Canoa Luzitânia é retirada do local do alagamento, restauro permanece em suspense
Lampião e seus cabras navegaram na canoa Luzitânia nos anos 30, quando da fase sedentária do cangaceiro estabelecido no Baixo São Francisco. Em seguida veio uma série de proprietários, e a canoa foi engajada no transporte de carga geral como queijo, leite, querosene e gasolina, entre o sertão e a região de Penedo. Sobre a Luzitânia, disse Dalmo Vieira Filho, um dos maiores conhecedores das embarcações típicas brasileiras…
Dicionário de soluções técnicas
“Ela é um dicionário de soluções técnicas, de maneiras de construir barcos, e de navegar sobre um rio como o São Francisco. É de um valor inestimável.” E concluiu o especialista: ‘A perda de um bem cultural deste valor não pode se dar por mero capricho burocrático’, enfatizou. E concluiu: ‘Seria demais’. Seria, mas não foi graças à Justiça, e não por vontade própria do IPHAN, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que a tombou anos atrás quando o órgão ainda funcionava.
A luta para salvar a Luzitânia
Devemos o feito a Carlos Eduardo Ribeiro, o mesmo que a encontrou abandonada em 1999, e dedicou sua vida, desde então, a mantê-la em atividade. Por quê? Simplesmente porque é a mais bela e rica canoa do País, e a derradeira canoa de tolda do País. Uma relíquia naval.
Como apregoa o site do projeto, ‘A manutenção da canoa de tolda Luzitânia ativa, além de preservar elemento afetivo da população das margens, também contribui para a preservação da cultura e história do Baixo São Francisco, com suas ramificações aos trechos médio e submédio do rio’.
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A Chesf – Companhia Hidrelétrica do São Francisco – aumentou a vazão São Francisco no momento em que a canoa estava aberta para reparos. Ela não aguentou e foi alagada. Tombou, e ficou assim desde então, encostada sobre um dos costados nas margens do rio. Desde que foi alagada, Carlos Eduardo luta para conseguir tirá-la d’água e repará-la. Mas não encontrou respaldo na atual gestão do IPHAN.
Depois de muito pedir e não receber resposta, Carlos acionou a Justiça e conseguiu finalmente o respaldo que pretendia. Em 31 de janeiro, a Justiça condenou o IPHAN, em decisão liminar, a arcar com os custos para retirar a Luzitânia da situação em que se encontra mas, incrivelmente o órgão que a tombou, recorreu da decisão.
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“Com o desaparecimento da Luzitânia a gente sente uma espécie de amputação cultural.”
Foram estas as palavras do navegador Amyr Klink, ao saber do destino da Luzitânia, alagada e sem apoio do órgão que reconheceu seu valor anos atrás.
A decisão da Justiça
Por decisão do Juiz Edmilson da Silva Pimenta, em Ação Civil Pública ajuizada pela Sociedade Socioambiental do Baixo São Francisco, Canoa de Tolda, tendo como réu o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN, o órgão foi condenado a:
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ONG Canoa de Tolda aciona IPHAN e lança campanhaCanoa de tolda Luzitânia, preciosidade naval em perigoEmbarcações típicas e o turismo, algumas boas ideias“Efetuar em caráter de urgência, até o dia 31/01 através de pessoal qualificado e medidas seguras, a remoção da Canoa de Tolda Luzitânia do local em que se encontra para outro seguro (inclusive de saques de terceiros), para que a mesma seja retirada da água e possa permanecer em total segurança para que ocorra processo de secagem até que ocorram as indispensáveis ações de conservação…”
IPHAN resistiu…e ainda resiste. Retirou a canoa mas não garante seu restauro
…e recorreu da decisão. De acordo com o site do projeto, “Na tarde de hoje, 16 de fevereiro, a histórica canoa Luzitânia voltou a flutuar no Mato da Onça, no alto sertão alagoano, sendo removida para a cidade de Traipu, aproximadamente 90 km a jusante, onde será retirada da água e estocada.”
“A partir de decisão da Justiça Federal, o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional contratou empresa que realizou a manobra de resgate e condução da canoa Luzitânia para local onde será retirada da água para as ações de reparo e conservação.”
A Luzitânia se encontrava em navegação rumo a Traipu
E concluiu o site: ‘No momento do fechamento desta matéria a canoa Luzitânia se encontrava em navegação rumo a Traipu, Alagoas, onde tem chegada prevista para a madrugada do dia 17’.
Não estamos otimistas apesar da canoa ter sido retirada das precárias condições em que estava. Aparentemente, nada mais está garantido. A Luzitânia segue para um sítio às margens do rio, e não uma marina, que não tem condições de colocá-la em local seguro ou qualificação para seu restauro.
Sobre o que será dela ainda é um mistério. O recurso do órgão à Justiça garantiu a retirada da canoa, mas não o reparo! Além disso, o IPHAN age sozinho e não deu garantias sobre o restauro. Assim tratam os bens culturais do País nos dias atuais.
Enquanto isso as elites de Alagoas e do Sergipe até o momento sequer se manifestaram como fizeram os especialistas Luiz Phelipe Andrés, Dalmo Vieira Filho, além do navegador Amyr Klink, entre outros. Esta é mais uma prova do descaso com a cultura, e do IPHAN, que se recusa a prestar informações à sociedade que é quem paga a conta.
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Permanecemos perplexos, e na expectativa, sobre o futuro da Luzitânia.
Saiba o que pensam os especialistas sobre o valor da Luzitânia
Imagem de abertura: Edson Goes / Canoa de Tolda.