Como anda a discussão sobre geoengenharia na mídia do exterior?
Hoje vamos comentar um tema que passa desapercebido no Brasil, mas que continua alimentando a pauta da mídia do exterior, apesar de controverso. Quanto mais distantes ficamos da meta do Acordo de Paris, ou seja, um aumento de temperatura de apenas 1,5ºC até o fim deste século, mais se fala no assunto. De acordo com o glossário do IPCC, ‘geoengenharia é um termo que abrange técnicas destinadas a aliviar os efeitos do aquecimento global’. Em outras palavras, são novas tecnologias que reduziriam o aquecimento global refletindo a luz solar para longe da Terra. Desde o início, o assunto dividiu a comunidade científica mundial e continua a fazê-lo até hoje. Ainda assim, em 2023 a ONU entrou na polêmica, quando o PNUMA convocou um painel de especialistas multidisciplinar para realizar uma revisão do estado da pesquisa científica sobre Modificação de Radiação Solar (SRM). O resultado está no livro One Atmosphere.
Acordo global e governança justa
Antes de mais nada, é importante saber que os investigadores que trabalham em geoengenharia frequentemente alertam que as intervenções climáticas não substituem a redução das emissões. Eles também destacam a necessidade de estabelecer um acordo global e uma governança justa sobre como utilizar a tecnologia. Posto isto, vamos aos fatos.
Conheça as duas abordagens mais estudadas
No passado já discutiram a possibilidade de despejar ferro nos oceanos para impulsionar a atividade fotossintética do plâncton. Da mesma forma, investigadores, por iniciativa do Ocean Solutions, examinaram outras técnicas destinadas a aumentar o albedo- capacidade de reflexão da radiação solar de uma determinada superfície – do oceano, cobrindo-o com uma espuma ou dispersão de microbolhas refletindo raios solares.
Atualmente, duas abordagens têm sido as mais estudadas de acordo com a BBC Weather, e ambas buscam refletir a luz solar de volta ao espaço. A primeira envolve o clareamento de nuvens sobre os oceanos, onde navios injetariam pequenas gotículas de água do mar nas nuvens. A segunda prevê a injeção de aerossóis na estratosfera, utilizando aviões de alta altitude, balões ou dirigíveis para pulverizar as partículas. Já uma terceira abordagem, que está em produção, embora ainda em escala mínima, é a captura direta de carbono do ar, com instalações operando na Europa, EUA e Canadá. Comentamos sobre essa técnica no post A maior usina para capturar CO2 é instalada na Islândia.
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Declínio do berçário da baleia-franca e alerta aos atuais locais de avistagemMunicípio de São Sebastião e o crescimento desordenadoFrota de pesca de atum gera escândalo e derruba economia de MoçambiqueRuanda, líder global na redução da poluição plásticaDe acordo com a Time Magazine, o foco na geoengenharia tem intensificado as divergências entre cientistas do clima, criando possivelmente a divisão mais significativa no campo da ciência e dos estudos climáticos dos últimos anos.
De um lado, alguns afirmam que a humanidade corre o risco de se condenar se não explorar os potenciais métodos químicos para resfriar a atmosfera. Do outro lado, há quem defenda que realizar essa pesquisa pode desencadear consequências desastrosas, além do que podemos imaginar.
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Mas, apesar da controvérsia mundial, cada vez mais pessoas comentam o assunto. A BBC Weather mostrou que em todo o mundo ‘houve o dobro de menções à geoengenharia este ano na rede X, do que nos últimos seis meses de 2023’.
Tudo começou com a erupção de um vulcão
Estudos mais aprofundados sobre a ideia de refletir a luz solar de volta ao espaço ganharam força após a erupção do Monte Pinatubo nas Filipinas, em 1991, que resfriou a temperatura média global em 0,5ºC nos dois anos seguintes. Durante erupções vulcânicas, grandes quantidades de cinzas e aerossóis, que são partículas minúsculas, sobem para a alta atmosfera e podem refletir a radiação solar de volta ao espaço.
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Conheça o novo navio de carga híbridoBrasil pega fogo, espanta o mundo, e Lula confessa: ‘não estamos preparados’O que aconteceria com o clima se parássemos todas as emissões?Entretanto, a BBC argumenta que cerca de 15 milhões de toneladas de dióxido de enxofre injetadas na estratosfera provocaram o meio grau de resfriamento global. Como os aerossóis de sulfato permanecem na atmosfera por apenas alguns anos, enquanto o dióxido de carbono pode durar décadas, considera-se a injeção de aerossóis estratosféricos apenas um método de curto prazo.
E por que pulverização na estratosfera? Quem responde é uma das empresas que atuam neste mercado bilionário, a Geoengineering Global: Porque é uma camada da atmosfera terrestre que se situa entre 7 e 31 milhas acima do solo, entre a troposfera e a mesosfera.
Segundo a Geoengineering Global, a estratosfera é um alvo ideal para a geoengenharia porque está relativamente isolada das populações humanas, é acessível por aviões (e outros métodos de transporte/entrega) e não tem condições climáticas como a chuva, que faria com que as partículas de aerossol caíssem rapidamente no solo.
Entretanto, a empresa reconhece o perigo da ação. ‘Infelizmente, existem perigos associados à injeção de aerossol estratosférico. Esta abordagem pode reduzir as chuvas em algumas áreas do mundo. A perda de culturas e o acesso à água doce, devido à redução da precipitação, podem levar à fome e ao sofrimento’.
O trabalho com as nuvens
Antes de comentar o processo nas nuvens, seria oportuno o leitor conhecer as suas funções. O estudo da USP ‘Nuvens: formação, tipo, importância e fenômenos associados’, revela que as nuvens cobrem 60% da superfície da Terra. Elas ainda refletem, absorvem e transmitem a radiação ou luz solar, participam do ciclo da água, e classificam-se com base em dois critérios: aparência e altitude.
O estudo da USP demonstra ainda que as nuvens, as massas de gelo e neve e a própria superfície terrestre já são razoáveis refletores, reenviando para o espaço entre 30 e 40% da radiação recebida. Mas elas também aprisionam o calor radiante da Terra, causando o aquecimento.
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Aumento artificial da capacidade reflexiva das nuvens
O físico britânico John Latham propôs originalmente o clareamento, ou brilho, da nuvem em 1990 como uma maneira de controlar o aquecimento global, alterando o balanço energético da Terra.
Hoje os pesquisadores seguem esta trilha e buscam aumentar artificialmente a capacidade das nuvens de refletir a luz solar. As nuvens são formadas por inúmeras partículas e gotículas, e quanto menores e mais numerosas forem, maior será sua capacidade de refletir os raios do sol de volta ao espaço.
De acordo com o New York Times, em comparação com outras opções, como a injeção de aerossóis na estratosfera, o clareamento de nuvens marinhas seria uma solução localizada e utilizaria aerossóis de sal marinho, que são relativamente benignos, em vez de outros produtos químicos.
Mas o jornal também ouviu David Santillo, cientista sênior do Greenpeace Internacional. Se o brilho das nuvens marinhas fosse usado em uma escala que pudesse esfriar o planeta, as consequências seriam difíceis de prever, ou mesmo de medir, disse ele.
“Você poderia muito bem estar mudando os padrões climáticos, não apenas sobre o mar, mas também sobre a terra. Esta é uma visão assustadora do futuro que devemos evitar a todo custo.”
Apesar destas opiniões, a tecnologia também está em testes na Austrália, numa tentativa de salvar a Grande Barreira de Corais que sofre um maciço processo de branqueamento.
Assista ao vídeo dos testes feitos na Austrália em 2021
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Tamanho do mercado e financiamentos
É bom saber que, mesmo com toda a controvérsia, o tamanho do mercado global de geoengenharia atingiu US$ 11 bilhões em 2018. Em 2022 houve crescimento de 15,5%, portanto, o valor global girou em torno de US$ 23,9 bilhões em 2023, segundo dados do Future Market Insights.
O New York Times revelou que no início deste ano houve o primeiro teste da tecnologia projetada para clarear nuvens ao ar livre nos Estados Unidos.
O jornal informou ainda que universidades, fundações, investidores privados e o governo federal começaram a financiar uma variedade de esforços, desde sugar dióxido de carbono da atmosfera até a adição de ferro ao oceano, em um esforço para armazenar dióxido de carbono no fundo do mar. Em 2020, o Congresso instruiu a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica a estudar a modificação da radiação solar. Em 2021, as Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina publicaram um relatório dizendo que os Estados Unidos deveriam “cautelosamente buscar” pesquisas sobre a ideia.
Os potenciais efeitos colaterais
A BBC cita o professor Jim Haywood, cientista atmosférico da Universidade de Exeter, que pede cautela. “Eu realmente quero saber sobre os potenciais efeitos colaterais e impactos prejudiciais de qualquer implantação de gerenciamento de radiação solar”, disse ele.
Ao mesmo tempo, Pascal Lamy, ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, e atual presidente da Comissão de Superação Climática, publicou artigo no Financial Times no qual diz que ‘nosso fracasso coletivo em limitar o aquecimento global a 1,5ºC nos deixa com pouca escolha além de explorar e avaliar a modificação da radiação solar cuidadosamente, se ela for capaz de trazer algum benefício, e se pudermos realisticamente moderar todos os seus riscos.
Finalmente, em 2022, centenas de cientistas assinaram uma carta aberta pedindo um acordo global de não uso sobre gerenciamento da luz solar, informou a BBC Weather.
A caixa de Pandora está aberta…
Estas são algumas das informações mais debatidas por ícones do jornalismo internacional, e todas as matérias foram publicadas este ano.
Para saber mais, assista à animação vista por 10 milhões de pessoas, cujo título é: Geoengenharia: Uma Alternativa Horrível, Mas Talvez Necessária