Baía de Chesapeake, mais uma zona morta no litoral dos Estados Unidos
Assim como o aquecimento global, as zonas mortas no mar são mais uma consequência de nosso modo insustentável de viver. E da mesma forma que o aquecimento está fora de controle, processo idêntico acontece com as zonas mortas, espaços sem oxigênio para que haja vida. Segundo a National Geographic, ‘em 1960 eram apenas 10. Em 2077, o número saltou para 169. Hoje, são cerca de 415’. A maioria das zonas mortas do mundo está localizada ao longo da costa leste dos Estados Unidos e nas costas dos Estados Bálticos, Japão e Península Coreana. Entretanto,uma delas fica no maior estuário dos Estados Unidos, a Baía de Chesapeake, entre os estados da Virgínia e de Maryland.
O estuário de Chesapeake
O problema ganha ainda mais relevo por acontecer no maior estuário dos Estados Unidos. Estas são áreas importantíssimas para a vida marinha, agindo como berçários para várias espécies. Elas se formam pelo encontro das águas de rios, repletas de nutrientes, com a água do mar. Servem ainda, como interface para espécies que passam parte das suas vidas no rio e no mar.
A Baía de Chesapeake sofre com o problema há cerca de 30 anos. Relatório do Chesapeakebay.net informou que ‘em 2021 esta zona morta cobriu uma média de 1,5 milhas cúbicas durante o verão, ligeiramente maior do que a maioria registrada nos últimos 36 anos (67%)’.
Os motivos que levam à formação das zonas mortas são a poluição excessiva de nitrogênio e fósforo de atividades humanas, em outras palavras, excesso de fertilizantes usados na agricultura. Escoamento urbano de áreas desenvolvidas que também levam nutrientes e fertilizantes para a água e, finalmente, a poluição do ar de nossos carros e fábricas.
Desse modo, o excesso de nutrientes provoca uma explosão de algas nocivas, as cianobactérias. Quando elas morrem afundam e são decompostas por outras bactérias – um processo que retira o oxigênio dissolvido da água ao redor. Depois que uma zona morta se forma, outros fatores podem influenciar seu tamanho e duração como o vento, as chuvas, e as temperaturas mais quentes do verão.
Curiosamente, uma das maiores zonas mortas do mundo fica igualmente no litoral dos Estados Unidos, no Golfo do México. Ela foi provocada pela agricultura praticada no vale do Mississipi. Segundo o site da NOAA, ‘em 2017 os cientistas determinaram que a “zona morta” do Golfo do México foi de 8.776 milhas quadradas, uma área do tamanho de Nova Jersey.
Como se pode ver, nem mesmo os países mais ricos estão livres deste problema. Se nos rincões mais pobres as zonas mortas são alimentadas por esgotos não tratados, nos mais ricos a agricultura e rejeitos urbanos provocam o mesmo.
O entorno da Baía
Segundo o www.cbf.org a bacia hidrográfica da baía ‘é lar de cerca de 18 milhões de pessoas, além de 2.600 espécies de plantas e animais.’ Diz ainda que ‘o futuro da agricultura na baía é precário. Estamos perdendo fazendas por causa do desenvolvimento urbano.
‘Financiar totalmente as práticas de redução da poluição agrícola necessárias para restaurar a Baía de Chesapeake injetaria US$ 655 milhões anualmente na economia da região, incluindo US$ 269 milhões por ano em ganhos mais altos para empresas e trabalhadores, de acordo com um relatório divulgado pela Chesapeake Bay Foundation’.
A sorte é que o tamanho desta zona morta é pequeno, 1,5 milhas cúbicas durante o verão; e a baía, enorme. Desse modo, a indústria da pesca ainda é pujante na região. Um relatório da NOAA, de 2016, indicou que a indústria comercial de frutos do mar em Maryland e na Virgínia contribuiu com US$ 1,4 bilhão em vendas, quase US$ 539 milhões em receita e mais de 30.000 empregos para a economia local.
Contudo, mais recentemente a baía passou a sofrer com a invasão de espécies não nativas. O problema cresceu a ponto dos legisladores de Maryland pedirem ao governo federal que declare estado de emergência para a pesca na baía de Chesapeake.
Como se vê, temos que agir rápido. Todos estes problemas em conjunto retroalimentam outro que põe em risco a vida humana: o rápido declínio da biodiversidade. Está mais que na hora dos governos pararem com a retórica, e passarem a agir no combate ao aquecimento.
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