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Plásticos: perigo grave, crescente, para a saúde

Plásticos: perigo grave, crescente, para a saúde

O plástico representa um perigo grave. E cada vez maior. Um risco subestimado para a saúde humana e para o planeta. Ele causa doenças e mortes da infância à velhice. E gera perdas econômicas com saúde que passam de US$ 1,5 trilhão por ano. Os mais atingidos são os pobres e populações vulneráveis. O motivo principal dessa crise é o avanço acelerado da produção. Em 1950 eram 2 megatoneladas. Em 2022, 475. A projeção para 2060 é de 1.200 Mt, e menos de 10% é reciclado. Os dados estão em um novo estudo, publicado na revista The Lancett. O trabalho repercutiu muito lá fora. Mesmo assim, o alerta não bastou. A sexta rodada de negociações do tratado da ONU sobre plásticos, em Genebra, fracassou.

plástico no meio ambiente
Imagem, UNDP Armenia.

Acordo de Paris do Plástico

Faz anos que o clube da ONU tenta criar um tratado vinculativo, aos moldes do Acordo de Paris, para o plástico. A reunião de 2025, a sexta, aconteceu em Genebra durante o mês de agosto e mais uma vez fracassou. Como sempre, o principal motivo foi a recusa dos países produtores de petróleo de aceitarem qualquer restrição à produção.

O site do Global Plastics Treaty revela que produtos químicos usados na produção do plástico invadiram nosso corpo. São produtos que incluem o bisfenol A. Este produto  pode mimetizar e alterar a ação de hormônios no corpo, causando efeitos negativos na saúde reprodutiva, desenvolvimento e contribuindo para outros problemas como infertilidade e certos tipos de câncer.

Bisfenol A

Apenas um produto químico, o BPA (bisfenol A), foi associado a 237.000 mortes por doença cardíaca isquêmica e 194.000 mortes por acidentes vasculares cerebrais em todo o mundo, de acordo com o estudo, liderado por Maureen Cropper, da Universidade de Maryland.

O relatório revela ainda aspectos pouco conhecidos do plástico, como por exemplo o fato do material usar mais de 16 mil produtos químicos em sua fabricação, 4.200 dos quais já se sabe que são prejudiciais à saúde.

O estudo descobriu que fetos, bebês e crianças pequenas eram altamente suscetíveis aos danos associados aos plásticos, com exposição associada ao aumento dos riscos de aborto espontâneo, natimortos prematuros, defeitos congênitos, crescimento pulmonar prejudicado, câncer infantil e problemas de fertilidade mais tarde na vida.

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‘O plástico é o grande viajante do nosso tempo – e onde quer que vá, deixa um traço tóxico. Para proteger todos, em todos os lugares, precisamos de regras globais e financiamento real para parar o dano.

Plásticos: perigo grave e os impactos na saúde humana

“O impacto dos plásticos na saúde humana tem sido uma questão adormecida em comparação com as mudanças climáticas e a poluição do ar, mas agora estão surgindo evidências para mostrar o quão sério é”, disse o principal autor do relatório, Philip Landrigan, diretor do Observatório Global sobre Saúde Planetária do Boston College.

Segundo o estudo,  os problemas de saúde causados por apenas três produtos químicos amplamente utilizados em plásticos custam um total de US$ 1,5 trilhão em um ano em 38 países, cobrindo um terço da população mundial.

Microplástico pode tornar bacterias um superbacterias resistentes a medicamentos

Como se não bastassem os problemas, um corpo crescente de novas pesquisas mostra que os microplásticos podem alimentar a resistência antimicrobiana – o fenômeno em que os patógenos se adaptam para suportar drogas, tornando-se um desafio para tratar infecções.

Em uma revisão de pesquisa de agosto, os cientistas chamaram a atenção para o “tsunami silencioso” da resistência aos antibióticos impulsionada pelos plásticos. Vários outros artigos recentes sugerem que os microplásticos servem como melhores lares para patógenos do que algumas substâncias naturais, embora os mecanismos não sejam totalmente compreendidos.

Trump bombardeou as regras do tratado

De acordo com o Plastic Pollution Coalition, quando as negociações começaram em Genebra, o governo Trump teria divulgado um memorando descrevendo sua recusa em apoiar o que considera limites “impraticáveis” à produção de plásticos e proibições ou restrições a aditivos e produtos plásticos.

A mesma fonte disse ainda que mais de 100 países apoiam um limite global na produção de plástico. Além disso,  mais de 400 empresas – de marcas locais a multinacionais – assinaram a Champions of Change, uma iniciativa liderada pelo Greenpeace, Plastic Pollution Coalition e Break Free From Plastic, pedindo um limite de produção e um fim aos plásticos de uso único. E 81% dos eleitores dos EUA também apoiam a redução da produção de plástico.

Para o Plastic Pollution Coalition, os EUA têm historicamente possibilitado a produção de plásticos baratos ao subsidiar a indústria de combustíveis fósseis, que alimenta a produção de plástico, com mais de 98% dos plásticos atualmente fabricados a partir de gás, petróleo ou carvão. O governo Trump está ativamente desregulamentando essas indústrias, e muitos estados aprovaram políticas pró-combustíveis fósseis e pró-plásticos, com alguns governos locais acolhendo o desenvolvimento industrial de combustíveis fósseis e plásticos em detrimento da saúde e da vida de seus eleitores.

A força dos países produtores de petróleo

Isso demonstra a força dos países produtores de petróleo. Ela já era poderosa antes de Donald Trump assumir pela segunda vez a presidência. Atualmente, os EUA são os maiores produtores de petróleo do mundo. Com isso, o lobby dos países produtores é capaz de barrar tanto o tratado de plásticos, como aconteceu, como também fazer fracassar qualquer tentativa que venha da COP30 já enfraquecida pelo déficit hoteleiro de Belém.

Brasil fica em cima do muro

A propósito, o Brasil ficou em cima do mudo na reunião de Genebra, reconheceu o problema ambiental gerado pelo plástico, mas sem se comprometer com tratados que limitam a produção.

O mundo vai ferver e quem vai pagar a conta são as futuras gerações.

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