Sibéria, calor de 38º C neste verão é aviso do que pode vir
O mundo comenta perplexo a novidade: Sibéria, calor de 38º C neste verão. E justo ali, num dos lugares mais frios da Terra. Se você colocar no google a expressão ‘heat in Siberia’ (calor na Sibéria) verá pelo menos oito páginas de matérias da mídia inglesa sobre o fenômeno. Se preferir o francês, e colocar ‘chaleur en Sibérie’, terá ao menos cinco páginas à escolha. Seja o Figaro, ou o site meteofrance.fr; ou The Guardian, Newsweek ou e weather.com, o assunto é o mesmo, o recorde de calor na Sibéria.
Sibéria, calor de 38º C neste verão é aviso do que pode vir
O The Guardian destaca que “Em escala global, o calor da Sibéria está ajudando a empurrar o mundo para o ano mais quente já registrado em 2020, apesar de uma queda temporária nas emissões de carbono devido à pandemia de coronavírus. As temperaturas nas regiões polares estão subindo mais rapidamente porque as correntes oceânicas transportam calor para os pólos. Com isso, o gelo e a neve reflexivos estão derretendo.”
Já o francês, Figaro, registrou que “a cidade russa de Verkhoyansk, no leste da Sibéria, registrou um pico de calor de 38°C. O recorde foi assinalado por Pogoda i Klimat, site que coleta dados meteorológicos. Estes ainda precisam ser validados. Mas seria um recorde absoluto para esta cidade de 1300 habitantes, conhecida por suas temperaturas extremas, e onde os invernos estão entre os mais frios do mundo (em 1892, o termômetro caiu para – 67,8°C, outro recorde para uma área habitada.”
O fato não impressiona o jornal francês porque, segundo o Serviço Europeu de Observação da Terra ‘esse registro não seria uma surpresa. Maio de 2020 já foi o mês mais quente do mundo, especialmente na região do Ártico’.
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O aquecimento da Sibéria é produzido pelo ser humano, ou não?
O The Guardian traz a resposta: “Martin Stendel, do Instituto Meteorológico Dinamarquês, disse que as temperaturas anormais de maio observadas na Sibéria provavelmente acontecerão apenas uma vez a cada 100.000 anos sem aquecimento global causado pelo homem.”
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Sem pânico, vamos a mais informações sobre o que acontece nesta parte do globo, nesta época do ano. “Embora o planeta como um todo esteja esquentando, isso não está acontecendo de maneira uniforme. A Sibéria Ocidental se destaca como uma região que mostra mais uma tendência de aquecimento com maiores variações de temperatura. Portanto, até certo ponto, grandes anomalias de temperatura não são inesperadas. O que é incomum é por quanto tempo as anomalias mais quentes que a média persistiram.”
Quem deu a declaração acima ao Guardian foi Freja Vamborg, cientista sênior da Copernicus Climate Change Service. Temos que comemorar o “grandes anomalias de temperatura não são inesperadas.” Mas devemos nos preocupar com “o que é incomum é por quanto tempo as anomalias mais quentes que a média persistiram.”
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Tundra do Ártico emite mais carbono do que absorveVanuatu leva falha global em emissões à HaiaO plâncton ‘não sobreviverá às mudanças do clima’O Guardian foi além: “Robert Rohde, o principal cientista do projeto Berkeley Earth, disse que a Rússia como um todo experimentou altas temperaturas recorde em 2020, com a média de janeiro a maio de 5,3°C acima da média de 1951-1980. “[Este é] um novo recorde de 1,9C em massa”, disse ele.”
As conclusões dos dois jornais
Figaro
Os fatores naturais que conspiram para acirrar o aquecimento provocado pelo ser humano para o Figaro são ‘o derretimento do gelo, que deixa o solo seco, é propício para incêndios florestais. E se o fenômeno não é anormal na região, aumenta ao longo dos anos, tornando-se também cada vez mais precoce‘.
‘Nossos dados de monitoramento de incêndio para o Círculo Polar Ártico mostram que o poder radiante diário dos incêndios (que indica a intensidade dos incêndios ativos) de junho até agora tem sido muito semelhante ao que observamos em mesmo período de 2019. Foi o que indicou Mark Parrington, do serviço de monitoramento de atmosfera Copernicus, no ECMWF’.
Mas, ‘amplificados pelas mudanças climáticas, esses incêndios acentuam seus efeitos’. E o cientista arrematou: ‘O depósito de fuligem ou carbono preto no gelo do mar no Oceano Ártico afeta o albedo e pode acelerar o aquecimento. Alguns incêndios também queimam em turfeiras, liberando irreversivelmente o carbono armazenado lá por dezenas de milhares de anos’.
O mesmo fenômeno, maiores emissões em razão de desmatamento, é observado no Brasil.
The Guardian
O jornal inglês lembrou recente declaração de Putin sobre o Ártico. ‘Em dezembro, o presidente da Rússia Vladimir Putin comentou sobre o calor incomum: “Algumas de nossas cidades foram construídas ao norte do Círculo Polar Ártico, no permafrost. Se começar a derreter, você pode imaginar quais consequências isso teria. É muito sério.”
Acidente ecológico
O Guardian recordou o acidente ecológico com dutos e tanques de petróleo armazenados na região, que vazaram poluindo o meio ambiente.”O degelo do permafrost foi o culpado, pelo menos em parte, pelo vazamento de diesel na Sibéria este mês, que levou Putin a declarar estado de emergência. Os suportes do tanque de armazenamento afundaram subitamente, de acordo com seus operadores.”
Mas, segundo a mesma fonte, ‘grupos verdes disseram que a infraestrutura envelhecida e mal mantida também é a culpada’.
E comentou os incêndios: “Incêndios florestais atingiram centenas de milhares de hectares das florestas da Sibéria. Os agricultores costumam acender incêndios na primavera para limpar a vegetação. Uma combinação de altas temperaturas e ventos fortes causou alguns incêndios fora de controle.”
Opinião de especialista
O site weather.com, que frisa que sua missão é ‘informar sobre as últimas notícias do tempo, o meio ambiente e a importância da ciência para nossas vidas’ escreveu sobre o fenômeno: “O bloqueio expansivo de alta pressão sobre a Sibéria foi responsável por essa última onda de calor, que está em vigor desde 12 de junho. Essa alta de bloqueio não permitiu que o ar mais frio chegasse ao sul da costa ártica da Rússia. E esta continua uma tendência até agora em 2020.”
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Parece que houve duas coisas: a meteorologia, com sua ‘alta de bloqueio que não permitiu o ar frio chegar’; acirrada pelo aquecimento global, provocado pelo ser humano.
O site não deixa dúvidas: ‘Ainda mais preocupante é que essas temperaturas parecem estar ocorrendo décadas à frente das projeções de mudanças climáticas, de acordo com o especialista em clima Jeff Berardelli.
Imagem de abertura: https://www.severe-weather.eu/
Fontes:https://www.lefigaro.fr/sciences/un-record-absolu-de-chaleur-battu-en-siberie-20200622; https://www.theguardian.com/environment/2020/jun/17/climate-crisis-alarm-at-record-breaking-heatwave-in-siberia; https://weather.com/news/climate/news/2020-06-21-siberia-russia-100-degrees-heat-record-arctic; https://weather.com/news/climate/news/2020-06-21-siberia-russia-100-degrees-heat-record-arctic.
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