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Última geleira da Venezuela torna-se um campo de gelo

Última geleira da Venezuela torna-se um campo de gelo

Primeiramente, a cidade de Mérida, na Venezuela, era conhecida como a “cidade das neves eternas”. Das suas ruas era possível enxergar a Sierra Nevada de Mérida,  no horizonte, coberta de neve. Contudo, com o passar do tempo a paisagem mudou. A geleira Humboldt, nos Andes, era a última a resistir em território venezuelano. Em 2015, os cientistas estimaram que essa geleira tinha cerca de 0,1 quilômetro quadrado (25 acres). Em 2024, a área de gelo havia encolhido para cerca de um décimo disso. Segundo o site da Nasa, embora não exista um critério de tamanho universalmente aceito para definir uma geleira, os cientistas geralmente concordam que um campo de gelo desse tamanho está estagnado, o que significa que é pequeno demais para descer a encosta sob a pressão de seu próprio peso. Por essa definição, a Venezuela agora não tem mais geleiras (atualizado em julho, 2025).

geleira Humboldt, Venezuela
Imagem da NASA, à esquerda a geleira em 2015, à direita, em 2024.

Primeiro país a perder todas as suas geleiras

A geleira do Pico Humboldt sobreviveu por mais tempo porque a sombra do próprio pico a protegia. Em 1910, cobria quase 1,3 milhas quadradas.

Em 2019, ainda resistia. Havia encolhido para menos de 0,02 milhas quadradas, o tamanho aproximado do estádio de futebol de Mérida. Em 2024, desapareceu por completo. A Venezuela tornou-se o primeiro país a perder todas as geleiras nos tempos modernos.

O país já teve seis geleiras na cordilheira da Sierra Nevada de Mérida, a cerca de 5.000 metros de altitude. Cinco sumiram até 2011. Restava apenas a geleira Humboldt, também chamada de La Corona, próxima à segunda montanha mais alta da Venezuela.

Cientistas esperavam que a geleira durasse ao menos mais uma década. Mas não conseguiram monitorar o local por alguns anos, devido à turbulência política no país.

Agora, dia o jornal The Guardian, avaliações constataram que a geleira derreteu muito mais rápido do que o esperado e encolheu para uma área de menos de 2 hectares. Como resultado, sua classificação foi rebaixada de geleira para campo de gelo.

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Indonésia, México e Eslovênia são os próximos na fila

O Guardian ouviu Maximiliano Herrera, um climatologista e historiador do clima que mantém uma crônica de registros extremos de temperatura online. Para ele, “outros países perderam suas geleiras há várias décadas após o fim da pequena era do gelo, mas a Venezuela é indiscutivelmente o primeiro a perdê-las nos tempos modernos”

O restinho que sobrava de gelo em 2019. Imagem,LUIS DANIEL LLAMBÍ.

De acordo com Herrera, Indonésia, México e Eslovênia são os próximos na fila para se tornarem livres de geleiras, com a ilha de Papua Nova Guiné, na Indonésia, e o México,  tendo experimentado um calor recorde nos últimos meses, o que deve acelerar o recuo das geleiras.

O encolhimento da última geleira

segundo Luis Daniel Llambi, ecologista da Adaptation at Altitude, um programa para adaptação às mudanças climáticas nos Andes, disse que a Venezuela é um espelho do que continuará a acontecer de norte a sul, primeiro na Colômbia e no Equador, depois no Peru e na Bolívia, enquanto as geleiras continuam a recuar dos Andes.

“Este é um histórico extremamente triste para o nosso país, mas também um momento único em nossa história, proporcionando uma oportunidade para [não apenas] comunicar a realidade e o imediatismo dos impactos das mudanças climáticas, mas também para estudar a colonização da vida sob condições extremas e as mudanças que a mudança climática traz para os ecossistemas das montanhas”.

Em uma última tentativa de salvar a geleira, o governo venezuelano instalou um cobertor térmico para evitar o derretimento, mas especialistas dizem que é um exercício de futilidade.

“A perda de La Corona marca a perda de muito mais do que o próprio gelo, também marca a perda dos muitos serviços ecossistêmicos que as geleiras fornecem, de habitats microbianos únicos a ambientes de valor cultural significativo”, disse Caroline Clason, glaciologista e professora assistente da Universidade de Durham.

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