Erosão na costa, processo natural acirrado pelo aquecimento e mau uso, atinge 60% do litoral do Brasil
O litoral não perdoa erros, é de sua índole ser assim. Ali, aquele frágil espaço onde o mar se encontra com a terra, há muitos protagonistas em ação, como as marés, os ventos, as correntes e ressacas e até as chuvas. São forças que atuam 24 horas por dia, umas ‘empurrando’, outras ‘puxando’ o terreno; tudo isso gera a erosão na costa, um processo natural mas acirrado por construções irregulares.
Este fenômeno, do ‘puxa e estica’ também é conhecido na academia como ‘equilíbrio dinâmico‘. Isso explica porque você voltou a uma praia deserta, depois de algum tempo e encontrou uma fisionomia diferente.
Um rio que antes desaguava no meio da praia, agora tinha sua foz na extrema direita, por exemplo. Por isso não basta ocupar o litoral de qualquer jeito. É preciso saber como fazê-lo (sugerimos o podcast com o especialista Dieter Muehe). Com o fenômeno do aquecimento, e o mau uso da terra, a erosão na costa se alastrou e já atinge perigosos 60% do litoral do País.
O levantamento da erosão na costa
Este site vive alertando sobre mais este problema. Os brasileiros (ricos) estão contribuindo para destruir o litoral ao ocuparem-no a seu bel, e egoístico, prazer. Sobre os levantamentos da erosão, o primeiro foi publicado em 2003 quando cerca de 3.000 km do litoral estavam afetados.
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O litoral pode ser medido de formas diferentes. Em linha reta, por exemplo, tem cerca de 7.000 quilômetros. Já, se a medição incluir as reentrâncias, baías, enseadas, pode atingir até 8.500 quilômetros. Na pesquisa, ele foi medido em linha reta isso significa que 4.500 quilômetros de litoral são afetados pela erosão. As regiões mais críticas são a Norte e Nordeste.
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A crítica aos ricos brasileiros
Ela nos parece mais que pertinente e por vários motivos. O primeiro, e mais importante, é que as pessoas ditas ‘ricas’ têm possibilidade de se informarem, e não darem maus exemplos. Esta é a obrigação número um de ricos num país de miseráveis.
Mas, ou não se informam, ou sabem e fingem que não, o fato é que parte deles comprou posses de nativos por preços irrisórios. Depois derrubam os casebres e erguem mansões, clubes, marinas, condomínios, resorts, hotéis, e uma infinidade de outros à beira-mar, em cima da praia.
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Município de São Sebastião e o crescimento desordenadoPresidente do STF intima Flávia Pascoal, prefeita de UbatubaCOP29, no Azerbaijão, ‘cheira à gasolina’Eis aí o egoísmo: para terem ‘vista pro mar’ não titubeiam em destruir a paisagem. Ao ‘barrar’ o movimento natural, praias e dunas deixam de prestar seus serviços de reposição de areia, apressando a erosão.
Sem falar no horror que é a especulação da qual muitos ricos são os agentes preferidos deste crime.
O que existe no local onde hoje a erosão dá as cartas?
Os mais variados ecossistemas. Eis o grande problema que este site não se cansa de lembrar: 90% da cadeia de vida marinha começa exatamente neste frágil local. Cidades, vilas, e ecossistemas importantes como dunas vão para o saco depois que a erosão se instala.
Mostramos o resultado de se ocupar dunas no balneário do Hermenegildo, no sul do País. Portanto, além de afetar profundamente a lindíssima paisagem, um bem comum que pertence a todos os brasileiros, afeta também a já combalida vida marinha. Para o organizador do levantamento, o geógrafo Dieter Mueher,
O que afeta mais é a interferência local na paisagem, a ocupação cada vez maior da faixa costeira
Erosão, por região geográfica
Nas regiões Norte e parte do Nordeste, cerca de 60 a 65% da linha de costa está sob processo erosivo, ao passo que no Sudeste e Sul esse percentual tem cerca de 15%. Norte e Nordeste apresentam percentuais maiores por várias razões, entre elas a menor declividade da praia, e maior amplitude da maré. Seja como for, é bom deixar claro que as zonas costeiras são consideradas, no mundo inteiro, uma das áreas de mais rápidas variações morfológicas naturais do planeta.
O estudo ressalta a necessidade de deixar as praias livres de construções: “A praia deve ter espaço suficiente também na retaguarda, mas é nesta área que comumente construímos prédios, calçadas, muros, diques e estradas, que causam reflexão das ondas e transportam a areia da praia para o fundo marinho.”
Muros ou barreiras de contenção, e erosão na costa
Você já deve ter visto estas intervenções em algumas praias, não? Pois é, quando a erosão começa a se manifestar é comum ver este tipo de barreira que, ao invés de ajudar, prejudica ainda mais. Veja o que dizem os autores do estudo: “as praias não podem mais recuar por falta de estoque disponível de areia na área emersa.
Os muros (seawalls) representam o mais mortal inimigo das praias, impedindo sua migração em direção ao continente e forçando seu desaparecimento.” Outro problema é que em muitos locais já ocorre mineração direta das areias das praias potencializando ainda mais a erosão.”
As grande obras, como portos, e outras, também dão sua contribuição
Entre as grande obras na costa, uma das mais importantes e mais numerosas são os portos. Vejamos o que diz o estudo sobre eles: “Influência humana: Nesta categoria estão enquadradas principalmente as estruturas portuárias.
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Um porto é uma área protegida criada artificialmente pela construção de enrocamentos, às vezes ancorados na linha de costa, ou na forma de quebra-mares construídos costa afora. Estas estruturas interrompem o transporte de sedimentos litorâneos, causando deposição, gerando um déficit sedimentar a sotamar das mesmas, e, consequentemente, erosão da linha de costa.
Objetivo do estudo ora comentado
O objetivo do estudo é subsidiar Estados e municípios costeiros de modo que possam ordenar ocupação do litoral para evitar piorar a situação. É preciso lembrar que a omissão do poder público, pior que a o ‘espertalhão, prejudica milhares de cidadãos que, sem o saberem, estabelecem suas vidas em cidades da costa.
Nosso litoral tem recordes de esquisitices como o destacado no estudo: “Em Pernambuco, com uma zona costeira que representa cerca de 4% do território, vive 43,8% da população.”
“O crescimento demográfico exponencial na Zona Costeira acompanhado pela explosão desordenada das atividades turísticas, precipitaram a sua descaracterização, já irreversível em alguns setores praiais de vários municípios.”
Fonte: https://www.researchgate.net/profile/Eduardo_Bulhoes/publication/328902617_Panorama_da_Erosao_Costeira_no_Brasil_Capitulo_Rio_de_Janeiro/links/5beaa23d4585150b2bb28edf/Panorama-da-Erosao-Costeira-no-Brasil-Capitulo-Rio-de-Janeiro.pdf.