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Conheça os projetos de restauração de corais no Brasil

Conheça os projetos de restauração de corais no Brasil

A ONU ressalta a importância dos recifes de corais, que ocupam menos de 0,1% do oceano, mas abrigam mais de 25% da biodiversidade marinha. Esses ecossistemas fornecem serviços essenciais a bilhões de pessoas, incluindo proteção costeira, pesca, medicamentos, recreação e turismo. A NOAA destaca que os corais existem há mais de 400 milhões de anos e evoluíram nos últimos 25 milhões de anos, com mais de 6.000 espécies conhecidas (entre os de águas rasas e quentes, e os de águas profundas e frias). Entretanto, o aquecimento global ameaça os recifes de águas rasas, e já perdemos até 50% deles. Relatórios do IPCC alertam que até 90% dos recifes podem desaparecer até 2050, mesmo com limites no aumento da temperatura de 1,5ºC. Por isso, a ONU incentiva a restauração de corais. Mostraremos projetos bem-sucedidos no Brasil e no mundo.

corais
Imagem, www.kvaroyarctic.com.

Restauração de corais no mundo, breve resumo

A restauração de recifes de coral, diferentemente da recuperação de ecossistemas terrestres, é uma prática relativamente recente. Este breve resumo destaca as principais abordagens e evoluções nesse campo.

A primeira onda de restauração de corais começou no final dos anos 1960, de acordo com o theconversation.com. Nesse período, a degradação dos recifes se tornou mais evidente e frequente, levando ao surgimento de vários projetos de restauração pelo mundo.

Entre 1970 e 1980, com avanços na ciência marinha e legislações de proteção mais fortes, iniciativas como transplantes de corais saudáveis para áreas degradadas e construções artificiais, incluindo naufrágios planejados, ganharam destaque. Durante essa época, também começaram a usar materiais como cimento e oceanite, um mineral mais resistente, para a construção de recifes.

A segunda fase, entre 2000 e 2010, focou em responder a danos causados por ciclones, sobrepesca, espécies invasoras e superlotação turística, especialmente no Caribe, conforme menciona o theconversation.com.

Desde 2016, a terceira onda tem se concentrado no uso de tecnologias avançadas, como a microfragmentação, que acelera o crescimento dos corais ao dividi-los em pedaços menores. Esta fase também enfatiza parcerias entre governos, empresas e comunidades para mitigar ameaças e promover a restauração de recifes.

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As novas tecnologias ajudam na restauração

Atualmente, tecnologias inovadoras desempenham um papel crucial na restauração de recifes de coral. Segundo o inspiringclick.com, algumas dessas tecnologias incluem robótica, inteligência artificial (IA), impressão 3D, fertilização in vitro e monitoramento acústico.

Um exemplo é a Great Barrier Reef Foundations, na Austrália, que utiliza IA e monitoramento acústico na maior barreira de corais do mundo. Essa abordagem analisa e reproduz sons de recifes saudáveis. Os cientistas notaram um aumento de 50% na diversidade de peixes em áreas onde aplicaram esses sons.

A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), entre outras organizações, descobriu os benefícios da impressão 3D nesses esforços de restauração. Contudo, a Unep enfatiza que a restauração de ecossistemas é um trabalho de longo prazo. Os projetos devem ser planejados e financiados como estratégias de longa duração, de pelo menos 10 a 20 anos, e devem ser “inteligentes” para acomodar incertezas e mudanças futuras.

Os corais no Brasil

Antes de mais nada, saiba que uma pesquisa do Instituto de Ciências do Mar (LABOMAR) da Universidade Federal do Ceará e Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar) revelou um fato importante sobre os recifes brasileiros. Os estudos mostraram que eles formam um único e grande ecossistema marinho. Este sistema se estende ao longo da costa sul-americana, da Guiana Francesa até o sudeste do Brasil, com quase 4 mil quilômetros de extensão, tamanho comparável ao da Grande Barreira de Corais da Austrália e da Barreira Mesoamericana no Mar do Caribe.

Mapa publicado no estudo destaca a costa oeste do Oceano Atlântico mostrando os países da América Central e do Sul, grandes ecossistemas marinhos, principais sistemas de recifes e principais correntes oceânicas.

“Interconnected marine habitats form a single continental-scale reef system in South America” (“Habitats marinhos interconectados formam um único sistema de recifes de escala continental na América do Sul”, em tradução livre), é o título do estudo.

Além desta faixa, também existem bancos de corais em ilhas oceânicas como o Atol das Rocas, Fernando de Noronha, Arquipélago de São Pedro e São Paulo e Arquipélago de Trindade e Martim Vaz. Segundo o Coral Vivo, temos 66 espécies de corais sendo que 24 são endêmicos. Para efeito de comparação, a Grande Barreira de Corais da Austrália tem mais de 600 espécies distribuídas em 344.400 km2 formando a maior estrutura viva da Terra.

Restauração de corais no Brasil

Um exemplo de ação de restauração de corais ocorre em Pernambuco, na região de Porto das Galinhas, com o Projeto Coralizar. Idealizado pelo WWF-Brasil e apoiado pelo Instituto Neoenergia, é executado pelo Instituto Nautilus, Biofábrica de Corais, com apoio da Universidade Federal de Pernambuco e da Universidade Federal Rural de Pernambuco.

Lançado em 2019, o projeto já estabeleceu dezenas de berçários em Porto de Galinhas, recuperou mais de 2.500 corais e expandiu suas atividades para Tamandaré, no mesmo estado. O objetivo é desenvolver técnicas de restauração de corais em larga escala e de forma sustentável.

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Até 2021, algumas espécies de corais no litoral de Pernambuco apresentaram mais de 70% de mortalidade ou doenças, impactadas tanto pelo aquecimento global quanto pelo derramamento de óleo entre 2019 e 2020, conforme informa o WWF.

O CEPENE em Tamandaré, PE

O pioneirismo em Pernambuco no que tange à conservação de recifes de coral começou com o CEPENE – Centro de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste, um dos Centros Especializados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.

Esta iniciativa é parte da APA Costa dos Corais, a maior Unidade de Conservação federal marinha do Brasil, criada para proteger os recifes costeiros ao longo de uma faixa de 4.000 quilômetros da costa. Os recifes brasileiros são tão significativos que foram objeto de estudo de Jacques Laborel, colaborador de Cousteau. Atualmente, Mauro Maida, da Universidade Federal de Pernamubuco, lidera o trabalho na região.

Maus tratos aos recifes do Nordeste resultaram na proposta de fechamento total de uma área coralínea de 400 hectares em frente à praia de Tamandaré. O fechamento, proposto pelo projeto, visa um experimento para estudar a capacidade de recuperação dos recifes da Costa dos Corais. Desde 1999, só são  permitidas atividades de pesquisa licenciadas nesse trecho. O trabalho, bem feito e digno, impressionou o Mar Sem Fim.

Por 20 anos, o experimento conta com parcerias público-privadas. Envolvidos atualmente estão a Universidade Federal de Pernambuco, a prefeitura de Tamandaré, o ICMBio, a Fundação S.O.S Mata Atlântica e a Fundação Toyota do Brasil.

Biofábrica de corais

A Biofábrica de Corais, operando no Nordeste, dedica-se ao mapeamento de colônias de corais, especialmente as enfermas. O processo envolve o cultivo dessas espécies e posterior transplantação ao ambiente marinho, visando a restauração da área. Devido à duração e aos altos custos desse processo, a Biofábrica conta com o apoio da Fundação Grupo Boticário, reconhecida como um excelente exemplo de iniciativa privada em favor do meio ambiente. Além disso, a Biofábrica incentiva o público a adotar um coral.

O programa de adoção tem duração de 12 meses, tempo necessário para que o coral fique saudável e pronto para ser transplantado de volta ao ambiente natural. Durante esse período, os doadores recebem a cada três meses uma foto do coral adotado, permitindo acompanhar seu impacto positivo no ecossistema. Após um ano, a Biofábrica informa os doadores sobre o retorno do coral ao seu habitat natural e fornece informações adicionais.

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O projeto é coordenado pelo professor Ranilson de Souza Bezerra, do Departamento de Bioquímica da UFPE e co-criador da startup BioFábrica de Corais. Junto a ele, Maria das Graças Cunha, com graduação em Química Industrial e em Engenharia Química pela UFPE, liderou a pesquisa.

Paraíba, Projeto Coral Eu Cuido

O Projeto Coral Eu Cuido, apoiado pela Fundação Grupo Boticário, representa um modelo de gestão participativa focado na conservação dos recifes da Paraíba. Utilizando tecnologia interativa digital e campanhas de sensibilização, o projeto visa promover um turismo sustentável e fortalecer a conexão da comunidade com a cultura oceânica.

Este projeto é conduzido por uma equipe multidisciplinar composta por professores, pesquisadores e alunos de Graduação e Pós-Graduação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), sob a coordenação da Profa. Dra. Cristiane F. Costa Sassi, do Departamento de Sistemática e Ecologia da UFPB.

As principais ações do grupo incluem a divulgação da biodiversidade e do estado de conservação dos recifes na Paraíba, além da disseminação de práticas conscientes para fomentar o engajamento ambiental em ações de cuidado com o ecossistema marinho. As informações coletadas e analisadas são fornecidas aos gestores ambientais locais, contribuindo na elaboração do plano de manejo da APA Naufrágio Queimado.

Projeto Coral Vivo

O Projeto Coral Vivo, originário do ambiente acadêmico no Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), desempenha um papel significativo na preservação dos recifes de coral. Com o tempo, expandiu suas atuações para outras áreas essenciais para a conservação desses ecossistemas, conforme descrito em seu site.

O projeto se destaca por levar conhecimento sobre a costa e a vida marinha para escolas e universidades, além de promover a conscientização entre líderes comunitários, segmentos da pesca e profissionais de turismo. A ênfase em formação e conteúdo visa mudar hábitos, aproximar realidades e estabelecer objetivos comuns na proteção ambiental.

Além disso, o Coral Vivo mantém um Programa de Extensão Universitária em sua base em Arraial d’Ajuda, Porto Seguro. Em 2018, o projeto iniciou o Monitoramento Ambiental na Costa do Descobrimento, com o patrocínio da Petrobras. Este esforço resultou na publicação de uma série de estudos, contribuindo para uma produção acadêmica notável, que inclui uma extensa lista de artigos publicados.

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O Projeto Coral Vivo também é parte da Rede de Conservação da Biodiversidade Marinha (BIOMAR), atuando ao lado de outros projetos importantes como Albatroz, Baleia Jubarte, Golfinho Rotador e Meros do Brasil, reforçando seu compromisso com a conservação marinha.

Este é apenas o começo

Contudo, este esforço é apenas o inicio. Ainda falta muito esforço, tempo, e investimento para salvarmos nossos corais. Os projetos em andamento são positivos mas têm suas limitações. Além do branqueamento, os corais brasileiros sofrem com a contínua poluição.

Além disso é preciso lembrar que, segundo o Global Tipping Points Report 2023, uma realização de 200 pesquisadores de 26 países e 90 organizações divulgado durante a COP28, “cinco grandes pontos de inflexão já estão em risco de serem cruzados antes do fim da década de 2030”, diz o documento.

Entre os cinco pontos de inflexão  está “a mortalidade dos recifes de corais em águas quentes.” Ou seja, teremos tempo?

Assista à animação de restauração de corais

Mortandade de espécies marinhas na praia do Cassino, RS

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