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Ricardo Salles e reunião nos USA sobre aquecimento

Ricardo Salles e reunião nos USA sobre aquecimento

Enquanto muitos pediam sua cabeça e faziam apostas ele escapou da reforma ministerial. Por um fio, mas escapou. Agora, em 2 de abril em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o ‘ministro’ disse ter um plano para combater o desmatamento na Amazônia. Em entrevista à Giovana Girardi, em São Paulo, e sem máscara como assinalou a jornalista, o negacionista do aquecimento global disse que pode reduzir o desmatamento em até 40% em 12 meses. Mas ‘desde que receba US$ 1 bilhão de países estrangeiros’. Segundo Giovana Girardi, ‘sem verba, o ministro não se compromete com percentuais’. Vamos nos lembrar que nos dois primeiros anos de governo o desmatamento ilegal correu livre, leve e solto nos biomas nacionais depois da repressão ter sido suspensa ou dificultada pelo próprio governo. Post de opinião, Ricardo Salles e reunião nos USA sobre aquecimento .

Imagem de Ricardo Salles
Imagem, FELIPE RAU/ESTADÃO.

Ricardo Salles e reunião nos USA sobre aquecimento

O ‘ministro’ se prepara para a reunião com 40 líderes internacionais convocada por Joe Biden para 22 de abril. Biden quer uma reunião preparatória  para a cúpula do clima da ONU prevista para novembro em Glasgow, Escócia, a COP 26.

Como não poderia deixar de ser, convidou Bolsonaro. Mas ao contrário do ‘mito’ e seu ‘ministro’, Biden sabe que o maior problema da humanidade hoje é o aquecimento e a rápida perda de biodiversidade do planeta.

A despeito da falta de diplomacia na demora do reconhecimento de sua vitória, até agora os contatos entre governos ocorreram de forma cordial, com os americanos não passando recibo sobre a desfeita. Mas, recentemente, os recados começaram a chegar.

Imagem, Gabriela Bilo/Estadão.

Em 29 de março, o Departamento de Estado convocou jornalistas brasileiros para uma teleconferência  em Washington com um diplomata americano. Segundo Beatriz Bulla, correspondente do Estado, ‘o recado foi duro’.

“Queremos ver coisas tangíveis contra o desmatamento ilegal”, disse o diplomata americano, que pediu para ser identificado apenas como ‘integrante do Departamento de Estado’. “E queremos ver uma diminuição real ainda este ano, não esperar cinco ou dez anos.”

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Os avisos de Washington

Segundo a matéria, ‘o governo americano sabe que a forma de agir é uma decisão soberana do Brasil, mas sugere que eventuais sanções não estão descartadas’. Nada de novo. Desde o debate entre Biden e Trump sabe-se que esta seria a estratégia.

Beatriz diz que a equipe de Biden até admite ajuda através do Usaid, órgão de governo responsável pela distribuição de ajuda externa, mas quer mais. E registrou o que disse o integrante do Departamento de Estado sobre o pagamento com base em resultados:

“Noruegueses, alemães e britânicos começaram a examinar isso com bastante seriedade. Se o Brasil puder reduzir o desmatamento, e puder demonstrar que é um mecanismo eficaz para evitar o corte de árvores, então haveria pagamentos da comunidade global. Pagamentos sobre resultados. Não pagamentos adiantados, mas sim quando virmos as mudanças.”

Como frisa Beatriz, “nos bastidores, o governo americano demonstra que os sinais enviados pelo Brasil ainda são insuficientes para inspirar confiança.”

‘A construção da confiança’

A correspondente destacou outra declaração do diplomata americano que trata da construção da confiança entre os dois países.

“Se o mundo vai fazer um investimento para ajudar a combater o desmatamento, é preciso criar confiança. Não estamos dizendo como o Brasil precisa agir. Mas nos parece que há medidas que precisam ser tomadas. O que buscamos é clareza. É uma questão de construção de confiança. O mundo vai olhar e entender que o Brasil está avançando? Ou não?”

Destaques da entrevista de Ricardo Salles

Giovana Girardi começa lembrando Salles do encontro entre o diplomata acima citado e seus recados. E perguntou: diante da cobrança o que vocês pretendem levar ao EUA no encontro com Biden?

Salles: O Brasil reconhece que tem um problema do desmatamento ilegal e tem um plano para atuar. Não por causa de pressões estrangeiras, mas porque o governo decidiu estruturar esse plano em continuidade da Operação Verde Brasil 2, que termina no dia 30 de abril. A partir de 1º de maio começa uma nova fase, mais voltada às ações de Ibama, ICMBio, Polícia Federal, apoio da Força Nacional, Funai e Incra. As Forças Armadas continuarão dando suporte logístico, mas não o enfrentamento como está sendo feito. A cobrança deles faz parte. Mas entendemos que há uma inversão nessa posição de querer resultados primeiro e recursos depois. Por uma razão simples. O Brasil reduziu, e está certificado na UNFCCC (Convenção do Clima da ONU), de 2006 a 2017, 7,8 bilhões de toneladas de carbono. Disso, menos de 1% recebemos a título de Redd (mecanismo de compensação por desmatamento evitado). Se tem alguém que está devendo na frente aquilo que já foi feito… somos nós os credores.

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Somos nós os credores?

A declaração sinaliza problemas na reunião de 22 de abril. Mas não foi a única declaração preocupante.

O plano brasileiro para conter o desmatamento

O ‘ministro’ explicou à Giovana o plano que levará.

“O plano é US$ 1 bilhão por 12 meses, sendo um terço para ações de comando e controle, e dois terços para as ações de desenvolvimento econômico, pagamento por serviços ambientais, justamente nesses lugares onde haverá atuação mais forte do comando e controle. Dando a essas pessoas que serão fiscalizadas nessas regiões, que sofrerão as fiscalizações mais intensas, uma alternativa econômica para que não seja tão convidativo voltar à ilicitude.”

Giovana insistiu: E se não tiver o dinheiro, o desmatamento não vai cair? Salles respondeu que sem dinheiro não pode se comprometer com metas.

Então, a jornalista rebateu com outra pergunta que nos pareceu o ponto alto da entrevista ao expor a fraqueza do plano que se baseia apenas em cobrar os outros: O Brasil não tem, então, meta própria de redução de desmatamento, que não seja dependente de recurso externo?

A resposta foi insípida, como tem sido a ação do governo na questão ambiental desde antes da posse. O governo cisma em não reagir por si só  sobre as ilegalidades cometidas na Amazônia como desmatamento, queimadas, garimpo e grilarem de terras. Ao contrário, estimula. É pela convicção em não mudar que tememos pelo fracasso do encontro de abril.

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“Nesse momento, os países de fora precisam ser cobrados.  Os EUA, o presidente Biden – e acho que foi bom, não vejo com maus olhos – falou em mobilizar US$ 20 bilhões. Estamos pedindo US$ 1 bilhão dos US$ 20 bilhões.”

O ‘ministro’ do adorador de cloroquina e sua arrogância descabida

Depois de quase destruir a última reunião da ONU sobre o clima, a COP 25, com este mesmo argumento, cobrar os outros países, e ganhar a antipatia mundial, o ‘ministro’ segue  arrogante: ‘Nesse momento, os países de fora precisam ser cobrados.’

Um governo desnorteado

É preciso que todos façam suas partes. Países ricos, e os em desenvolvimento. Agora, cobrar os ricos com uma mão, e com outra estimular a ilegalidade, leva à consolidação da posição que conquistamos, pária. Salles já levou garimpeiros ilegais para conversar em Brasília.

E mais recentemente, entrou em choque com o chefe  da Polícia Federal do Amazonas, Alexandre Saraiva, em razão da maior apreensão de madeira da história que aconteceu no Pará. Salles esteve no local da apreensão, e disse que ‘viu erros na investigação’. Segundo o ‘ministro’ da passagem da boiada, ‘há elementos para acreditar que as empresas investigadas estão com a razão’.

Segundo a Folha, ‘Saraiva disse na entrevista que era a primeira vez que via um ministro de Meio Ambiente se manifestar de maneira contrária a uma ação que visa proteger a floresta Amazônica’.

Nada de novo no front…

‘Na Polícia Federal não vai passar a boiada’

A  Folha de S. Paulo entrevistou Saraiva que disse ‘que na PF não vai passar a boiada’. Ou seja, é um governo sem norte, que não se entende nem mesmo entre seus pares. Que diria com governos estrangeiros.

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A Folha, no editorial Cobrança Ambiental, foi feliz ao explicar que a obsessão de Salles não se sustenta. Diz o jornal, ‘quando propôs suas metas em 2015 o Brasil deixou explícito o caráter incondicional delas. No ano passado, porém, ao apresentar a atualização dos objetivos, aquilo que era claro tornou-se ambíguo. Introduziu-se uma menção ao recebimento de recurso externo para ‘fazer frente aos numerosos desafios’ na área ambiental’.

E prossegue, ‘ocorre que pelas regras do acordo, o país não poderia passar a condicionar agora suas metas, pois isso representaria um retrocesso das próprias ambições climáticas, infringindo um dos princípios fundamentais do tratado’.

Antes de cobrar os outros, seria de bom tom fazer a lição de casa dotando o Ibama e o ICMBio de condições mínimas para cumprirem seus objetivos. Mas aconteceu exatamente o contrário. Salles desqualificou a equipe inúmeras vezes,  trocou técnicos concursados por militares. E não mexeu uma palha para preencher as vagas em aberto nos dois órgãos.

A continuar no modo todos-têm-culpa-menos-nós, é provável que a reunião de abril sinalize o primeiro atrito  com o novo governo americano. E o País não tem nada a ganhar ao afrontar a nação mais poderosa do mundo com quem sempre teve boas relações.

O único ponto positivo será o epílogo da era Salles, o ministro ‘casado com o agronegócio’. O Centrão, que botou pra fora o chanceler negacionista, fará o mesmo com ele. Será um arrogante a menos. Ainda que a política ambiental não mude, fruto da mente tosca de Bolsonaro.

Mas será um alivio quando Salles fizer as malas.

A conferir.

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Aqui a íntegra da entrevista de Giovana Girardi.

Imagem de abertura: Gabriela Bilo/Estadão

Fontes: https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,salles-promete-reduzir-desmatamento-da-amazonia-em-40-se-brasil-receber-us-1-bi-dos-eua,70003669383; https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,governo-biden-cobra-de-bolsonaro-compromisso-claro-contra-desmatamento,70003664205; https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2021/03/cobranca-ambiental.shtml; https://br.noticias.yahoo.com/mour%C3%A3o-elogia-delegado-que-criticou-200500912.html.

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