China potência marítima, muito antes dos portugueses se lançarem ao mar
Um dos objetivos deste site é disseminar a cultura náutica tão relegada entre nós, a ponto de se dizer que “os brasileiros deram as costas ao mar” e, em consequência, aos problemas a ele ligados. China potência marítima do século 15.
História da navegação
Disseminar não só as questões ecológicas relacionadas aos mares mas procurar, na medida do possível, chamar a atenção para a riquíssima história náutica mundial da qual somos filhos.
Este é mais um dos objetivos do Mar Sem Fim. Afinal, nossos antepassados portugueses escreveram uma das mais lindas e trágicas sagas marítimas da história da humanidade. No Brasil, nem por isso as escolas, ou faculdades, dedicam ao tema o espaço que merece.
China potência marítima do século XV
Parece ser de conhecimento comum na maioria dos círculos históricos agora que os chineses começaram uma campanha, no final dos anos 1300, para construir uma grande frota e tentar exercer sua hegemonia sobre as nações do sudeste da Ásia.
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No período de 1405 até 1433, navegou sete vezes para o Sudeste Asiático e Oceano Índico. Sua frota era a maior do mundo na época.
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Consistia em mais de 200 navios e cerca de 27.800 marinheiros e soldados. Os chineses a chamavam de ‘navios do tesouro’.
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De acordo com o site muslimheritage.com, “os navios usados em todo o Oceano Índico, os juncos, refaziam algumas das mesmas rotas tomadas por Ibn Battuta (chamado de o viajante do islamismo e o maior viajante dos tempos pré-modernos. -site wol.jw.org. Com eles navegou para a África Oriental, Meca, Golfo Pérsico. Estes navios têm mais de 300 pés de comprimento e 150 pés de largura, sendo o maior de 440 metros de comprimento e 186 de largura. A maioria foi construída no estaleiro Dragon Bay, perto de Nanjing, cujos vestígios ainda podem ser vistos.”
O tamanho descrito não é consenso
O tamanho descrito, porém, não é consenso na academia. Segundo a Wikipedia “as dimensões são muito debatidas. De acordo com o cientista britânico, historiador e sinólogo Joseph Needham, o tamanho do maior desses navios era de 137 m (450 pés) por 55 m (180 pés), o que os tornariam pelo menos duas vezes maiores que os maiores navios europeus no final do século XVI.”
Entretanto, prossegue o site, “em 1962, um grande leme foi desenterrado no depósito do tesouro em Nanjing. Como tem 11 metros de comprimento, considerou-se que tais dimensões correspondem a navios de 600 pés de comprimento.”
Ibn Battuta no porto de Calicute descreve a frota
Em uma de suas viagens Ibn Battuta chegou ao porto de Calicute onde viu grandes navios mercantes. Os juncos faziam a rota que ele pretendia usar para a China. “Os navios tinham até 12 velas, todas feitas de bambu entrelaçado.
A tripulação era de no máximo mil pessoas: 600 marinheiros e 400 guerreiros. As famílias dos marinheiros viviam a bordo do navio, onde “[cultivavam] verduras, legumes e gengibre em tanques de madeira”, disse Ibn Battuta.
Descrição de Marco Polo
Outro famoso viajante de então, Marco Polo, também descreveu os juncos: “Eu lhes digo que são na maior parte construídos da madeira que é chamada abeto ou pinho… têm um andar, que a gente chama de convés.
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Neste convés há geralmente 60 quartos ou cabanas, e em alguns, mais, e em alguns, menos…E quatro mastros com velas, e eles freqüentemente acrescentam dois mastros, que são levantados e guardados toda vez que desejam, com duas velas, de acordo com o estado do tempo.”
Outras fontes falam em “quatro pavimentos, ou conveses. Os navios podiam acomodar entre 500 a mais de 1.500 passageiros.”
Sobre uma das maiores novidades à época, os compartimentos estanques inventados pelos chineses: “Alguns navios, têm além de 13 porões, isto é, divisões, no interior, feitas com pranchas fortes encaixadas, de modo que, se por acaso o navio bater em em uma pedra, faz com que a água entre… E então a água que entra pelo buraco corre até o porão, que nunca fica totalmente inundado.”
China potência marítima do século XV e suas invenções
Não bastassem os fabulosos compartimentos estanques, usados até hoje. (Wikipedia): “a quilha dos juncos consistia em vigas de madeira amarradas com aros de ferro. Os navios também usavam âncoras flutuantes nas laterais para aumentar a estabilidade. A fabricação de papel, bússola, pólvora, impressão e porcelana, são apenas algumas das invenções chinesas.
Cascos duplos divididos em compartimentos estanques
Um avanço importante na construção naval usado desde o segundo século na China foi a construção de cascos duplos divididos em compartimentos estanques separados. Os navios também traziam um método de transporte de água para passageiros e animais, bem como tanques para manter as capturas de peixe frescos.
Crucial para a navegação foi outra invenção chinesa do primeiro século, o leme da popa, preso à parte traseira de um navio que podia ser elevado e baixado de acordo com a profundidade da água, e usado para navegar perto da costa, em portos lotados e canais estreitos e rasos. Ambas as invenções eram comuns na China mil anos antes de sua introdução na Europa.
A primeira frota de Zheng He
A partir do início do século 15, ele viajou para o Ocidente sete vezes. Por 28 anos, viajou mais de 50.000 km, visitando mais de 37 países. Zheng He morreu no décimo ano do reinado do imperador Ming Xuande (1433) e foi enterrado na periferia sul de Bull’s Head Hill (Niushou) em Nanjing.
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Muslimheritage.com: “a primeira frota de Zheng He incluiu 27.870 homens em 317 navios, incluindo marinheiros, balconistas, intérpretes, soldados, artesãos, médicos e meteorologistas. A bordo estavam grandes quantidades de carga, incluindo artigos de seda, porcelana, ouro e prataria, utensílios de cobre, utensílios de ferro e artigos de algodão. A frota navegou ao longo da costa da China até Champa, perto do Vietnã, e depois de cruzar o Mar da China Meridional, visitou Java, Sumatra e chegou ao Sri Lanka passando pelo Estreito de Malaca. No caminho de volta, ele navegou ao longo da costa oeste da Índia e voltou para casa em 1407.”
“A frota formada por juncos gigantes, era escoltada por dezenas de navios de abastecimento, navios que carregavam tanques de água, de transportes para cavalaria e barcos de patrulha.“
“1421 – O Ano Em que a China Descobriu o Mundo”
A China potência marítima não era um fato conhecido do leigo até o submarinista inglês, Gavin Menzies, publicar o livro cujo título reproduzimos acima (década de 2000). De cara tornou-se um best-seller. Ocorre que o autor foi além dos fatos comprovados, insistindo que os chineses descobriram a maior parte do mundo. Menzies afirma que foram eles que descobriram a Antártica, a América do Norte, Austrália, América Central, do Sul (Brasil incluso) e até o polo norte.
Tese fortemente combatida
Mas, esta tese, é fortemente combatida pela vasta maioria dos historiadores mais renomados. Os chineses poderiam ter feitos estas descobertas? Com exceção dos polos, sim, pelo que se já provou de suas fantásticas embarcações.
Entre muitas outras, eles de fato tinham barcos grandes o suficiente para manterem pequenas plantações de ervas, frutas e plantas comestíveis, a ponto de seus marinheiros jamais enfrentarem o pesadelo dos nautas portugueses, e outros da mesma época, o escorbuto.
Mas, daí a terem descoberto todo o mundo, depende da imaginação do autor. Para historiadores como Eric Hobsbawm, e todos os outros do mesmo calibre, eles jamais ultrapassaram o Cabo da Boa Esperança.
E por que pararam no Cabo da Boa Esperança?
Bem, para isso é preciso conhecer mais a fundo a história da China e suas várias dinastias. Uma breve explicação do site khanacademy.org:
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“No início da dinastia Ming (1368–1644), a China era líder mundial no uso de armas baseadas em pólvora, construção naval e navegação, e na produção de porcelana e vários outros materiais que exigiam conhecimento tecnológico. Muitos desses desenvolvimentos não continuaram ao longo da era Ming.
O confucionismo
O confucionismo não encorajou o comércio, e isso – combinado com uma forte crença na superioridade de sua própria cultura – levou os imperadores Ming a fechar as portas do país para ideias e pessoas estrangeiras, limitando o acesso a algumas cidades portuárias no sul.
Após o reinado do imperador Yongle (1403–1424), houve pouca exploração geográfica. A investigação científica também se atrasou, e no final da dinastia a China estava importando armas da Europa, onde a construção naval e as habilidades de navegação haviam se tornado mais avançadas.”
Pararam porque assim decidiram
Resumindo, pararam porque assim decidiram. Não por falta de barcos capazes de tais feitos. A China quase sempre se considerou o centro do mundo, e os povos não chineses eram por eles tratados como ‘bárbaros’. As viagens de Zheng He aconteceram num único momento de abertura; tinham como objetivo não apenas a exploração, mas conquistar a vassalagem dos ‘bárbaros’.
Feito isso, houve mudanças políticas importantes naquele país, ao mesmo tempo em que começou a ameaça mongol. Por isso, ao invés de continuarem navegando, preferiram defender o norte do país (contra a ameaça mongol), ‘fechando-se em sua própria concha’.
Documentário When China Ruled the World
Encontramos na net o documentário cujo título reproduzimos acima. É um dos melhores e mais completos sobre este desconhecido período da história chinesa. Vale a pena assistir.
Ilustração de abertura: Frota do Tesouro Ming Chegando ao Porto de Mogadíscio, na Costa Suaíli (www.behance.net/).
Fontes: https://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/102011285; http://www.pbs.org/wgbh/nova/ancient/ancient-chinese-explorers.html; https://journals.lib.unb.ca/index.php/ihr/article/viewFile/23380/27155; https://en.wikipedia.org/wiki/Chinese_treasure_ship; https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_Chinese_inventions; https://www.khanacademy.org/humanities/art-asia/imperial-china/ming-dynasty/a/technology-during-the-ming-dynasty-13681644; http://www.conservadorismodobrasil.com.br/2017/05/grandes-navegacoes-chinesas.html.