Chuva provoca caos em Balneário Camboriú, SC
A partir das 11 horas da manhã de 16 de janeiro as redes sociais se inundaram de posts sobre o caos em Balneário Camboriú causado pelas fortes chuvas. Itajaí e Navegantes, no litoral norte do Estado, também enfrentaram situações críticas. Florianópolis também ficou debaixo d’água, ruas tornaram-se intransitáveis, e pessoas subiram em carros para escaparem da enxurrada. Vídeos registraram a praia Central, de Balneário Camboriú, transformada em um rio sobre a larga faixa de areia, com correnteza intensa. Na estrada, próximo ao Morro do Boi, enxurradas emergiam do subsolo e jorravam pela BR. Em Governador Celso Ramos, parte do quartel dos bombeiros veio abaixo, agravando ainda mais a situação.

Estado de emergência
Na manhã de 16 de janeiro a prefeita de balneário Camboriú, Juliana Pavan, decretou estado de emergência no município devido às chuvas. A prefeitura distribui nota garantindo a mobilização da Defesa Civil e convocando voluntários.
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As autoridades interditaram as principais avenidas da cidade, enquanto todos os bairros enfrentaram pontos de alagamento. Elas orientam a população a evitar deslocamentos desnecessários e a acompanhar as recomendações dos órgãos de segurança.
Segundo o portal AZ, as chuvas também afetaram a BR-101, principal rodovia da região. Entre Itajaí e Balneário Camboriú, o acúmulo de água na pista provocou interdições e complicações no trânsito. No Morro do Boi, motoristas identificaram pontos de escoamento que inundaram a pista, e as autoridades fecharam temporariamente o túnel de ligação com o litoral sul.
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Às 16:51 o INMET publicou o aviso de Alerta Vermelho para várias regiões de Santa Catarina, informando ‘sobre grande perigo do acumulado da chuva’.
E o engordamento da praia Central?
A polêmica e custosa decisão de realizar a engorda da praia sempre gerou controvérsias. Em 2002, a primeira tentativa enfrentou severas críticas de especialistas, que publicaram um estudo na revista científica em 2006 alertando sobre os graves impactos ambientais. Mesmo assim, o custo dessa primeira engorda alcançou R$ 66 milhões.
Com o título, Environmental Impacts of the Nourishment of Balneário Camboriú Beach, SC, Brazil (Impactos Ambientais da Alimentação da Praia de Balneário Camboriú, SC, Brasil), e assinado por quatro especialistas: Paulo Ricardo Pezzulo, Charrida Resgalla, José G. N. Abreu, e João Thadeu Menezes, todos da Universidade do Vale do Itajaí, o estudo é também um alerta: ‘Esperamos que protocolos específicos de proteção ambiental sejam considerados antes do início de um novo programa de restauração, a fim de minimizar seus impactos negativos sobre o ecossistema local’.
Esta forte ressaca foi o primeiro evento extremo a atingir a praia Central depois de engordada. E as cicatrizes que ficaram alertam para os problemas que podem acontecer depois do aterramento de praias que tornou-se panacéia no Brasil.
Assista ao vídeo que mostra ‘um rio na praia Central’
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BC É UM FENÔMENO 😂😂😂😂
imprensa catarinense: Balneário Camboriú, a dubai brasileiraa verdadeira balneário camboriú, sem saneamento, praia cheia de coco… tanto dinheiro move a cidade, mas não tem infraestrutura decente.pic.twitter.com/wEF6hFUkZ8
— ᶜᵒᵐᵉⁿᵗᵃʳⁱˢᵗᵃ ᵇᵇᵇ ᵉ ᵘˢᵘᵃʳⁱᵒ ᵈᵉ ˢᵃˡᵒⁿᵖᵃˢ🛸 (@oclaudioroberto) January 16, 2025
Paulo Horta da Universidade Federal de Santa Catarina
O Mar Sem Fim conversou com o professor Paulo Horta, coordenador do Laboratório de Ficologia, ciência que estuda algas, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Vejamos o que ele disse:
Os impactos da obra
Para o professor Paulo Horta “o processo de alargamento tem impactos potenciais, locais, regionais e também globais.”
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Mortandade da fauna
“Localmente, seja a mortalidade de fauna por soterramento, no caso dos animais, e das plantas marinhas, por falta de luz. Estas são as consequências da primeira onda de impactos.”
Contaminação por metais pesados e hidrocarbonetos
“Em escala regional, o processo de dragagem redisponibiliza substâncias químicas diversas, entre elas contaminantes. Entre eles, metais pesados e hidrocarbonetos que são tóxicos e podem bioacumular na teia trófica.”
“A presença de nutrientes no sedimento revolvido serão redisponibilizados, potencializando a ocorrência de florações.”
“Estes impactos podem ser observados em curto e médio prazo. No contexto da somatória de impactos de uma região costeira já comprometida cronicamente por um escoamento superficial contaminado, principalmente por nossa frota de transporte, saneamento precário e uma agricultura intensiva de arroz, um dos principais focos da região.”
Destruição da paisagem
A destruição da paisagem não foi mencionada pelo professor, mas é lembrada por este site. O que fizeram com a praia Central é um desastre em escala épica, dada a quantidade de gente que comprou os apartamentos mais caros do País, ou os que os alugam, demonstrando que para estas pessoas tanto faz a paisagem.
Nossas Constituições, desde a de 1934 até a de 1988, tratam a proteção da paisagem como um princípio fundamental. Com uma fiscalização efetiva, a muralha de prédios não deveria estar onde está, em conformidade com a Lei Maior.
E para não nos acusarem de bairrismo, lembramos que no litoral brasileiro, um dos mais belos do mundo, a desfiguração da paisagem aconteceu no passado e segue no presente. Guarujá, ex-pérola do Atlântico, foi uma das belezas que destruímos com a ocupação insustentável iniciada ali pelos anos 50 do século passado.
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Que ao menos mais esta tragédia nos ajude a repensar o modelo de ocupação, insustentável, que estamos imponto à zona costeira brasileira.
O vídeo mostra a praia Central semidestruída
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