou o mundo’, de Mark Kurlansky, base para este post, consta a informação jamais contestada. Portanto, porque não um Colombo português a desinformar os castelhanos?
Salvador Gonçalves Zarco (Cristóvão Colon): os livros de D. Tivisco, Confirmações Históricas
Mascarenha Barreto não foi o único autor a desafiar os cânones, e publicar um livro sobre o Colombo português. “Em 1930, quando a controvérsia sobre a nacionalidade de Colon se inflamou, dois investigadores portugueses publicaram um importante livro em apoio da teoria de que o almirante era um português da gema. Luis Guilherme Ferreira dos Santos era investigador, arqueólogo, poliglota, perito heráldico e linguista. Antonio Ferreira de Serpa era genealogista e historiador. A obra que publicaram intitulava-se Salvador Gonçalves Zarco (Cristóvão Colon): Os Livros de Trivisco: Confirmações Históricas.”
Cristóvão Colombo no Canadá, em 1477
Silva Rosa mostra, em seu trabalho, que “além de ter navegado para o Canadá, em 1477, o almirante Colon andou durante muito tempo embarcado numa frota comandada por um de seus famosos parentes, também chamado ‘Colombo’.”
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E publica uma carta do filho que menciona estas navegações.
“Cristóvão Colombo mentiu quando disse que a América era a Índia’
Há todo um capítulo que demonstra que, como já foi dito, ‘o descobridor da América não era aquele navegador imbecil’. Separamos alguns trechos: “Cristóvão Colombo mentiu quando disse que a América era a Índia. Nunca confundiu sua localização quando navegava em 1492, nem durante as quatro viagens. Os exemplos que seguem ajudam a explicar isso.”
Os fusos horários
“Nas centenas de notas que escreveu, inclui-se uma, datada de 1494, na qual diz que a ponta Leste da Espanhola (hoje Haiti/República Dominicana) se situava cerca de cinco fusos horários a ocidente do cabo de São Vicente. Esta informação revela quão precisos eram os conhecimentos de Cristóvão Colon na matéria, porque Portugal está localizado cinco fusos horários a leste do Haiti. Colon sabia este fato, em 1494, medindo simplesmente um eclipse lunar.”
Contando com as léguas
Há a alegação de que o almirante Colombo não sabia como usar os instrumentos de navegação ou calcular rotas, mas Silva Rosa, por meio de cálculos complexos, que não serão reproduzidos aqui, demonstra exatamente o oposto.
O autor argumenta que Colombo tinha amplo conhecimento de navegação e cálculos, mas deliberadamente manteve esse conhecimento em segredo para evitar que Castela também o adquirisse. Ele insistiu que havia alcançado as Índias, dando a Portugal tempo suficiente para lucrar na verdadeira Índia. Essa perspectiva desafia a noção convencional sobre as habilidades de Colombo como navegador.
O ambiente
“Muitos historiadores descartam a informação que a Europa tinha sobre a Índia ao tempo de Colon. Os artesãos tinham fama de trabalhar o ouro e a prata com maestria. A Índia era famosa por elefantes e guerreiros, diamantes e rubis. Bem como especiarias. Colon não cruzou com nada disto ao largo da costa das Caraíbas… O almirante encontrara apenas troncos de arvores transformados em canoas, gente nua como suas mães os pariram, sem ferramentas ou armas de metal. Ele descobriu, apenas, pequenas quantidades de ouro. E nenhum vestígio de cidades. Só meia dúzia de cabanas construídas com ramos de folhagem. Ele percebeu de imediato que estas terras não estavam sequer, perto da Índia.” Para Silva Rosa, “chamar aquelas terras Índia e àquela gente índios só ficava a dever-se à tentativa de ludibriar os monarcas espanhóis e levá-los a cobiçar o território como sua conquista.”
D.João II e Cristóvão Colon
O autor reúne uma série de informações que destacam a proximidade entre D. João II e Colombo. Ele lembra que, ao retornar das Américas ou da Índia, Colombo, em vez de se dirigir imediatamente para a Espanha, fazia escala em Portugal para se encontrar com D. João II.
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Esses encontros são detalhadamente explorados no livro e revelam aspectos cruciais da relação entre Colombo e o rei português. Além disso, o autor também menciona que Colombo parou em Portugal em três das suas quatro viagens e mentiu aos reis espanhóis sobre essas escalas. Silva Rosa ainda descobriu uma carta do rei português endereçada a Colombo, fornecendo mais elementos para a sua tese. Isso lança luz sobre a complexa relação entre Colombo e as cortes portuguesa e espanhola:
“Convido-vos a ler outra carta, guardada no Arquivo das Índias em Sevilha, enviada por D. João II. O Rei admitia que Colon era industrioso e engenhoso, e que possuía talentos muito necessários à Coroa de Portugal. Colon ficou a saber de outro segredo, confidenciado por D. João II, a informação de que existe um continente a ocidente e a sul do Equador: o Brasil.”
Afundamento da nau Santa Maria?
“A primeira vez que li sobre o afundamento da nau Santa Maria percebi que estava diante de um relato falso. Qualquer homem do mar, como Colon, e seu braço direito, Juan de la Cosa, nunca perderia um navio em águas calmas só por ter tocado contra um recife, sobretudo com o recife já mapeado no dia anterior. Eis alguns aspectos importantes do desastre segundo o Diário de Bordo.”
Pela meia-noite de 24 de dezembro de 1492, a Santa Maria navegava em águas calmas, numa noite sem vento…Colon foi dormir e o mestre do navio também decidiu descansar, deixando um rapaz ao leme.
O rapaz gritou, alertando que o navio tinha encalhado. O almirante foi o primeiro a chegar ao convés.
Em seguida surge o mestre, e dono da nau, Juan de la Cosa, a quem Colon ordena que reúna homens na lancha e lance a âncora pela popa, para poderem puxar e libertar a Santa Maria.
Em vez disso, Juan de la Cosa decidiu salvar-se, remando a lancha até a caravela Nina, a duas milhas de distância, e deixando a Santa Maria e sua tripulação entregues à própria sorte. A traição fez com que seu próprio navio não pudesse ser salvo. No entanto, Juan de la Cosa nunca foi punido pela traição. Na verdade, voltou a navegar com Colon na viagem seguinte, como se nunca tivesse cometido qualquer traição.
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“Apesar de um navio não afundar em água calmas apenas com um ligeiro empurrão contra um recife, a menos que se parta (encalhou tão suavemente que ninguém deu por nada, segundo o Diário de Bordo), o fato do mestre ter fugido sem tentar, sequer, salvar a embarcação foi o primeiro aspecto que me levantou suspeitas.”
A tese sobre o (não) naufrágio da Santa Maria
O autor usa trechos do Diário de Bordo, para chegar à conclusão que “Colon ficou livre para relatar à Corte da rainha D. Isabel as mentiras que lhe apetecesse… A nau fora deixada em terra, e foi, na altura, atingida por uma bala de canhão, que a furou lado a lado, disparada por ordem de Colon. O navio foi deixado, para que ele pudesse se livrar de dois cortesãos para que não pudessem contradizer suas mentiras aos monarcas. Castela seria forçada a mandar uma nova frota para resgatar os homens deixados para trás. Colon poderia reivindicar o território para si com o pretexto de ali existir já uma colônia de gente castelhana. A Santa Maria teria sido difícil de pilotar no regresso, confrontando os perigosos mares de inverno nos Açores, porque ele diz que o navio era muito pesado e não indicado para viagens de exploração.”
Nau Santa Maria
Observação: lembramos que o ‘achado’ do naufrágio da Santa Maria,no Haiti, que gerou até um post neste site foi, posteriormente, desmentido pela UNESCO. A pedido do governo do Haiti experts estudaram o ‘achado’ e concluíram não ser o da famosa Santa Maria.
A conclusão do mistério de Cristóvão Colombo, segundo Manuel da Silva Rosa
Muitas páginas, e investigações depois, Silva Rosa chega à sua surpreendente conclusão. Para o autor, “como houve tanta gente envolvida no encobrimento deste segredo, Colon tinha forçosamente de ser filho de alguma figura muito importante na esfera geopolítica europeia. Um indivíduo que carregava um segredo colossal, que não poderia ser revelado ao mundo, pelo menos, na época em que viveu.”
Filho oculto de um rei eremita
“A vida do homem que adotou o nome de Cristóvão Colon assemelha-se a um caleidoscópio. A mais pequena distorção dos fatos pode conduzir-nos a uma visão completamente diferente.” Assim começa um dos últimos capítulos da obra de Silva Rosa. Capítulo em que o autor desvenda, afinal, quem teria sido o navegador. Para ele, depois de muito estudo da história, Colon era filho de um rei eremita polonês, Ladislau III.
A saga de Ladislau III
“Após seu desaparecimento na batalha de Varna, na Bulgária, contra os muçulmanos (batalha perdida pelos cristãos), em novembro de 1444, o rei Ladislau III foi residir secretamente para a ilha da Madeira. Aí casou-se com a dama da nobreza Senhorinha Anes, de quem teve vários filhos, incluindo Segismundo Henriques. Todos afirmavam que o rei da Polônia tinha sido morto na batalha, mas nós propomo-nos a demonstrar que tal não corresponde à verdade…”
Asilo em Portugal, e homenagem ao infante D. Henrique
“Sete anos após a batalha de Varna, o misterioso cavaleiro de Santa Catarina procurou asilo em Portugal: o único reino que acolhera os templários, anti-Vaticano e que combatia ativamente o avanço do Islã…Apesar de seu anonimato, ele era tão importante que o Infante D. Henrique lhe doou terras na Madeira…D. Afonso V arranjou-lhe casamento com uma dama da nobreza com laços com a família do capitão- Zarco, e o rei de Portugal foi padrinho. Portanto, a Corte de Portugal estava a tratar o Cavaleiro de Santa Catarina com reverência e cuidado. Sem mencionar seu verdadeiro nome.”
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Coincidências com a vida de Cristóvão Colon
“E nisto começamos a ver coincidências com a vida de Cristóvão Colon. O fato de D. Afonso V ter sido padrinho atesta a importância da linhagem do noivo. Mais tarde, o cavaleiro de Santa Catarina adotou o nome de Henrique, o Alemão. É provável que Ladislau tenha escolhido este nome em homenagem ao infante D. Henrique.”
‘Como nos é apresentada a história de Cristóvão Colon’
“Primeiro temos um príncipe Segismundo desaparecido no mar quando se dirigia para Portugal. Em seguida, temos um Cristóvão Colon que aparece vindo do mar e chega a Portugal como um homem sem passado. Como as crônicas confirmam, Cristóvão Colon viveu na Madeira e, nesta conjuntura, Ladislau III surge como principal suspeito, culpado de ser o verdadeiro pai de Cristóvão Colon, e origem da nova genealogia inventada por Colon…”
A esposa de Ladislau
“Recentemente, vieram a público interessantes coincidências que sugerem que a esposa de Ladislau era filha ilegítima do infante D. Henrique, O Navegador. Especulamos agora que Senhorinha Anes fosse fruto de um caso amoroso entre o príncipe D. Henrique e uma descendente de Cecilia Colonna…há dicas que sugerem que os cronistas mentiram acerca da castidade do príncipe. Nos arquivos do Vaticano, consta que haverá indícios de que D. Henrique terá tido, pelo menos, uma filha ilegítima. Uma filha ilegítima do grande infante, falecido virgem, constituiria razão suficiente para se criar uma falsa pista…Seria este golpe na imagem de celibatário do infante o suficiente para explicar 500 anos de charada em torno da identidade de Cristóvão Colon?”
“Cristóvão Colombo era o príncipe Segismundo Henriques de Sá Colonna Jagielo.”
“Cristóvão Colon era o príncipe Segismundo Henriques de Sá Colonna Jagielo. À primeira vista, a teoria de que Cristóvão Colon era filho de Ladislau III pode parecer fantasiosa. Contudo, assim que apresentarmos todos os fatos, ficará claro que Ladislau III escapou vivo da batalha de Varna e viveu o resto da vida em Portugal, sob o pseudônimo de Henrique Alemão. E que Cristóvão Colon era seu filho, batizado com o nome de Segismundo Henriques.”
Mais de 70 páginas depois, repletas de documentos, conjecturas e comparações, o autor, em sua trama hollywoodiana, finaliza a obra. E que obra!
Conclusão sobre Cristóvão Colombo
O autor promete encerrar a polêmica e reforçar a sua tese ao obter a autorização para exumar os restos mortais de Colombo e realizar um teste de DNA para compará-los com os dos descendentes do príncipe polonês.
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A realização do teste de DNA poderia lançar luz sobre a verdadeira identidade de Colombo e confirmar ou refutar as alegações feitas no livro. É um desfecho aguardado que poderia trazer novos insights à história das grandes navegações e da descoberta da América.
Embora não sejamos historiadores, é claro que a tese apresentada por Manuel da Silva Rosa levanta questões intrigantes sobre a identidade de Cristóvão Colombo e a possível relação com Portugal.
Se as alegações de que Colombo era um português da nobreza a serviço de D. João II forem confirmadas, isso certamente esclareceria muitas das confusões em torno do navegador. E também poderia ter implicações significativas para a história das grandes navegações e a compreensão da descoberta da América.
A investigação em curso com os testes de DNA pode ajudar a lançar luz sobre essa questão e resolver um mistério histórico de longa data. Encerramos fazendo nossas as palavras do historiador conterrâneo, José Rodrigues dos Santos, que assina parte da ‘orelha’ do livro:
A investigação de Manuel Rosa vem confirmar que, qualquer que seja o seu verdadeiro nome, é a origem nobre portuguesa que melhor explica as enigmáticas contradições em torno da vida de Colon.
Fonte: ‘Portugal E O Segredo de Colombo’, de Manuel da Silva Rosa. Ed.Alma l\Livros, Lisboa, 2019. Info@almalivros.pt