Praias paulistas e o eterno problema da poluição
A matéria saiu no Estadão de 23/12/16, e aponta que uma, em cada quatro praias paulistas, passa a maior parte do ano sem condições de banho. Convenhamos, no país de Macunaíma isso não é novidade. Assinada por Fábio de Castro, a matéria diz que
Quem viajar neste fim de semana para a Baixada Santista e para o litoral norte encontrará apenas 27 das 166 praias monitoradas pela Companhia Ambiental de São Paulo (Cetesb) em condições impróprias para banho – o equivalente a 16%. No entanto, em boa parte delas a poluição é uma rotina, mesmo quando a coleta e tratamento de esgoto são excelentes.
O Estado ouviu especialistas. Para eles,
a melhoria da balneabilidade das praias depende da redução das ocupações irregulares
O Mar Sem Fim cansou de alertar: o litoral do país está ao deus- dará
O Mar Sem Fim não se cansa de dizer que nosso litoral, o do Brasil, não apenas o de São Paulo, está ao deus- dará, na mão de especuladores, sem qualquer proteção mesmo em áreas (des) protegidas, as famigeradas Unidades de Conservação do bioma marinho.
Matéria do Estadão e as praias paulistas
A matéria do Estadão informa que,
PUBLICIDADE
A ampliação da rede de esgotos e da coleta de lixo nos municípios do litoral paulista, nos últimos anos, vem melhorando gradualmente a qualidade das praias. Mas em muitas delas, todos os esforços e investimentos foram insuficientes. Nos 12 municípios praianos da Baixada Santista e no Litoral Norte, pelo menos 13% dos 166 pontos monitorados pela Cetesb ficaram impróprios para banho nas quatro últimas semanas de avaliação, indicando uma poluição persistente
Quatro milhões de turistas são esperados este ano nas praias paulistas
Segundo o jornal,
Leia também
Vicente de Carvalho, primeiro a dizer não à privatização de praiasVila do Cabeço, SE, tragada pela Usina Xingó: vitória na JustiçaInvestimentos no litoral oeste do Ceará causam surto especulativoDos 4 milhões de turistas esperados para este verão, 3 milhões deverão procurar as praias da Baixada Santista, que concentram a maior parte dos pontos rotineiramente impróprios para banho. A pior situação é a das praias de Santos, São Vicente e Praia Grande: esses três municípios da Baixada Santista concentravam 16 das 27 praias avaliadas como impróprias para banho no dia 11 de dezembro, conforme o último boletim da Cetesb divulgado até o fechamento desta reportagem
Os especialistas ouvidos pelo Estadão confirmam a impressão do Mar Sem Fim
Para eles,
apesar da grande pressão do fluxo de turistas na alta temporada a origem do problema está na crescente ocupação irregular da faixa litorânea.
Flávia Maria Gonçalves, do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio ambiente (Gaema) da Baixada Santista, ouvida pelo jornal diz que,
O principal fator que afeta a balneabilidade das praias é a ligação clandestina de esgotos na área urbana. O esgoto não tratado acaba indo para as redes pluviais, para os corpos d’água e, de uma maneira ou de outra, termina poluindo a praia
O Estado destaca a contradições do poder público
Muito bem feita, a matéria mostra as terríveis contradições do poder público que maltrata o litoral do Brasil. Santos é um ótimo exemplo. Segundo Alceu Galvão, que coordenou outra pesquisa do Trata Brasil, sobre saneamento em áreas irregulares, ouvido pelo jornal,
PUBLICIDADE
Santos é um bom exemplo de que não adianta equacionar apenas o problema do lixo e do esgoto apenas nas zonas formalmente constituídas
Antes o jornal informou que
uma pesquisa realizada pela ONG de saneamento Trata Brasil, por exemplo, mostra que a cidade de Santos é a quinta melhor em saneamento no Brasil, com 100% de coleta 98,5% do esgoto tratado
Mas, sempre tem um mas…
esses números levam em conta apenas as moradias regulares e não os assentamentos ilegais – e as praias da cidade estão frequentemente impróprias
O engenheiro Alceu Galvão, que coordenou outra pesquisa do Trata Brasil informa que,
Santos tem 51,7 mil pessoas em áreas irregulares, cerca de 12% da população. Mas o Guarujá, cidade vizinha, tem mais 153,7 mil pessoas em moradias precárias, o que corresponde a 49,4% da população
PUBLICIDADE
Os mangues pagam a conta, sempre eles…um dos mais importantes ecossistemas marinhos
Prossegue o engenheiro Alceu Galvão, ouvido pelo Estado:
Uma das comunidades que visitamos e estudamos foi Santa Cruz dos Navegantes, no Guarujá. As 285 residências da comunidade estão localizadas em área de mangue e não há coleta e tratamento de esgotos. O destino mais comum dos esgotos é o lançamento direto no rio ou no próprio mangue
Alexandre Nunes, gerente executivo do do Santos e Região Convention & Visitors Bureau, também ouvido pelo jornal destaca a incoerência:
A coleta de lixo e o tratamento de esgoto estão muito bem na região. Mas para resolver definitivamente esses os ambientais será necessário enfrentar essa questão social delicada da remoção de famílias de áreas de risco e do congelamento das comunidades em favelas
O poder público não age quando ocorrem as ocupações ilegais. Depois, todos pagamos a conta.
Litoral Norte é o maio problema destaca o Estadão
De acordo com a matéria,
O litoral Norte tem sistemas de saneamento menos desenvolvidos e sofre com a crescente pressão populacional, com a contínua ocupação precária em áreas de preservação. No último domingo, 18, havia 14 praias impróprias na região: Armação, Portinho e Itaguaçu (Ilhabela), Pontal da Cruz e Preta do Norte (São Sebastião) e Itaguá, Perequê Mirim, Lázaro e Itamambuca (Ubatuba). Somente em Caraguatatuba todas as praias estavam em condições para o banho
PUBLICIDADE
Maresias, ícone dos ricos paulistas, não tem qualquer rede coletora de esgotos
André Motta Waetge, da Associação Amigos Canto do Moreira (AACM), outro que foi ouvido pelo jornal destacou:
Se não temos rede coletora e nem uma estação de tratamento, fatalmente o esgoto acaba sendo despejado clandestinamente no mar, pelos dois rios que se encontram com o mar
Apesar de investimentos de 1,5 bilhões, persistem os problemas
O jornal mostra que,
o Programa Onda Limpa, iniciado em 2007, já construiu mais de mil quilômetros de redes coletoras de esgoto nos municípios do litoral, possibilitando 120 mil ligações, mas parte delas não foi realizada. Foram investidos cerca de R$ 1,5 bilhão na primeira etapa
E assim, de pouquinho em pouquinho, os mares do planeta estão no limite de sua resiliência. Poluídos por esgotos não tratados, fertilizantes usados na agricultura em vales de rios que deságuam no mar, oito toneladas do plástico vazando para os oceanos a cada ano, crescem as zonas mortas, e diminuem os ecossistemas marinhos.
Por isso o Brasil precisa acordar, e cumprir os compromissos internacionais que assina como as metas de Aichi. É urgente a criação do novas Unidades de Conservação no mar e na zona costeira.