Crimes climáticos, e o papel do petróleo no aquecimento
Em 30 de junho de 2021 o jornal inglês The Guardian iniciou uma série de reportagens com o título Climate crimes: a new series investigating big oil’s role in the climate crisis, em tradução livre, Crimes climáticos: uma nova série investigando o grande papel do petróleo na crise climática. No primeiro parágrafo o jornal questiona: À medida que os impactos da crise climática se multiplicam nos EUA, desde a intensificação da seca e incêndios florestais no oeste até furacões mais fortes no leste, uma pergunta ecoa cada vez mais alto: quem deve ser responsabilizado?
Crimes climáticos, e o papel do petróleo no aquecimento
Segundo o Guardian, de acordo com um número sem precedentes de ações judiciais movidas por cidades e estados dos EUA que atualmente estão tramitando no sistema judiciário, a resposta são as empresas de combustíveis fósseis.
O início do processo de negação da ciência
O Mar Sem Fim abre um parêntesis para fazer outra pergunta aos leitores: quem, e quando, começou o processo recente de negação da ciência que acabou por desembocar em esdrúxulas eleições nos Estados Unidos, Brasil, Hungria, e outros países?
Mentiras da indústria do fumo e do petróleo
Nós já respondemos no post Indústrias do petróleo e do tabaco, e o negacionismo atual. O post foi inspirado em matéria da BBC com o título ‘Como a indústria do petróleo pôs em dúvida o aquecimento global usando táticas dos fabricantes de cigarro’, publicada em setembro de 2020.
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A matéria relembra quando, e como, começaram os alertas de pesquisadores sobre um possível novo problema: o aquecimento global. A descoberta aconteceu justamente nos laboratórios de uma das gigantes do setor, a Exxon.
O pesquisador da Exxon, Marty Hoffert, trabalhando com modelos matemáticos descobriu algo que o assustou em 1981. É ele quem explica: “Eu havia criado um modelo que mostrava que a Terra se aqueceria de modo significativo. E esse aquecimento produziria mudanças climáticas sem precedentes na história humana. Aquilo me surpreendeu.”
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A negação por parte da Exxon
Marty dividiu sua descoberta com seus superiores. Pouco depois foi surpreendido por Lee Raymond, o executivo-chefe da Exxon que declarou: “no momento, a evidência científica é inconclusiva quanto a se as atividades humanas têm um efeito significativo no clima global.”
Marty pediu demissão da Exxon. Mas a BBC desenterrou um documento interno da empresa, da época, onde o chefe de estratégias da petrolífera, Duane Levine, preparou uma apresentação confidencial para o conselho da empresa. Nela, estava escrito: “Estamos começando a ouvir o inevitável chamado à ação. Esse chamado exige passos draconianos irreversíveis e custosos”.
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Acidificação do oceano está à beira da transgressãoConheça o novo navio de carga híbridoBrasil pega fogo, espanta o mundo, e Lula confessa: ‘não estamos preparados’Outro documento da época, chamado “Posicionamento da Exxon” mostra que o ponto principal de tal documento era “enfatizar a incerteza” sobre as mudanças climáticas.
Indústrias do tabaco e do petróleo financiando mentiras de ‘cientistas’
A partir deste ponto, a indústria do petróleo agiu como a do fumo, nos anos 50 quando era já certo que o tabaco provocava câncer de pulmão, e passou a financiar cientistas que, como os pagos pela indústria do cigarro, minimizavam ou confundiam a opinião púbica sobre o aquecimento que hoje enfrentamos.
A matéria do Guardian aborda este procedimento criminoso da indústria do petróleo.
‘Empresas de petróleo sabiam dos estragos ao meio ambiente’
Segundo o jornal, ‘as ações judiciais reúnem uma vasta gama de fatos bem estabelecidos que detalham como, por décadas, as principais empresas de petróleo sabiam que a queima de combustíveis fósseis causava estragos no meio ambiente’.
‘Advertências há quase 60 anos’
‘As elites da indústria ouviram terríveis advertências de seus próprios cientistas que previram a urgência da crise climática há quase 60 anos. Mas, em vez de agir rapidamente, os conglomerados petrolíferos encenaram uma campanha de desinformação coordenada para suprimir a ação política e a conscientização pública em torno do crescente consenso científico que aponta para uma emergência climática’.
‘Agora, concluem os processos, as empresas de combustíveis fósseis devem pagar pelos danos que ajudaram a causar ao planeta’.
O Guardian vai acompanhar os processos sobre os crimes climáticos nos Estados Unidos, e o Mar Sem Fim estará atento às novidades. O jornal conclui mostrando que os ventos mudaram.
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Tribunal holandês investe contra a Shell
‘Além das ações judiciais, há outros indícios de que a maré está mudando para o setor de combustíveis fósseis. Ao longo de um único dia em maio, a indústria enfrentou uma série de repreensões embaraçosas, quando um tribunal holandês ordenou que a Shell cortasse suas emissões em 45% e investidores ativistas ganharam assentos no conselho de diretores da ExxonMobil’.
‘A indústria do petróleo diz que vai mudar’, falso ou verdadeiro?
O Guardian termina a primeira matéria da série questionando: ‘Ao mesmo tempo, depois de décadas negando a verdadeira natureza da ameaça do aquecimento global, a indústria do petróleo agora diz que está comprometida com um futuro mais verde por meio de energias renováveis e metas de carbono zero’.
‘Esta é uma tentativa sincera de amenizar uma crise global – ou apenas mais um movimento de relações públicas dos gigantes do petróleo para evitar as regulamentações e políticas de que o planeta precisa com urgência?’
Imagem de abertura: https://www.forbes.co.ao/
Fontes: https://www.theguardian.com/environment/2021/jun/29/climate-crimes-about-this-series.