Covid-19 e poluição: diminuiu no ar, mas tende a aumentar no mar
Este post serve como consolo aos brasileiros. Nós, que já sofremos o complexo ‘vira-latas’, somos castigados pela pandemia, crise econômica e política, e um governo que só faz aumentar todas elas. Isso abaixa ainda mais a auto-estima. Mas não somos só nós os causadores da poluição marinha, e ao meio ambiente em geral. Jornais, e sites especializados de todos os cantos do mundo, especialmente os ditos ‘civilizados’, estampam manchetes alertando desde o início da pandemia: Covid-19 e poluição: diminuiu no ar, aumentou no mar.
A pandemia e a poluição
Se esta pandemia tiver algum lado menos ruim, este seria o caso da poluição ambiental. Com a diminuição da atividade econômica e, em consequência, o uso de automóveis particulares e transporte público, além do fechamento de parte da indústria, a qualidade do ar melhorou em todo o planeta. A poluição sonora também registrou queda considerável.
No caso dos oceanos, houve significativa redução da navegação. Com exceção dos navios cargueiros, o resto da frota mundial quase parou. Barcos de recreio estão nas marinas, os de pesca, parados em seus terminais, assim como os de transporte de passageiros. O resultado mais eloquente surgiu nos canais de Veneza. Pela primeira vez em muitos anos foi possível ver a vida marinha ‘passeando’ em meio as construções antigas. Ou nas praias do sudeste brasileiro com aparição de baleias a poucos metros da areia.
Mas, ao menos um grande problema é observado na imprensa norte-americana e europeia: o possível aumento da poluição dos oceanos em razão do descarte indiscriminado dos equipamentos de apoio aos cidadãos e profissionais da saúde. O plástico é um material essencial para o equipamento de proteção individual (EPI) do pessoal de saúde. As máscaras que usam, chamadas FPP, têm um material filtrante feito de uma malha de fibras plásticas que retém vírus. Para não falar em óculos e viseiras.
Mais lidos
Declínio do berçário da baleia-franca e alerta aos atuais locais de avistagemCOP29, no Azerbaijão, ‘cheira à gasolina’Município de Ubatuba acusado pelo MP-SP por omissãoVerticalização em Ilha Comprida sofre revés do MP-SPQuase oito bilhões de inquilinos na ‘Aldeia Global’
Não nos esqueçamos que a covid-19 é mundial, e que somos hoje quase oito bilhões na Terra. Para proteger a população, bilhões de máscaras foram, e continuam sendo produzidas, assim como luvas, e outros. Ou seja, um brutal aumento na produção e consumo de material plástico, ou fibras sintéticas, ambos considerados os maiores inimigo dos oceanos.
Pelo descarte errado, grande parte acaba no mar. Isso vem agravar ainda mais a situação do mais importante ecossistema do planeta. Ainda recentemente, o Mar Sem Fim mostrou que a poluição oceânica por microplástico foi subestimada. Quais as consequências da maior produção e consumo de plástico?
PUBLICIDADE
Covid-19 e poluição marinha: algumas manchetes da mídia européia
BBC: Coronavirus: “Alarme da França sobre poluição do Mediterrâneo ligada ao Covid” (Coronavirus: French alarm at Covid-linked Med pollution). A rede inglesa destacou que “a Operação Mer Propre (Mar Limpo) está tentando limpar a costa perto do resort de Antibes na Côte d’Azur. E ficaram chocados com essa nova poluição por máscaras e luvas, que se soma ao problema já crônico da poluição por plásticos (O Mediterrâneo é o mar mais poluído da Europa).”
A BBC também destacou que “os faxineiros de Paris reclamaram nas mídias sociais que muitas máscaras haviam sido descartadas nas calçadas da capital.” Portanto, parte dos habitantes da Cidade Luz também descarta seus itens de segurança nas ruas. Isso alivia nosso complexo?
Leia também
Houthis ameaçam Mar Vermelho com 1 milhão de barris de petróleoDesafios Ambientais: conheça boas ações, uma da sociedade, outra do governoO custo do desperdício mundial e o consumismoO plástico de uso único, estava programado para ser proibido na União Europeia a partir de 2021. Será que manterão a programação?
Nos Estados Unidos
CNN: “Todas as imagens que expõem a pandemia de coronavírus parecem realçar uma coisa: plástico” (All of the defining images of the coronavirus pandemic seem to feature one thing: plastic.).
E a CNN destaca a declaração de John Hocevar, diretor de campanha para oceanos do Greenpeace EUA: “Do lado de fora da minha casa há luvas e máscaras descartadas por todo o bairro”
Isso acontece no País mais rico do mundo, e com um dos melhores níveis de educação.
Covid-19 e poluição: ’70 máscaras descartadas em um trecho de 100 metros de praia’
Já mostramos o que acontece nos Estados Unidos e Europa. Vamos agora, ver na Ásia. O site www.sustainability-times.com é a nossa fonte: “O surto de COVID-19 está aumentando a poluição por plásticos (The COVID-19 outbreak is adding to plastic pollution).”
O site destaca que “um conservacionista contou recentemente 70 máscaras descartadas em um trecho de 100 metros de praia. Uma semana depois, ele descobriu outras 30 máscaras no mesmo lugar. Em outras praias de Hong Kong, a poluição plástica por máscaras faciais atingiu níveis semelhantes.”
China: 200 milhões de máscaras por dia, ou um bilhão por semana!
Para imaginar o tamanho do problema, só em relação às máscaras, basta lembrar que o maior fabricante mundial, a China, tem produzido 200 milhões de máscaras por dia. Um bilhão de máscaras por semana! E esta quantidade absurda está longe de ser suficiente. Não atender às demandas locais, muito menos os pedidos globais.
PUBLICIDADE
É óbvio que não somos contrários à produção de máscaras em meio a pandemia. Apenas aproveitamos a oportunidade para lembrar outro problema que temos, e que não vai acabar como a pandemia. A poluição vai ficar. No caso dos oceanos, para sempre. Até agora não se sabe como retirar as micropartículas que infestam os mares. Quantas destas máscaras terão como destino os oceanos?
No Brasil e América do Sul
Por mais que pesquisássemos, não encontramos matérias na mídia nacional, ou na sul-americana, sobre os problemas que destacamos na Europa, Ásia e Estados Unidos. Por aqui encontramos textos alertando sobre o descarte destes materiais nas vias públicas, e o perigo que representa para a disseminação do vírus. Nada ainda sobre o previsível aumento da poluição marinha. Provavelmente, porque ainda estamos em quarentena.
Mas, a julgar pelo que acontece nas praias na virada do ano, parte das máscaras e outros ítens, a esta altura já devem estar no meio do mar. Das ruas, para os córregos, destes, para os rios e, finalmente, o mar.
Assista ao vídeo e saiba o que está acontecendo na Ásia
Imagem de abertura: BBC
Fontes: https://www.bbc.com/news/world-europe-52807526; https://edition.cnn.com/2020/05/04/world/coronavirus-plastic-waste-pollution-intl/index.html; https://www.sustainability-times.com/environmental-protection/the-covid-19-outbreak-is-adding-to-plastic-pollution/.
Jilmar Tatto, carrasco dos mananciais, indicado pelo PT à prefeitura de São Paulo