Travessia para micos-leões-dourados, boa nova afinal
O primeiro viaduto vegetado do Brasil acaba de ser inaugurado. Por ser o primeiro, temos que comemorar, mas também lembrar que estamos atrasados. Este tipo de obra é muito comum em países do ‘primeiro mundo’. Países mais ricos, e que levam a questão ambiental mais a sério. Seja como for, a travessia para micos-leões-dourados merece aplauso, e torcida para que a moda pegue.
Travessia para micos-leões-dourados, boa nova afinal
Onde foi construído? Na BR-101, na altura de Silva Jardim, Rio de Janeiro. A obra começou em 2018, e acaba de ser entregue a um custo de R$ 9 milhões. A concessionária que administra a rodovia é a Arteris Fluminense.
Por que foi construído? Porque a estrada corta a Mata Atlântica, habitat deste bicho ameaçado de extinção e endêmico do Rio de Janeiro.
Mico-leão-dourado, conheça sua importância
Não se trata apenas de mais um tipo de primata, mas de um símbolo da luta pela conservação que ganhou o mundo. Segundo o site da WWF, “Originalmente, a espécie era encontrada em todo o litoral fluminense, chegando até o Espírito Santo. Com a intensa ocupação da zona costeira no estado, acompanhada de extração de madeira e atividades agropecuárias, e a consequente destruição da mata atlântica, os micos estão agora confinados a cerca de 20 fragmentos florestais.”
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Características do animal
Segundo o site da ONG, especialista no tema, o pequeno animal ‘chama a atenção em razão de sua cor vibrante, variando de dourado a vermelho-dourado’. Pertence à família Callitrichidae a mesma dos saguis, ‘sua longa cauda e sua agilidade fazem do mico-leão-dourado um dos mais simpáticos animais da nossa fauna’.
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‘Vivem cerca de oito anos, têm hábitos diurnos, e se alimentam de frutos, animais invertebrados e pequenos vertebrados’. Sua alimentação é um dos fatores que o tornam essenciais à integridade da biodiversidade. A WWF diz que ‘ Alguns estudos mostram que o mico-leão-dourado come mais de 60 espécies de plantas e, depois de digeri-las, ajudam a dispersar suas sementes pelo ambiente.’
Portanto, por sua alimentação, este pequeno primata ajuda a reflorestar a maltratada Mata Atlântica. Ao defecar, o animal expele sementes das 60 espécies de que se alimenta, contribuindo para a regeneração da mata.
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Segundo a BBC, a morte por atropelamentos ‘é de longe a principal causa de morte de bichos silvestres no país, superando caça ilegal, desmatamento e poluição’. O Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas, CBEE, informa que ‘são 15 animais mortos por segundo, ou 1,3 milhão por dia e até 475 milhões por ano’.
A população mundial cresce sem parar. Já somos quase oito bilhões de terráqueos e as obras públicas, tão necessárias para a mobilidade mundo afora, cortam ao meio o território de animais. Ou seja, os humanos, aos poucos, passam a ocupar o lugar onde antes havia animais silvestres. É em razão desta proximidade que pandemias como a do novo coronavírus, conhecidas como doenças zoonóticas, passam a infernizar a nossa vida. Seria uma vingança na natureza?
Se você ainda não está convencido, saiba que temos ‘mais de 15,5 mil km de estradas atravessando áreas federais de conservação’, segundo a BBC. A mesma fonte dá outro número, ainda mais impressionante: ‘Diante da perspectiva da fase mais explosiva de construção de estradas na história, com pelo menos 25 milhões de km de novas rodovias no mundo até 2050, especialistas defendem que essas intervenções passem, cada vez mais, por estudos de custo-benefício’.
Travessia para micos-leões-dourados: saiba mais sobre o viaduto vegetado
Trata-se de um viaduto comum, como se pode ver pelas fotos. Acontece que em vez de estrada em cima, este tem mudas de vegetação da Mata Atlântica, de modo a ‘conectar a Reserva Biológica Poço das Antas, um dos principais habitats do Mico-Leão-Dourado, à Área de Proteção Ambiental Rio São João/Mico-Leão-Dourado’.
Não é uma solução mágica, nem os atropelamentos vão cessar imediatamente. Primeiro, as mudas têm que crescer, depois é preciso torcer para que os primatas a escolham na hora de atravessarem de um lado para outro. Isso, às vezes demora um certo tempo até acontecer, mas é, aparentemente, a única solução possível. Por fim, temos que torcer para que a consciência demonstrada pela Arteris Fluminense torne-se uma…pandemia entre as construtoras.
Imagem de abertura: Divulgação/Arteris Fluminense.
Fontes: https://g1.globo.com/rj/regiao-dos-lagos/noticia/2020/08/02/mico-leao-dourado-ganha-1o-viaduto-vegetado-do-brasil-uma-ponte-para-o-futuro-da-especie.ghtml; https://ciclovivo.com.br/arq-urb/urbanismo/viaduto-vegetado-mico-leao-dourado/; https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/especiais/biodiversidade/especie_do_mes/maio_mico_leao_dourado.cfm; https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/10/150924_atropelamentos_fauna_tg